terça-feira, 13 de outubro de 2020

TEXTO COLETIVO: DESTINO X ESCOLHAS

 


[ANA ROSA JUNQUEIRA] A bela Ana Maria era filha única de Coronel Julião e Sinhá Marcília. Cresceu  mergulhando nas águas do Rio Lavrinha, que corria nos fundos do quintal da sua casa. Seu sonho era estudar na capital e ser professora. No entanto, a capital era muito longe dos olhos atentos do pai. O recurso foi  enviá-la para estudos no Convento das Freiras,  localizado não muito longe  dali.

Ana retornou antes dos dezesseis anos completos. O pai cortou o mal pela raiz, pois não agradou da ideia de ver a filha querendo prestar os votos de santidade como freira.  Coronel Julião, precavido como sempre, tratou de construir uma escola ali mesmo na fazenda para cumprir os gostos da filha. Aproveitou também para apalavrar sua mão para o jovem  Alonso,  filho caçula de um fazendeiro vizinho...

[GLÓRIA TANCREDI] O coronel Julião como verdadeiro patriarca sempre deixou muito claro o seu zelo e preocupação com sua família, principalmente no que dizia respeito à sua filha Ana Maria. No entanto, o autoritarismo revelado do pai, influenciava negativamente os sonhos e perspectivas da jovem, que apesar de morar no interior, sempre demonstrou grande curiosidade com relação à “cidade grande”, a liberdade, o poder da mulher diante da sociedade.

A transmissão de conhecimento e o empoderamento feminino sempre estiveram em seus pensamentos, povoando os seus mais grandiosos sonhos, mesmo que fossem de encontro com seu pai. Para o Coronel, o papel da mulher seria ser boa dona de casa, se tornar uma boa mãe e dedicar-se única e exclusivamente ao marido e seus filhos.

Não obstante, a jovem por não se convencer de tal conduta começou a ministrar aulas para meninas, moradoras do interior que seu pai comandava, aguçando ainda mais sua vocação para professora e os ideais, nos  quais acreditava. Mas sabia que estar ali não seria suficiente, era preciso mais. Ana sentia que precisava aprofundar seus conhecimentos em uma faculdade. Assim, prontamente pensou em fazer um curso superior na cidade. Compartilhando a ideia com sua mãe, que sempre lutou para manter a filha na escola.

Sinhá Marcília, mãe de Ana, ficou apavorada ao saber que a filha afrontaria as ideias do Coronel que já prometera sua mão em casamento ao filho de um grande fazendeiro da região. Marcília, além de pensar que o marido poderia não ver com bons olhos a ideia da filha, ainda não saberia se Alonso estaria disposto a esperar o tempo preciso para que Ana se formasse antes de cumprir a promessa matrimonial... 

[LÍVIA HOLIER] Mas a promessa matrimonial mal importava para Ana Maria, ela estava decidida que iria para a cidade grande e falaria com seu pai nesse mesmo dia. Não importava o que ele dissesse, ela seguiria seu sonho.

Chegada a hora do jantar, todos se juntaram à mesa para saborear a deliciosa comida de Sinhá Marcília. Ana estava inquieta, não parava de balançar sua perna e mal tocava no prato. O Coronel Julião percebeu a inquietação de sua filha e a questionou. Ela tomou um gole de água e começou a falar sobre os seus planos de se mudar para a cidade e fazer um curso superior.  O casamento não estava na sua lista de prioridades naquele momento.

O silêncio tomou conta da sala. Marcília estava com o coração disparado, com medo da reação do marido. Ana Maria se sentia aliviada e decidida sobre o assunto com seu pai. O Coronel ficou parado como uma estátua, com o olhar gélido, pensando no que tinha acabado de ouvir. Mas o que os pais não sabiam era que naquela noite, um grande segredo de Ana seria revelado...

Julião se levantou e foi em direção a Ana, que começou a andar para trás, na tentativa de se desviar do pai. Até que ele a cercou e perguntou o motivo daquilo tudo. Se era para envergonhá-lo ou só para enganá-los, já que sua mão já estava prometida a Alonso.

Ana Maria se sentiu pressionada e forçada contar a verdade, mas disse que só falaria com a mãe sobre o assunto. Marcília e a filha foram para o quarto de visitas, próximo a copa onde estavam, mesmo assim, o Coronel não conseguiu ouvir a conversa das duas.

