Cá estou eu diante de uma tela em branco tentando arranjar assunto para uma crônica que fosse interessante, diferente, engraçada, bem no estilo do Jabour, que eu já disse mais de uma vez que sou fã de carteirinha e taxa de manutenção em dia. Mas, o danado do prato principal que é o assunto, o objeto da crônica, não consigo vislumbrar no mais escondido recanto da minha mente.
Eu tenho uma técnica, que geralmente não falha, recorro ao velho e bom Dicionário, e folheando-o escolho uma palavrinha para dar o ponta pé inicial ao que eu gostaria de dizer, e a palavrinha que eu escolhi, foi casa. Vocês vão me perguntar? Casa, porque casa? E eu respondo, também não sei, bolas, mas foi a palavra que eu escolhi, assim meio como um acaso, e lá vai o que diz o Aurélio sobre essa palavra: Casa: “Qualquer construção, da mais humilde à mais suntuosa, destinada a habitação humana.” Isto é apenas um dos significados que encontrei, quando procurei a palavra no dicionário. Os verbetes são longos e tem um que diz assim: “Período de tempo, geralmente limitado a dezenas de anos; faixa: Ele já está na casa dos sessenta anos”. Pô, cara como é que ele adivinhou?
Mas eu digo bem do alto da minha vasta experiência, que casa é o lugar onde a gente se encontra, onde a gente encontra tudo que quer e precisa, a tesoura, o orégano, o livro, os ingredientes para fazer um sanduíche bem maluco. A casa é onde a gente pode andar de olhos fechados, de luz apagada. A casa é a cama sempre pronta para descansar as costelas, casa é o repouso, o silêncio. Na falta da casa que é essa, podemos brincar de casinha no meio do mundo. Desde que haja silêncio. O silêncio é uma casa sem paredes. Alguém já disse isto, eu acho que sem pensar muito bem.
Mas quem te falou que uma casa é silenciosa sempre? Tem dias que a cama range, o colchão resfolega, o chuveiro grita friamente por um novo, a roupa suja reclama no cesto o esquecimento, o texto não escrito, o macarrão não cozinhado, até o sono atrasado vira pesadelo.
Tem certos dias, que a gente sente vontade de virar bicho do mato, porque diante de tanta coisa, tanto barulho, ser bicho do mato é ser mais do que meia velha esquecida dentro do sapato.
E é justamente neste ponto da crônica, que se tenta achar uma frase de efeito, inteligente e engraçada para dar o toque final; Aquele toque, que deixa a pessoa que tem a paciência de ler, satisfeita por ter perdido o seu tempo.
Já perceberam que estou enrolando, porque ainda não saiu nada que preste dentro dessa cachola, e ai, eu uso o recurso mais sacana da língua portuguesa, termino com uma frase que não é minha, e também não faço a menor ideia de quem seja e diz mais ou menos assim: Eu falo a língua de quem se desespera e depois amansa, sem desacreditar que a vida é poliglota, e que nos entende e atende mesmo quando a estranhamos.
Bacana não. Tem bastante estilo, e pelo menos deu pra terminar.
Autor: Ciro Fonseca - Rio de Janeiro/RJ
Blog do autor: http://cirofons.blogspot.com/
Publicação autorizada através do e-mail de 10/10/2011
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