Marcos Pestana
A rapaziada enquanto
andava proseava, risos e vozes altas quebravam o silêncio da mata fechada.
Seguiam os passos de Ditinho quando de repente, o grupo se deparou com uma
cruzinha, param curiosos, um deles olhou para Ditinho como que pergunta... O
que é isso?
Sem rodeios ele foi logo
explicando...
“É de bom agrado aqui na
região colocar uma cruzinha ou até erguer uma capelinha onde alguém perdeu a
vida, seja por acidente ou de forma violenta”.
A região é rica em causos
e com o passar dos anos, criam-se lendas e contam-se estórias de assombração e
alma penada.
Mal a turma iniciou a
caminhada, depararam com uma grande pedra, e, gravado nela, o contorno de um pé
humano. Logo os curiosos se aproximam, formando um círculo e questionam Ditinho
para que explicasse o que significava aquilo. Nessa hora Ditinho tornou-se
sério e explicou...
“Foi um filho que tentou
matar a mãe, ali ele ficou de tocaia., e no momento do crime... sentiu que a pedra havia prendido seu pé...
tão grande foi o susto que morreu ali mesmo...”.
Uns arregalaram os olhos,
outros se benzeram. Em meio aos olhares e murmúrios, um rapaz mais curioso
perguntou...
“O senhor tem conhecimento
de algum outro causo”.
Sem hesitar Ditinho olha
nos olhos do rapaz e diz lentamente...
“Tenho... é o do corpo
seco, coisa ruim, é com mãe também”.
Aflito o rapaz pergunta...
“Pode contar?”.
“Posso sim, você sabe que
bater em mãe é pecado, não sabe? e é difícil ser perdoado”.
Ditinho fez uma pausa, e
ninguém solta um som sequer, todos olham ansiosos, preocupados... E ele continua...
“Quem ergue as mãos pra
mãe, quando morre, a terra rejeita. É um corpo tão sem valor, que nem a terra
quer. Ninguém sabe quando o corpo está seco. Só na hora que se mexe na cova é
que se descobre. Então o coveiro tem que avisar a um padre, ele benze... tem
que ser à meia noite certinho. Então dois homens pegam o corpo seco e dão a um
terceiro que deve estar de costas para pegá-lo de forma que um não paro outro.
Carrega até o mato e o joga... sem olhar para trás, pois ser olhar, o corpo
seco monta no de quem olhou. No mato, sozinho, ele se esconde, fica encostado
num pau e toma conta do matagal. Naquele lugar é ele quem manda...”.
Um outro pergunta
intrigado...
“Aqui tem algum?”.
Ditinho se benzeu... Um ou
outro, também, e respondeu...
“Não,
aqui não... dizem que mais ali adiante, perto do Paraíbão, tem um... mas não
sei te precisar o lugar... nunca fui bisbilhoteiro”.Autor: Marcos Pestana - São Paulo/SP
Página do autor:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=95857
Publicação autorizada pelo autor
4 comentários:
Amigo Marcos Pestana. Seja bem vindo a esse blog! Tenho certeza que vai gostar daqui. Abraço de sua amiga mineira.
Boa noite, Marcos. Esse caso é dos bons, gostei muito. Parabéns. Abraço.
Adorei seu texto, parabéns.
Uma prosa das boas mesmo! Gostei muito do texto.
Um abraço,
Celêdian
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