quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um sedutor em apuros

João Batista Stabile

Morava na fazenda um negro velho chamado seu Joaquim, vivia com sua mulher a dona Maria, estes moravam numa casinha de tijolos que ficava um pouco afastada da colônia, num cantinho atrás de um morro. Era um lugar aconchegante, a casinha era rodeada de fruteiras, bananeiras pés de manga, goiaba, jabuticaba, laranja e um grande pé de jaca.

No fundo do quintal tinha diversos pés de mandioca e uma horta toda cercada de bambu rachado.  Ao redor da casa e numa pequena área na frente havia flores de varias espécies, plantadas em latas, baldes velhos tinha também alecrim, arruda e até um pé de losna plantado num pinico velho, que dona Maria cuidava com muito carinho. Ainda no quintal logo perto da porta da cozinha tinha um poço e do lado a tabua de bater  roupa, no fundo depois da horta ficava um chiqueirinho com dois porcos de ceva e solto pelo terreiro tinha galinhas, patos e até gansos que faziam um barulhão danado quando chegava gente.
Seu Joaquim dizia que á muito tempo atrás tinha vindo do norte de Minas, para São Paulo trabalhar na lavoura de café, veio com a mulher e dois filhos pequenos, estes depois de casados quiseram voltar para Minas, ele não quis ir, pois era estimado do patrão e estava acostumado com a vidinha sossegada que levava ali no seu cantinho.
Os filhos foram embora, durante algum tempo trocaram umas cartas, mas era uma dificuldade danada, pois ele e a velha eram analfabetos, tinham que pedir para a filha do administrador para ler e responder as cartas. Com o tempo às cartas foram rareando e depois perdeu o contato de vez, não tinha nenhuma noticias a muitos anos.
Seu Joaquim apesar da idade avançada que ninguém, nem ele sabia quantos anos tinha, era forte e muito trabalhador, eu o conhecia desde pequeno porque fazia muitos anos que eles moravam na fazenda, já este tempo ele não trabalhava mais no café, era poceiro( furava poço de água) e fazia alguns remendos nas casas da colônia  quando precisava, porque era também um pouco pedreiro e carpinteiro.
Na fazenda era querido por todos e conhecido como seu Joaquim benzedor, ele benzia crianças de quebranto, de vento virado, benzia também irizipela e até bicheira em animais, não precisava nem levar o animal lá, era só indicar a direção que estava e podia deixar com ele em três dias não tinha mais nada.
Certa vez quando eu tinha uns dez ou onze anos, ele estava furando um poço no quintal da casa vizinha da nossa, ele passou alguns dias nesta tarefa, pois seu trabalho era muito bem feito, mas um pouco lento devido a sua idade, a criançada curiosa ficava sempre ali por perto para ver o serviço e ouvir seus causos.
Um dia na hora do seu almoço, estávamos dois amigos e eu conversando com ele, não tinha nenhuma menina por perto então ele contou-nos esta estória ou história não sei se é verdade ou não, vou contar da forma que escutei.
Disse ele que um dia coisa de mais de vinte anos atrás, chegou à fazenda um rapaz pedindo serviço, era um moço de aproximadamente vinte e cinco anos, alto forte branco de cabelos bem claros, notava-se que era descendente de europeu, dizia ele que vinha do Paraná, chegou sozinho foi falar com o administrador, disse que fazia de tudo, mas o que mais gostava era de fazer cerca de arame farpado.
O administrador precisava mesmo de uma pessoa assim, e também gostou do jeito do rapaz, que se apresentou muito educado, resolveu contrata-lo e mandou-o pegar sua trouxa e fosse morar numa casa que estava fazia na ponta da colônia.

De fato o rapaz era mesmo educado e muito trabalhador, o nome dele seu Joaquim nem lembrava, só sabia o apelido que era Polaco por ser branco, fez amizade rápido com o pessoal, mas depois de algum tempo perceberam que ele tinha um defeito, era metido a conquistador, gostava de seduzir as moças e mexia até com mulher casada. Bastava ser simpática que ele já achava que estava dando bola, por isso em pouco tempo ele se meteu em varias confusões por causa disso.

Diziam que uma vez ele desonrou uma moça o pai dela de vergonha foi embora da fazenda, outra ele seduziu uma mulher casada e o marido descobriu deu um coro nela e a mandou embora, mas depois com saudade resolveu perdoa-la e trouxe-a de volta para casa, e era motivo de zombaria dos companheiros longe dele é claro.

Uma tarde depois do serviço Polaco estava conversando com um rapaz que trabalhava junto com ele de ajudante fazendo cerca, quando passou com uma moringa de água na cabeça, vinda de uma bica que ficava logo a baixo da colônia, onde todos buscavam água para beber, uma linda morena, alta, cabelos pelo meio das costas, olhos negros, lábios carnudos e uns dentes certinhos e muito brancos.

Por ser muito simpática, passou e os cumprimentou sorrindo, bastou. Disse o sedutor.
- Nossa que mulher linda, com essa eu até casava.
- Rapaz não mexe que essa mulher é direita e o marido dela não é homem de brincadeira, você vai se dar mal.
- Que nada não existe mulher direita é só saber chegar.
- Bom depois não vá dizer que eu não te avisei.

