A velha senhora, Dona Leonete, agora vivendo
na cidade grande, no outono de sua vida, tinha como alegria permanente,contar
histórias de seu tempo de menina para os netos. Uma das historias foi a do seu
amor pelo bode Calibu, um belo exemplar caprino, que lhe dera muitos prazeres
inocentes. Com os olhos semi cerrados, ela voltava ao passado e se via menina
sapeca fazendo artes naquele findão de mundo que era o seu mundo. Assim ela
começou, diante de olhos e ouvidos atentos dos netos.
“Até meus nove anos de idade, meus pais e minhas
irmãs morávamos em um sítio enorme, no povoado chamado Igarapé-Açu-de
Cima, próximo a Vila de Irituia, hoje uma bonita cidadezinha no norte do Pará. No
sitio tínhamos árvores frutíferas, patos, galinhas, porco, perus e
pombos. Minha mãe cuidava da casa e das criações e meu pai tinha um
pequeno armazém de secos e molhados, único no povoado.Nunca nos faltou
alimento, as criações garantiam galinha à cabidela, torresmo, pombos assados,
ovos de perua e outras delicias. Tínhamos também um belo igarapé onde
tomávamos banho, lavávamos roupas, louças e de onde utilizávamos
água para beber. Entre as criações havia alguns caprinos, entre os quais o
chefe do grupo, o bode Calibu. A companheira de Calibu, garantia o leite diário
para a família. Com esse leite meu pai fazia um saboroso mingau de farinha
dágua com ovos quebrados dentro. Uma delicia, além de substancioso. Calibu era
nosso companheiro de travessuras e quando embrenhávamos pelo mato, ele nos
acompanhava, como se fosse nosso guardião. Nòs tínhamos um amor muito
grande por ele e pela família, mas ele era o nosso xodó. Em nossa casa, havia
uma espécie de mezanino caboclo onde meu pai guardava mercadorias e
cujo acesso era por uma escada rústica. O nosso amigo Calibu era manso e por
casa dessa mansidão, principalmente eu, adorava puxar sua longa barbicha, faze-lo
de montaria e segurar-me nos seus chifres enormes. Durante algum tempo
ele suportava os puxões, mas passado o tempo da paciência, ficava furioso, me
derrubava no chão e tentava me atingir com os chifres. O que eu fazia? Subia para o mezanino caboclo para minha proteção. Calibu
ficava no pé da escada espumando de raiva, esperando que eu
descesse. E quem disse que eu descia? Só quando ele cansava e ia
embora.Pois bem uma bela manhã, eu estava brincando com minhas bruxas de
pano, quando minha irmã mais velha veio correndo e gritando:
-Mana, vem ver! O Calibu morreu!
-Morreu? Como? Eu não acredito. Morreu de quê?
- Vem ver! Ele tá na beira do igarapé, inchado que
nem um balão!
Corremos para lá e vimos o nosso amigo mortinho da
silva.
Ficamos sabendo por nossa mãe, que Calibu
comera mandioca braba deixada por um dos trabalhadores do sitio, por descuido.
E mandioca braba é veneno.
Foi choro de não mais acabar. Não podíamos
acreditar que nosso amigo morrera. Pedimos ao nosso pai que fizesse o
enterro de Calibu, como se fosse gente. Meu pai atendeu e depois disso, todos
os dias íamos na sepultura dele levar flores e galhos de plantas para
deixá-la enfeitada.
Meu pai ficou muito penalizado não só por
nós, como pela dificuldade de conseguir outro bode para fazer a cobertura
da viúva caprina, garantir filhotes e o leite para o alimento da família.
Tanto procurou que conseguiu outro animal vindo do nordeste,
para a nossa felicidade em tempos de meninice. E a historia
recomeçou com as nossas atanazações com o nosso novo companheiro que passou a
chamar-se de Capitão."
As crianças ficaram admiradas das traquinices
da avó e perguntaram se havia outras parecidas.
-Sim, respondeu a avó. Ma isso fica para
outra noite. Abençoou os netos e foi dormir.
4 comentários:
Excelente texto. Quando você escrever sobre "Capitão" compartilhe conosco, urbanos entediados com o burburinho da cidade grande e escravos dos engarrafamentos. Parabéns
(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: se há erros graves desta natureza não percebi durante a leitura, mas precisa de pequena revisão. Lembra bastante a estrutura de histórias infantis, diga-se de passagem que escrever bons textos para crianças é sempre um grande desafio, pois está muito além das habilidades apenas narrativas. O texto é simples e parece estar dentro da proposta do concurso (observando o requisito de demonstração de afeto pelo animal). Avaliação pessoal: bom. Parabéns à autora ou ao autor e boa sorte! (Torquato Moreno)
Um texto muito gostoso de ler. Uma simpatia o Calibu. Parabéns! Marina Alves.
Texto muito bom, dentro dos parâmetros do concurso. Os pequenos deslises gramaticais serão facilmente contornados. Parabéns a quem o produziu.
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