sábado, 2 de julho de 2011

Doca - Texto: José Soares de Melo

Bastante querido por adultos e crianças, Doca era carinhosamente chamado de Doquinha. Sua deficiência mental em nada atingiu o bom humor, a seriedade, o gosto por aventuras (por vezes sumia, em viagens pelas redondezas) e até pelos prazeres da vida: adorava um cigarro, e se algum irresponsável lhe desse, apreciava uns goles da “marvada”, ocasião em que ficava intolerável.
Diferente da grande maioria dos deficientes mentais, Doca era extremamente querido por todos, inclusive pela família, os Benício. Seu pai, Mestre Ozório, Toinho Benício, Joãozinho Benício, enfim, todos da família, nutriam verdadeiro carinho por Doca, e lhes davam toda assistência possível.

Como característica especial, Doca tinha duas manias: uma delas, era a de posar de policial. Sempre conseguia um chapéu ou uma farda da PM, que usava permanentemente. Contam que certa vez tinha um bêbado abusando nas ruas, tendo os gaiatos o advertido de que o Soldado Doca poderia aparecer a qualquer momento e prender o abusado. E não é que Doca apareceu, e incentivado pela turma deu “voz de prisão” ao bêbado e o conduziu até a Cadeia?

Outra característica de Doca era personificar um Orador. Mesmo sem ser entendido por ninguém, sempre ganhava uns trocados para pronunciar discursos inflamados e cheios de gestos. Quem apenas o escutasse, sem o ver, certamente julgaria ser um discurso em outro idioma, tamanha a ênfase com que ele balbuciava sílabas incompreensíveis.

Certa feita, na década de setenta, eu fazia um programa de auditório aos domingos, no velho Centro Lítero Recreativo. Num desses, a Rádio Pajeú resolveu o transmitir direto de Custódia, o que foi feito com o CLRC lotado. Distribuição de brindes, publicidade e várias atrações locais foram apresentadas. O Sanfoneiro Joãozinho, o Conjunto Musical “Os Ardentes”, sem contar com grande número de calouros, como Gonzaga de Alcides Bom (que cantava música de sua autoria), o Primo Ozório, Zé Esdras, (o ex-Prefeito mesmo!), o Dr. Ferdinando, (também ex-prefeito, de Serra Talhada) na época estudantes. Enfim, muitas “atrações” foram apresentadas. Mas quem fez sucesso mesmo, foi Doquinha, com o mais inflamado de todos os seus discursos. Tanto que posteriormente a Rádio Pajeú recebeu cartas perguntando em que língua aquele orador tinha falado...

Parece-me estar o vendo conversando seriamente, olhos arregalados, contando alguns fatos, cheio de gestos e trejeitos, que não eram compreendidos por ninguém, e ao término sair andando normalmente, acenando com a mão para os que ficavam.

PS. - Doca é membro da família Benício, irmão de João Benício, seu nome de batismo era Diocleciano Benício de Queiroz.

Jotamelo@exatta.com
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