A mulher que se referiam, era de uns trinta e cinco anos, tinha três filhos e era casada com o capataz do gado da fazenda. Este veio morar na fazenda ainda menino família de formadores de café, começou á namora-la quando eram adolescentes, depois de casado sua família foi embora e ele ficou. Era empregado de confiança responsável pelo gado da fazenda, homem de aproximadamente quarenta anos, muito honesto e trabalhador, amigo de todo mundo, mas era de pouca conversa e não tolerava coisas erradas.

Ajudando-o na lida do gado trabalhava seu cunhado, irmão de sua esposa e um compadre.

O marido da morena não era um homem ciumento, nem ela dava motivo para que ele desconfiasse dela, mas por ela ser uma mulher muito bonita que chamava atenção, ele a mantinha sob uma discreta vigilância, pensava o seguro morreu de velho.

Um dia a morena desceu num rio que passava entre duas colônias para lavar roupa, que era um costume da época, lavar roupa no rio. Estava concentrada no trabalho, quando chegou o sedutor e dirigiu-lhe um gracejo, ela não respondeu nada, fechou a cara pegou suas coisas e foi embora, ele pensou está se fazendo de difícil, não tem problema eu espero.

Passado alguns dias, novamente ela estava na mesma tarefa, ele por acaso estava trabalhando numa cerca ali perto, deu uma desculpa ao companheiro e escondido por entre uns arbustos, chegou onde ela estava. Só que desta vez ele foi mais ousado, tentou até agarrá-la, ela desvencilhou-se dele e saiu correndo para casa.

À noite após o jantar contou tudo ao marido, que a ouviu sentado na mesa pacientemente fumando um cigarro de palha.
- Não se preocupe eu já conheço a fama desse sujeito, vou dar-lhe uma lição que ele nunca mais vai esquecer, amanhã você volta no rio como de costume e deixe o resto comigo.

No outro dia na hora do almoço, o capataz chamou o cunhado e o compadre contou-lhes o plano, a mulher conforme o combinado foi para o rio lavar roupas e eles saíram como se fossem correr o gado num pasto distante, mas deram uma volta e se esconderam num capãozinho de mato onde  o rio fazia uma curva e formava uma pequena lagoa, ali amarram os cavalos.

Com muito cuidado foram subindo a pé entre a capoeira e esconderam-se entre umas moitas de capim, próximo de onde ela estava, não demorou muito chegou o tal Polaco com seu jeito sem vergonha  e passou a assedia-la.

Ela com educação más firme disse a ele que a deixasse em paz,  pois era mulher direita, ele ignorando seus apelos abraçou-a e quando ia beija-la, saíram do esconderijo os três homens, o marido vinha na frente com uma garrucha em punho e disse para ao rapaz.
- Você venha comigo.    
Os três o levaram onde estava os animais na beira da lagoa, chegando lá mandou que ele tirasse a calça e a  cueca,  ficando só de camisa, obrigaram-no a deitar-se de lado, o capataz sempre com a garrucha apontando para ele, mandou que os companheiros o amarrasse os pés e as mãos juntos, como se faz com um porco, deixando os testículos a mostra atrás das pernas.
Disse o capataz:
- Compadre prepare uma salmoura bem forte que eu vou capar esse safado. Sentando-se na raiz de uma árvore que ficava bem em frente ao rosto do rapaz, que estava chorando e encharcado de suor, tirou da cintura uma grande faca, pegou do bolso um pedaço de fumo de corda e começou a fazer um cigarro de palha.
O compadre pegou uma lata enferrujada, encheu-a de água no rio, pegou um bom punhado de sal jogou dentro e mexeu bem, quando estava pronta colocou bem perto do rapaz. 

Terminado o cigarro ele o colocou atrás da orelha e com toda a calma passou a afiar a faca, o sedutor pedia perdão, chorava e implorava para que o soltasse, mas ele fazia que nem estava ouvindo, o cunhado e o compadre sentados de lado só observava.
O capataz olhou a faca experimentou o fio, achou que já estava bom, levantou foi até o rapaz, abaixou-se por trás, pegou e puxou o saco dele para esticar e passou rapidamente a costa da faca bem acima dos testículos, o machão conquistador  cagou-se todo.
O homem guardou a faca na bainha, pegou a garrucha engatilhou os dois canos, encostou-a no nariz do rapaz, que as duas bocas dos canos ficaram coladas as suas narinas e disse: - Cabra safado, eu não mato você  agora porque não quero estragar minha vida por causa de um cagão, vou sentar ali pitar o meu cigarro quando acabar vou pegar meu cavalo e sair a sua procura, se eu ainda o encontrar vou mata-lo.
Dizendo isso levantou pegou um chicote de couro trançado e tala de couro cru, que usava no trabalho deu-lhe três lambadas na  bunda, que cada uma levantou um vergão vermelho e mandou que o compadre  o soltasse. Este saiu correndo desesperado sem rumo e até hoje ninguém mais soube notícia do sedutor.

Autor: João Batista Stabile - Marília/SP

2 comentários:

Maria Mineira disse...

Boa noite, João.Que apuro esse camarada passou heim! Mais um ótimo causo! Abraço.

Patricia disse...

Uma texto e tanto. Bom autor. Parabéns.