Autor: João Batista Stabile
A humanidade está em constante evolução, é natural que seja assim a
tecnologia também, e tem facilitado muito a vida moderna em todos os sentidos
em contra partida tem gerado problemas de difícil solução que se não for
resolvido poderá comprometer seriamente a vida de todas as espécies no planeta,
a questão ambiental como o aquecimento global, o lixo, o esgoto e outros mais.
Dentre tantos fatores que mudaram completamente a nossa vida, vou citar
apenas um, a televisão.
Minha infância na fazenda até inicio da década de 1970, ninguém tinha
televisão, as pessoas chegavam a tarde da roça tomava um banho de bacia,
chuveiro de balde ou em alguns casos
apenas (si lavava), jantava ouvia radio AM eu me lembro que tínhamos um
velho radio de caixa de madeira que pegava muito bem rádios de São Paulo e
de outros estados, deve ser porque
naquele tempo tinha poucas rádios, não havia tantos sinais, ouvíamos programas
sertanejos.
Na colônia que eu morava, quase todas as noites o pessoal reuniam-se num
gramado em frente, cada um levava um saco de estopa vazio para sentar. Os
adultos homens e mulheres conversavam contavam casos e as crianças brincavam,
até no máximo nove horas da noite
horário que o fiscal batia o sino nove badaladas que significava silencio,
somente aos sábados e vésperas de dias santos isto é que ninguém trabalharia no
outro dia aí o sino não tocava e teoricamente havia liberdade para
entretenimento até mais tarde.
Já que falei em sino, vou contar algumas coisas sobre isso. Havia
antigamente nas fazendas um sino que ficava geralmente junto à casa do fiscal,
este servia para a comunicação com todos os empregados, pois quando soava ouvia-se em qualquer lugar que tivesse da
área habitada ou seja das colônias, além de avisar que era hora de ir descansar (não era obrigatório e sim
simbólico) para o trabalho no outro dia,
servia também como sinal de alerta que era usado em caso de incêndio em
qualquer parte da fazenda.
Lembro-me quando criança de ouvir-mos à noite o sino tocar
aceleradamente, às vezes estávamos já deitados, mas todos sabiam o que
significava. Meu pai levantava vestia uma roupa, calçava o sapatão de serviço, pegava uma ferramenta, enxada ou
foice ou as duas e saia.
Minha mãe e nós meus irmãos e eu saiamos na porta da casa e já víamos os
outros homens da mesma forma saindo de suas casas para cumprir o dever de todos
que era independente do dia ou da hora dirigir-se imediatamente ao local do
incêndio, que dependendo da distancia de casa dava para ver o clarão das
chamas, às vezes era longe porque a fazenda era grande ou então era em outra
fazenda pois o dono tinha outras
fazendas da região.
Depois quando eu já era jovem tive a oportunidade de participar destas
tarefas algumas vezes.
Sempre tinha uma ou duas vezes ao mês terço em alguma casa a noite, fora
aqueles em dias de festa, por promessa ou para agradecimento a algum santo. Aos sábados ocasionalmente
tinha um bailinho em alguma casa da colônia, onde colocava uma vitrola que
chamávamos de sonata com alguns discos antigos e o povo dançava
homens e mulheres, rapazes e moças.
Nestas ocasiões sempre circulava um litro de pinga com uma xícara de louça
para os homens tomar um traguinho. Era gostoso e havia respeito era um ambiente
familiar, os jovens aproveitavam para namorar. A dança ia até aproximadamente
duas ou três horas da madrugada nunca
mais que isso.
Outro costume que havia, e esse eu já jovem fiz muitas vezes, era aos
sábados jogar truco, em quatro ou seis pessoas, aqui também sempre estava
presente o litro de pinga com a xícara
de louça, que ficava no pé da mesa ao alcance do dono da casa que de vez em
quando parava o jogo para uma rodada de pinga.
Outra coisa que era comum não só nas fazendas mas também na cidade, era
os homens fumar, não se tinha consciência dos malefícios do tabaco, os meninos
começavam a fumar muito cedo, foi o caso do meu irmão e eu. Então quando íamos jogar
truco, já fazíamos um cigarro de fumo de corda e palha de milho já bem grande
para não perder tempo fazendo depois que começava o jogo.
Esse jogo começava sempre após a janta, por volta das oito horas da
noite e ia até aproximadamente duas ou
três horas da madrugada.
Aos domingos muitos iam à cidade, que chamávamos simplesmente de (vila),
alguns iam a missa como meu pai e eu ia muitas vezes com ele, os jovens ficavam
passeando no jardim em frente a igreja paquerando, os mais velhos conversando,
sempre encontravam algum amigo que morava em outra fazenda, ficávamos até umas
dez horas ou pouco mais e depois íamos embora.
Com a entrada das televisões na década de 70 nas colônias, os costumes
foram aos poucos mudando, como era novidade todos ficavam ansiosos para
assistir aos programas, novelas, filmes e infelizmente as famílias e vizinhos
já quase não se reuniam mais para bater papo, mas para assistir televisão.
Os terços, bailinhos e jogo de truco continuaram ainda, mas tornaram-se
mais raros.
Com a decadência da cafeicultura na região no final desta década, aos
poucos as famílias foram mudando para a cidade, nós também mudamos em 1982,
depois de mais alguns anos já não havia mais lavoura de café na fazenda, apenas
gado.
Mais para frente à fazenda foi dividida, parte ficou para um herdeiro do velho fazendeiro e
a parte que ficava a sede e tudo ao em torno e as colônias foi vendida.
Hoje já não existe mais nada, a sede foi transformada não tem mais o
terreirão, o secador e a máquina de beneficiar
café, também não tem o rancho das carroças e dos carros de boi com suas
mangueiras para os animais.
Das colônias não se vê nem vestígios, quem passar por lá nem imagina que
naquele local havia três colônias grandes que viviam ali muitas famílias.
Quantas histórias de vidas de felicidades e tristezas, como eu quantas
pessoas lá nasceram e foram criadas,
muitos vieram de fora passaram um tempo e foram embora novamente, alguns lá
morreram.
De tudo isso como eu já disse antes não há nem sinal, existe apenas na
lembrança daqueles que viveram, amaram como eu, aquele pedaço de chão, minha
terra natal.
Autor: João Batista Stabile - Marília/SP
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=111693
Publicação autorizada pelo autor
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2 comentários:
Seja bem vindo ao blog, João.Vai gostar de publicar seus contos aqui. Gandavos é um lugar onde encontrei grandes amigos e tive a oportunidade de publicar meus textos em um livro.
Deliciosas memórias, João! Parabéns pelo texto.
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