quinta-feira, 24 de julho de 2014

Texto: 45 (do concurso) - A visita de um gato "adolescente"

   Noite alta. O programa especial de domingo na televisão encerrou. Eu e meu marido Marcos, que somos aposentados, nos preparávamos para ir dormir, quando ouvimos um miado... Paro e presto a atenção... o miado se intensifica, vai se achegando pela garagem adentro. Paramos os dois, com um sorriso de cumplicidade, e o miado agora mais alto, para rente à porta.
    -Ora, de quem será o gatinho? - pergunto.
   -Não tem voz de gato pequeno, deve ser um "adolescente!" - brinca o Marcos.
   -Não abra a porta ainda... - disse enquanto ia à cozinha buscar uma tigelinha de leite morno.
   -Já vai acostumar o gato aqui? - pergunta.
   -Ora, é um animalzinho e deve estar com fome! Custa lhe oferecer um pouco de leite?    
   Enquanto sorri respondendo aos meus argumentos, ele abre a porta. E que visão linda, aquela! Apaixonei-me na hora! Marcos tinha razão; era um gatinho "adolescente" totalmente negro e foi logo se esfregando em nossas pernas à apresentar-se, pedindo carinho.
   -Ora mocinho... Não pode entrar aqui... afinal, mal nos conhecemos! ... - exclamei, saindo para depositar a tigela de leite mais para fora.
   -Muito bem senhora! Acaba de adotar um gato! Sabia que agora ele não sairá mais daqui? - observou o Marcos.
   -Sei disso, mas se ele quiser ficar, não tem nada demais... há muito espaço aqui na garagem! ...
   -Mas e os cachorros? Sabemos que não gostam de gatos! ...
   Logo que o bichano perceber, ele mesmo tratará de ir embora. Afinal, já está bastante grandinho  e saberá se cuidar!
   Marcos, vendo que já não havia mais argumentos para me convencer, tratou de calar-se. Olhei para ele e com delicadeza, disse:
   -Vamos, vamos dormir que já é tarde e precisamos descansar.
   Assim que deitamos, logo adormecemos, nosso dia havia sido bastante cansativo, com visitas para almoçar.
    No dia seguinte acordei cedo como era de costume. Levantei quietinha para não acordá-lo. Vesti o roupão e fui aos fundos apanhar o lixo para levar ao cesto, porque o coletor estava para passar. Assim que abri o portão do corredor, os cachorros, um pastor e um collie, saíram á frente correndo para a garagem. Só me dei conta do gato, quando vi o alvoroço. "Meu Deus!" - exclamei largando o saco de lixo e corri preocupada com o gato. A cena que vi, teria sido até engraçada se não fosse minha preocupação com o pobrezinho. Os dois cães, que são altos, de pé ao lado do carro alcançando o teto, olhavam fixamente e rosnavam para o gato, que se abrigou sobre um vaso de orquídeas e de pelos eriçados e dentes á mostra, balançava sua patinha direita no ar em posição de defesa, em direção aos cães. "E agora, que posso fazer?" - dizia eu, para mim mesma. Neste momento, Marcos abriu a janela e vendo a cena, resolveu abrir a porta da sala e chamar os cães, que relutando, decidiram obedecer, depois de muito insistirmos.
   Desci o gato do vaso, sem me importar com a reclamação do Marcos, quando viu que sua flor preferida estava danificada. Nisto, ouvi o barulho do coletor se aproximando e segurando ainda o gato com a mão esquerda junto ao peito, corri para apanhar o lixo e abri o portão com pressa para colocar no cesto.
   Enquanto o coletor o apanhava, cumprimentou-me e brincou: " Que gatinho bonito, dona!" - Surpresa, olhei para o gato ainda seguro pela minha mão esquerda junto ao meu peito e sem graça vi que meu roupão estava aberto, mostrando meus seios através de minha camisola transparente. “Oh Céus!" - exclamei fechando depressa a roupa e voltando-me para entrar e fechar o portão. Só me dei conta que ainda segurava o gato, quando Marcos perguntou da janela se já podia soltar os cachorros. "Ah, espere um pouco!..." Gaguejei e abri novamente o portão colocando o gatinho para fora. Felizmente ele saiu correndo e atravessou a rua entrando pelo vão do gradil de uma das casas. Mais tranquila, pensei que talvez fosse ali que ele morasse.
   Olhei para o Marcos que da janela ainda esperava minha resposta e respondi:
   -Pode! O gato já se foi!

3 comentários:

Alberto Vasconcelos disse...

Muito bom conto, narrado em primeira pessoa. Perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso. Parabéns a quem o produziu.

Marina Alves disse...

rs... bem escrito, num estilo envolvente que leva o leitor a querer saber rapidinho do final. Joia!Marina Alves.

Anônimo disse...

(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: se há erros graves desta natureza não percebi durante a leitura, um ou outro ponto a ser arrumado mas que não prejudica o entendimento e a fluência. Uma história interessante, simples e que parece estar bastante de acordo com a proposta do concurso (considerando o requisito de demonstração de afeto pelo animal). Avaliação pessoal: entre bom e muito bom. Parabéns à autora ou ao autor e muito boa sorte! (Torquato Moreno).