Ana Maria começou a chorar, não sabia o que aconteceria após contar seu segredo à mãe, pois provavelmente ela o revelaria ao marido. Soluçando, após muito chorar, contou tudo o que a afligia.

Quando estava no Convento de Freiras, conheceu Regina, uma linda noviça de olhos castanhos e cabelos ruivos, pela  qual se apaixonou, assim que a viu. Ambas eram muito unidas, mas as freiras não admitiam tais modos, então  transferiram Regina para um convento da capital, forçando Ana Maria a fazer os votos de castidade,  exatamente na época em que o pai impediu, levando-a para a fazenda.

Desde então, além de desejar concluir seus estudos, tinha esperanças de reencontrar Regina e  ficarem juntas para sempre. Sua mãe ficou assustada e a mesmo tempo  emocionada com a história da filha e afirmou que estaria sempre ao seu lado e a ajudaria ir para a capital.

De repente, a porta do quarto se abre...

[GERSON DE CARVALHO SILVA] O Coronel entrou no quarto falando alto e de forma autoritária informando que no dia seguinte, marcara o jantar com Alonso e sua família, para formalizar o noivado.

Ana resolveu conseguir algum tempo e pediu um adiamento, alegando haver necessidade de preparativos. O pai aceitou os argumentos, dizendo que não poderia passar de um mês.

Regina, precisava encontrá-la. Enviou um telegrama. A resposta não tardou, ela  viria em alguns dias. A amiga noviça era muito esperta e ao chegar, disse ter vindo para participar do noivado da amiga, mas a  ideia não era bem essa. Tentaria livrar Ana do problema imediato. Informou-se sobre o pretendente, Alonso, e resolveu conhecê-lo.

Regina abandonara a vida religiosa e resolveu continuar sua vida. Recebeu uma pequena herança do falecido pai e tornou-se proprietária de um restaurante, o qual possuía um andar superior que funcionava somente à noite. Ali havia moças, que além de garçonetes, recebiam rapazes dispostos a gastar.

Regina foi até a fazenda vizinha e encontrou o pretendente de Ana.

 — Alonso, você por aqui?

[EPÍLOGO ANA ROSA JUNQUEIRA] Assustado, Alonso não sabia o que dizer à Regina. A última coisa que imaginaria era vê-la na fazenda de seu pai.

 Sou eu quem pergunta, nunca lhe dei meu endereço aqui do interior.

  Eu não vim por sua causa, vim conhecer o noivo de uma amiga e por ironia do destino esse noivo é você! Então a moça rica que daríamos o golpe é nada menos que Ana Maria?

Nesse momento, Ana que estava ouvindo a conversa do lado de fora da casa entra com a aparência que quem recebeu uma punhalada pelas costas. Nem tanto por Alonso, que mal conhecia, mas nunca esperaria isso de Regina...

— Aninha, não me disse que viria também, posso te explicar! Tudo que eu quero  é estar perto de você. Eu não podia saber que era ele — disse Regina tentando se desvencilhar da enrascada.

— Ana Maria, vocês de conhecem de onde? Saiba que a ideia foi da Regina! Idealizou meu casamento com uma fazendeira para saldarmos nossas dívidas de jogo, pois estamos sendo perseguidos.

— Calem-se, os dois! Não quero ouvir mais nada!

Ana Maria saiu às pressas daquele lugar que lhe fazia muito mal. Queria se livrar daqueles dois, nunca mais vê-los. Pegou seu cavalo e a galope sumiu por aqueles campos sem rumo certo...

Demorou algum tempo, mas Ana Maria já não era mais a menina frágil e ingênua.  Entendeu que o melhor era ser  dona de si, e lutar  pelas coisas que acreditava. Aprendeu a se   amar em primeiro lugar  e nunca deixar sua felicidade depender de ninguém. Correu atrás dos seus sonhos, seguiu a vida acadêmica e hoje segue ajudando sempre outras pessoas a encontrarem seu caminho.


GRUPO 06:

Autores: Ana Rosa Junqueira; Glória Tancredi; Lívia Holier; e Gerson de Carvalho Silva.


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