quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vida de interior - Autor: Paulo Pazz

Cidade piquena é uma coisa, né não? A vida é um mucado mais custosa de se aprumá, puis os recurso é riduzido se cumparado cum esse mundo surtido de coisa por cunhecê e fazê.

Cidade piquena é dos dia rastado bem divagarzim pur causa da mesmice das coisa de todo dia.

Pur um acaso arguém já viu casa nova em cidade piquena? Ô moça casamentêra dispunive nas cidadinha? Acho qui não!!! A tapera só tem remendo novo na parede véia e o povo ô é muito minino, ô mais inrugado qui maracujá maduro, puis os jove casca fora pras cidade grande.

Ixeste cidade piquena sem puêra, sem criança artera, de quintal sem bananêra, ô sem galinha poedêra? Ixeste cidade piquena sem cerca de bambu, sem marimbondo-tatu ô sem carnê do baú? Sem vizinha faladêra, sem muié partêra ô rua sem ladêra?

Não, sinhô! Craro qui não!

Ixeste cidadinha sem coquêro na praça, sem minino fazêno pirraça ô cavalo de pôca raça? Sem véio benzedô, sem cachorro caçadô ô sem rôpa no quaradô?

Ixeste curruitela sem minino com piôi, sem gente fartano um oi ô quem parece tê mais de dois? Ixeste cidadinha sem sino na igreja, sem mongongo qui vareja ô quintal sem carqueja?

Toda cidade piquena tem rua de baxo, tem banana no cacho e tem zona de isculacho. Muié fazendo ladainha, dibaxo de uma sombrinha, de anágua vendeno farinha. Todas tem gente na prucissão, minino de pé no chão, dedo sujo sigurano o carção. Tem de tê camisa cum propagana, cachacêro pé-de-cana e amigo qui ingana. Minino lumbriguento, vendedô riliento e cachorro sarnento.

Num serve si num tivê muita gente cum pilido, camim imporibido e padre inxirido. Apusentado na praça, marmanjo fazeno graça e galinha fujona cum negaça. Tem de ter gente qui vê assombração, cantinela de carroção e diquada pra sabão.

Eu dovido se tem arguém na cidade miúda que nunca topô cum boi azogado pegadô e bule esmartado cum cuadô. Quem nunca viu fugão de lenha, manha de u’a égua prenha ô gato qui disdenha?Ali tem carroça disparada, muié muito mal falada e cabôco sem fazê nada, alpende cum samambaia, vento sungano a saia e ovo imbruiado na paia. Tem porco no chiquêro, sari de cisterna enzonêro e galo qui canta o dia intero. Minino cum ispinhela caída, canela cheia de firida e gente de mal cum a vida. Pur isso que eu acho a cidade piquena paricida cum circo. Bem mió qui vê televisão é oiá esse mundo de cantinela sempre iguar, mais qui adiverte muito.

Morá em cidade grande pra quê? Aqui é o meu cantim e é aqui qui quero morrê...

Só ispero demorá mais, puis quero dá muita risada ainda.

Autor: Paulo Pazz - Catalão/GO
Publicação autorizada por escrito pelo autor da obra

Nenhum comentário: