quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pedro Maraváia - Texto de José Soares de Melo

Dentre as muitas figuras folclóricas que povoaram o mundo infantil de centenas de crianças custodienses, o mais famoso sem dúvida foi Pedro Maraváia. Branco, alto, já chegado nos anos, como todo doente mental tinha uma obsessão: sanfona. Jamais se afastava de um velho “oito baixos” que carregava sempre enrolado em sacos. Seu porte nada tinha a ver com as características físicas dos sertanejos, na sua maioria caboclos baixos, atarracados e morenos. Pedro, ao contrário era branco, olhos esverdeados, alto, enfim tinha muito mais o porte de um europeu do que de um sertanejo da ribeira do Moxotó. Adorava usar capa, e na ausência de uma, não se importava em agüentar o calor do sertão vestindo um capote grosso e quente. Tinha uma rivalidade com o Rei do Baião: é que ele sabia o velho Lua ganhava, como ele dizia, “rios de dinheiro”, enquanto ele tocava e ninguém lhe pagava nada.

Percorria várias cidades do Moxotó e Pajeú. Era visto com freqüência em Custódia, Sertânia, Iguaraci, Afogados da Ingazeira, etc. Não sei exatamente sua origem, porém sabe-se que era muito conhecido na região. Tanto que Maciel Melo, o grande compositor natural da cidade de Iguaraci, cita seu nome em uma de suas músicas.

Como todo doido, Pedro Maraváia era diariamente atacado pela molecada das cidades. Quando zangado, largava a sanfona e corria atrás de todos, atirando pedras a esmo, por vezes atingindo inocentes.

Lembro de Pedro Maraváia já nos seus últimos tempos de vida. Velho, alquebrado pelo tempo, já não corria atrás dos meninos. Mal se arrastava carregando seus trecos, sacos, sua sanfona, um lençol e um velho bastão, única ameaça a quem se atrevesse a lhe importunar.

Esse foi um dos personagens mais marcantes da infância de muitos custodienses. A exemplo de tantos outros, na sua demência certamente ajudava a formatar a paisagem das cidadezinhas do interior. Afinal, já se disse que toda cidade que se preze tem que ter seu “doido oficial”. Se Pedro Maraváia não era o doido oficial de Custódia, era mais ainda: era o Doido Oficial da Região, pois seu instinto aventureiro o levava a uma permanente peregrinação por sítios, fazendas, povoados e cidadezinhas do sertão.

Autor: José Melo - Custódia/PE


Publicação autorizada pelo autor

Um comentário:

Jussara Burgos disse...

Admiro a memória desse meu conterâneo. Zé Melo é uma pessoa que tem muitas histórias para contar. Continue nos presenteando com suas lembranças.