Autor: Geraldinho do Engenho
Noite dessas tive um sonho que me deixou encabulado por vários dias,
aliás, nem foi sonho, de fato foi pesadelo. Sonhei que morri. De repente estava
eu na porta de um condomínio numa ilhota que flutuava no espaço, o local e era
tão alto que tanto para cima como para baixo via-se o mesmo azul
infinito. La estava eu assistindo os julgamentos feitos pela própria
morte, e aguardando meu momento de ser atendido. Ela uma mulata magricela e
desdentada, sentada na portaria com uma vestimenta preta brilhante com o logotipo
usado nas embalagens de veneno e similares.
Analisava detalhadamente o histórico de cada falecido que lá chegava, e
o ordenava adentrar a portaria. Ao mesmo tempo em que era um condomínio passava
a ser um estádio de futebol já com as arquibancadas lotadas, aguardando o
resultado para que cada um recebesse sua sentença. Eu já impaciente com a
demora, fiquei imaginando:- - puxa vida enfrentei tanta fila na terra quando
era vivo, agora chego aqui tenho que enfrentar fila de novo?
Mal sabia eu que a coisa ainda ia alongar muito mais, quase chegou
minha vez, o danado que estava em minha frente era um cara até bem falante, mas
arrumou uma bruta confusão e acabou embananando tudo, por sorte a morte até que
foi bem paciente. Primeiro perguntou a ele:
- Causa da morte?
– Afogamento!
– Como, no Rio?
- Não São Paulo mesmo!
- Eu não to lá quereno saber nome de santo-, Para mim tanto faz. São
Paulo S. André, S. Caetano, ou S. Bernardo é mesma merda de bueiros entupidos
ruas alagadas, basta chuviscar morre gente mesmo! Eu quero saber se tu caíste
no rio?
- Minhas desculpas, dona morte, eu entendi que a senhora falava das
inundações do Rio de janeiro!
Tinha um velhinho com uma vestimenta de peles de animais, curtidas,
palpitando como ele só, passando dum lado há outro todo o tempo. Era ouvir a
palavra referente à chuva ou inundação ele logo dizia:
- Ah enchente que nada! Enchorradinha! Se o assunto era tempestade o
homem falava:
Ah chuvisqueirazinha! Vocês não conhecem chuva nada! Na seqüência,
a morte disse:
- Agora me fale um pouco de sua família!
- Não dá pra falarmos de outra coisa dona morte?
– Tem jeito não, o assunto agora é família mesmo! Ele coçou a cabeça e
disse:
- ah qui vá-, vou tentar! A senhora não tem idéia da confusão que eu
aprontei na minha vida. Eu casei com uma viúva, meu pai, também viúvo, se casou
com outra viúva, filha da viúva minha esposa.
A mulher de meu pai que era minha enteada passou a ser minha
madrasta, minha esposa nora de meu pai, passou a ser sua sogra.
Senhora teve sogra? Alias, acho improvável porque se tivesse a teria
matado com certeza! Pois bem minha esposa, quis me convencer que meu pai
e eu, éramos genro um do outro, e que sua filha era também sogra da própria
mãe! E eu sogro do meu pai!
Ai eu entrei em parafuso, e para piorar a situação nasceu meu
irmão, filho de minha enteada, que também era minha madrasta, e neto de minha
esposa, e ao mesmo tempo cunhado de sua avó!
Quando eu comecei a botar a cabeça no lugar, nasceu meu filho.
Irmão de minha madrasta, neto e ao mesmo tempo cunhado de meu pai, e tio e
sobrinho do meu irmão!
Ai não teve jeito, pirei de vez; pulei do segundo andar do prédio na
hora de uma tempestade e morri afogado!
- Veio passando o velhinho!
- Povo mole! Morre com qualquer chuvinha!
- Oh velho chato, homem das cavernas-, vai dar palpite na confusão da
tua vò!
- Quem é este velho chato dona morte? Perguntou o indivíduo!
- Acalme–se senhor! Respeite o velho meu filho-, ele tem razão e tem
carta branca pra falar o que bem entender-, este é o Noé o homem do
dilúvio!
Acometido por uma crise de riso eu acordei, e louvei a Deus por ter sido
apenas sonho!
Geraldinho do
Engenho - Bom
Despacho/MG
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