terça-feira, 3 de junho de 2014

Texto: 17 (do concurso) - O gato de Donana

Helena era uma garotinha de olhos verdes e cabelos loiros encaracolados. Seus pais a deixavam sob os cuidados de uma tia-avó. Essa tia morava em um sítio próximo a um povoado onde o pai de Helena era comerciante e a mãe, funcionária pública.
No sítio, viviam a viúva Donana, suas duas filhas e o arisco gato Mimi. A filha mais velha trabalhava no povoado. A filha caçula, uma moça extrovertida e bonita, foi passar férias na Bahia, conseguiu um pretendente, casou-se e mudou para aquele estado. 
Donana criava galinhas, vendia as frutas do sítio ou as aproveitava para fazer doces, vendia algodão e mamona para as beneficiadoras da capital. Na época das chuvas, também plantava feijão e milho.
Mimi era o único macho da casa, se achava um rei. Não demonstrava a menor afetividade por ninguém. Sua pelagem era rajada e seu tamanho era exageradamente grande em comparação com os gatos da vizinhança. Além de bonito, era exímio caçador, vivia no encalço de calangos, passarinhos e ratos. Era comum vê-lo no terreiro da casa devorando suas caças. Ele tinha uma cadeira sempre forrada com um pano e ali nenhum humano podia se sentar. Se algum desavisado sentasse no trono do rei, logo ele miava e roçava as pernas da pessoa como quem diz: “esse lugar é meu”.  Às vezes, ele dormia na sala de jantar em cima de um móvel em que a louça era guardada. Mimi gostava de dormir, ouvindo sua dona cantar. Com uma voz afinada, Donana cantava valsinhas enquanto se ocupava dos afazeres domésticos.
Quando Helena completou sete anos, foi com uma tia conhecer a capital. Era sua primeira vez em uma cidade grande e diante do mar. Porém, a saudade do sítio falou mais alto, ela sentiu falta da adorada Dona Ana, de suas deliciosas comidas e do Mimi. Era tanta saudade que a menina sonhava com o gato e com o cenário de suas brincadeiras. Quando finalmente retornou, entrou em casa correndo. Pediu a bênção para sua mãe e foi ao encontro de Mimi, que dormia sobre o móvel da sala de jantar. Na hora que Helena o abraçou, ele ficou irritado e deu nela uma patada, ferindo o braço da menina. Ela ficou perplexa, sem entender aquela reação. Ela só queria lhe dizer que sentiu sua falta e lhe dar um afetuoso abraço.
Passado o susto, a vida transcorreu mansamente. Às vezes, apareciam no sítio os netos e o afilhado de Donana, o menino Miguel. Eles moravam no povoado e gostavam de ir lá pegar frutas ou ganhar alguma guloseima. Também tentavam, sem sucesso, aproximar-se do arredio Mimi.
Até que um dia Mimi apareceu morto. Helena ficou sentida com a morte do bichano com que ela convivera desde filhote. Resolveu que ele teria um sepultamento digno. Reuniu seu irmão, seus primos e Miguel. Eles fizeram uma cova enquanto a menina construía uma cruz de gravetos e colhia flores silvestres. Quando tudo estava pronto, os adultos pararam suas atividades e ficaram observando a meninada da porta dos fundos. O cortejo fúnebre seguiu. Helena chorava e os meninos riam, o que a deixou muito brava. Donana interveio pedindo para os meninos se aquietarem. E, assim, Mimi foi sepultado, com a cruz e as flores silvestres.

8 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao autor ou autora. Excelente texto. O gato de Donana me cativou. Adoro isso: texto simples, tempero popular... e dá gosto de ler, num dá pra largar no meio. Literatura pura. Esse é um texto que agrada a todos os gostos, coisa de quem sabe escrever. Um abraço: Carlos Pinto

Anônimo disse...

(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: se há erros graves desta natureza não percebi durante a leitura. A história começou bem, chegou na metade meio sem saber para onde levava, mas foi salva no final pelo desfecho engraçado. Um relato simples e relativamente agradável de se ler. Parece estar dentro da proposta do concurso (observando o requisito de demonstração de afeto pelo animal). Avaliação pessoal: bom. Parabéns à autora ou ao autor e boa sorte! (Torquato Moreno)

Anônimo disse...

Não fugindo à característica mais arredia dos bichanos, eis bem traçado o perfil de Mimi. Cruz e flores silvestres para o Rei, muito interessante o final. Parabéns. Marina Alves.

Anônimo disse...

Lendo seu texto, me veio a lembrança lindas mangueiras de um velho sítio, onde tive uma infância simples,perfumada pelas mangas rosas e feliz.
Adorei! Parabéns!
Flávia Epaminondas

Anônimo disse...

Merecido cortejo, tal qual era o gato: toda pompa que merece um rei!
Gostei um tanto. Parabéns.
Audrey Kajiwara

Jorge Remígio disse...

Olá! prima.Você me emocionou. Foi uma volta ao passado numa velocidade meteórica. Me vi pequeno e sentindo cheiro de goiaba, manga e cajus. Vi até beldroegas brotando aos montes ao redor da lagoa encantadora. Quantas e quantas vezes os primos se reuniam em sua margem para brincar de galinha d'água ao som dos sapos coaxando. Adoro os seus escritos prima. Me tocam profundamente. Me atrevo as vezes escrever alguma coisa que vivenciei. Me esforço para registrar minhas memórias. Coisas lindas você escreveu. Escreveste parte de nossa tenra e feliz infância. Sou grato por isso prima. Abraço fraterno

Jorge Remígio disse...

Olá! prima.Você me emocionou. Foi uma volta ao passado numa velocidade meteórica. Me vi pequeno e sentindo cheiro de goiaba, manga e cajus. Vi até beldroegas brotando aos montes ao redor da lagoa encantadora. Quantas e quantas vezes os primos se reuniam em sua margem para brincar de galinha d'água ao som dos sapos coaxando. Adoro os seus escritos prima. Me tocam profundamente. Me atrevo as vezes escrever alguma coisa que vivenciei. Me esforço para registrar minhas memórias. Coisas lindas você escreveu. Escreveste parte de nossa tenra e feliz infância. Sou grato por isso prima. Abraço fraterno

Jorge Remígio disse...

Olá! prima.Você me emocionou. Foi uma volta ao passado numa velocidade meteórica. Me vi pequeno e sentindo cheiro de goiaba, manga e cajus. Vi até beldroegas brotando aos montes ao redor da lagoa encantadora. Quantas e quantas vezes os primos se reuniam em sua margem para brincar de galinha d'água ao som dos sapos coaxando. Adoro os seus escritos prima. Me tocam profundamente. Me atrevo as vezes escrever alguma coisa que vivenciei. Me esforço para registrar minhas memórias. Coisas lindas você escreveu. Escreveste parte de nossa tenra e feliz infância. Sou grato por isso prima. Abraço fraterno