domingo, 3 de julho de 2011

Perfil: Zé Biá - Texto: José Soares de Melo

Parece que estou vendo Zé Biá, aquele minúsculo corpo negro que abrigava uma figura humana extraordinária, quase que da mesma altura do balcão da Bodega que nos separava. Extremamente educado, chegava a parecer um serviçal, sempre atencioso,atento e acima de tudo respeitoso, tanto com os adultos como com as crianças. Dono de um talento invejável, sua Banda de Pífanos alegrou muitas gerações, nas festas religiosas, acompanhando as procissões, as novenas, os terços, animando os leilões, acompanhando o andor solitário de uma sertaneja, carregando uma imagem ao som de sua bandinha, pedindo donativos para a realização de uma novena. Também nos eventos sociais, Zé Biá se fazia presente. Acompanhando os batalhões de Bacamarteiros nos períodos juninos, sua banda fazia a alegria dos participantes e dos expectadores. “Mulé Rendeira” era pedido obrigatório naqueles eventos. Também era bastante pedida a “Briga do Cachorro com a Onça”, onde o pífano imitava o ganido dos cães quando atacados pela onça. Foram dezenas de anos nessa atividade, sempre presente nos eventos.

Recordo sempre os leilões da festa de São José que eram animados pela Banda de Zé Biá. O Pregoeiro anunciava os lances, batia o martelo –simbolicamente, com o famoso “dou-lhe uma”, dou-lhe duas” e “dou-lhe três”, que era a senha para bandinha saudar o arrematante com uma música.

Cheguei a assistir outros leilões na zona rural, nas famosas novenas que existiam naqueles tempo. E jamais esqueci o bordão que Zé Biá – dublê de músico e de pregoeiro, utilizava, quando anunciava os lances:

-“ Dois contos mi já dão pela galinha assada! Quem mi dá mais?”

Já no final de sua vida, exatamente no mês de setembro de 1978, Zé Biá encantou a produção da TV Universitária, que, cobrindo as festividades do cinqüentenário da cidade, gravou cenas interessantes. Zé Biá tirando as humildes alpercatas, faz inúmeras piruetas dançando o xaxado. Tudo documentado para apresentação no dia onze de setembro daquele ano, quando Zé Biá estrelou a programação que tinha o título de “Custódia, nossa Terra, Nossa Gente”, que tive a honra de participar com participações na apresentação do mesmo, ao lado do Prof. Humberto Vasconcelos e o artista plástico Marcílio Rinaux.

É uma pena que não tenha guardado aquelas imagens. Creio que no acervo da TV Pernambuco, ainda existam.

De uma humildade extrema, Zé Biá era verdadeiramente amado pelas crianças. Todos gostavam de conversar com ele, ouvir seus causos, sempre pontuados de bons conselhos, e extremamente alegre divertido. Era por assim dizer o líder da bandinha, composta por pessoas simples, humildes mas talentosos na arte popular. Zézé, branco, estrábico, tocava na caixa – espécie de tarol que requer uma habilidade imensa; Manoel da Rabeca, que era uma espécie de homem dos mil instrumentos: tocava a rabeca, o pífano e a zabumba, sendo também flandeleiro, barbeiro e detentor de outros ofícios. Raimundo, era um senhor alto, magro e que tocava a zabumba com maestria. Zé Benício era o mais gaiato da turma, tocava pífano, e também a zabumba, quando não estava fabricando e vendendo o “doce japonês”, iguaria que há dezenas de anos não vejo.

Que saudades daqueles tempos! Pena que jamais imaginaria que aqueles tempos, aquela bandinha, aquela gente era tão importante para nossa história e nossa cultura, o que só fez deixar o tempo apagar marcas tão importantes. Que bom seria que outros custodienses procurassem resgatar essa história, contando fatos, mostrando fotos, enfim, registrando quaisquer fatos relativos aquela Bandinha e o Gigante da Cultura Popular de Custódia, que foi Zé Biá.
Material publicado inicialmente no Blog Custódia Terra Querida (http://custodia-pe.blogspot.com/

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