segunda-feira, 16 de junho de 2014

Texto: 44 (do concurso) - João Manteiga e o cachorrão amarelo

Numa bela manhã de outono, estava lá o “Seu” João Manteiga sentado num banco ao lado da grande porteira da Fazenda dos Macacos, no Capim Branco, interior mineiro, na companhia do seu cachorrão magro e  amarelo, quando veio buzinando um carro reluzente com chapa de cidade grande (Rio de Janeiro),  tendo ao volante um cabeludo de óculos escuros, colarzão no peito e pulseiras de metal nos dois punhos.
Assim que se aproximou, o cabeludo gritou ao “Seu” João Manteiga com toda autoridade desse mundo:-
“- Ô veio, abre a porteira que eu vou passar, tá ligado? ...” – no que o caipira, pitando tranqüilo o seu cigarrinho de palha, retrucou:-
“- Ah, moço, num pode passar não! É propriedade particular, sabe?... “
“- Olha aí, veio, ou você abre a porteira ou solto meu “Pit-Bull” daqui de dentro e ele vai acabar com esse cachorrão amarelo aí do seu lado! ...”
“- Não, moço, num posso abrir não. Já disse que é particular. Pode vortar pra cidade! ...”
“- Vou repetir mais uma vez, veio:- abre logo essa porteira que tou com pressa. Se não abrir, eu solto meu “Pit-Bull” assassino pra cima do seu cachorrão magro e amarelo. Parece mais um vira-latas!”
“- Olha, meu rapaz, já disse que num pode passar! É fazenda particular e num tamo esperando visita, viu? Faz favor, dá meia volta e vá embora! ...”
“- Pela última vez, abra ou solto meu cão assassino!” – bradou o cabeludo.
“- Ah, não solta não, por favor! Meu cachorrão amarelo é bravo, vai detonar com ele, sabe? Num solta não! ...”
“- Não vai abrir? Pois então que se dane! ...” – respondeu o “boy” , sacudindo as pulseiras do punho e abrindo a porta do carro, liberando o “Pit-Bull” assassino.
Quando seu cão partiu pra cima do cachorrão amarelo, espumando de ódio, o outro ergueu a pata dianteira e deu-lhe uma tremenda patada no peito, só uma! O “Pit-Bull” caiu duro e fedendo. O amarelo então cravou-lhe os dentes no pescoço e arrancou sua cabeça, espirrando sangue por todo o lado. Aí o cabeludo, pasmo, gaguejou:-
“- Ô veio, onde arranjou esse cachorro amarelo? Que raça é essa, sô? ...” – e o capiau, soltando fumaça do seu cigarrinho:-
“- Ah, num sei a raça não! Peguei ele dum circo que passou pelo Capim Branco, faz tempo, sabe? Foi abandonado. Ele tava muito magro e cabeludo, um cabelo muito grande na nuca, passando fome, fiquei com dó e cortei todo aquele cabelão. E tomei conta dele, ficou aqui na fazenda. Com a gente é manso mas com os outros é brabo que nem a peste! ...”

6 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o conto, criativo e com final surpreendente,afinal era um leão amansado.Conceição Gomes.

Anônimo disse...

Gostei do leão pelado,acabou com a festa do pitbull.

Maria Mineira disse...

Eita cachorrão amarelo! Eu simplesmente adorei esse conto!Divertido bem humorado! Parabéns ao (a) autor(a)

Anônimo disse...

(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: se há erros graves dessa natureza não percebi durante a leitura. O texto é muito bom, o causo é engraçado e está muito bem contado, o desfecho é ótimo, porém fiquei pensando em qual seria a reação de uma criança ao ler o penúltimo parágrafo. Um pouco menos de sangue e violência na descrição desta única cena talvez deixasse esta história no ponto para qualquer audiência, só uma sugestão. Não sei se estaria de acordo com a proposta do concurso. Lembrando que estou apenas comentando os textos sem compromisso. Avaliação pessoal: ótimo! Parabéns à autora ou ao autor e muito boa sorte! (Torquato Moreno)

Alberto Vasconcelos disse...

Ótimo texto. Um causo dos melhores já contados e dentro dos parâmetros do concurso. Parabéns a quem o produziu.

Marina Alves disse...

rsrs... Essa foi boa! E o boy que não dava nada pelo capiau e seu leãozinho, hein? Muito divertido o jeito de contar! Parabéns ao/a autor/a. Marina Alves.