Os dois poetas caminhavam tranquilamente pelos calçadões da Avenida Paulista em sentido ao Metrô Brigadeiro naquela noite morna de Sábado.
Um dos convidados que participara do bate papo que rolou antes do sarau foi o Walmir Jordão.
Já estavam quase chegando à entrada do Metrô quando o Romero perguntou para o Machado:
----Será que lá no céu tem Sarau também?
----Sei lá! Porque você está perguntando isso? -- Indagou o Machado.
----Não é por nada não. É que, falando o português claro, já estamos pra lá de Maracangaia. Não demora muito e batemos a bota. Ai, então, de repente me veio esse pensamento. E cá entre nós; deve ser uma merda chegar lá em cima e descobrir que não tem sarau.
----Mas como você tem tanta certeza que vai para o céu. Pode ser que de repente você embarca para o inferno.
----Bom... Pelo menos eu tento fazer o melhor. Agora para onde eu vou... Só Deus é quem sabe!
Argumentou o Romero.
----Vamos combinar uma coisa! Aquele que morrer primeiro volta para contar se lá em cima tem Sarau ou não! -- Propôs o Machado.
----Vamos combinar uma coisa! Aquele que morrer primeiro volta para contar se lá em cima tem Sarau ou não! -- Propôs o Machado.
----Aceito! E você pode ter a certeza de uma coisa: caso eu morrer primeiro volto para te puxar o pé!
Desceram as escadas dando risada e foram embora.
Passaram-se uns dois meses e infelizmente, por um processo normal da vida, o Romero morreu. O Machado sentiu muito a morte do amigo, que sempre o acompanhava nos eventos literários que aconteciam pela cidade. Por um bom tempo ele se manteve recolhido em sua casa sem muito ânimo para atender aos vários convites que recebia dos amigos para irem a algum sarau.
Certa noite quando o Machado mal havia acabado de deitar-se, sentiu alguma coisa puxando o seu pé. Rápido feito um corisco deu um pulo e ascendeu a luz. Quase caiu duro. Bem a sua frente lá estava ele. Ao vivo e a cores o seu amigo inseparável.
----Vate demônio! Suma da minha frente! Volta de onde você veio! – Gritou o Machado ao ver o Romero todo de branco dando risada diante dele.
----Calma Machado não precisa ficar com medo não! Eu só vim aqui para te dar duas notícias!
----Calma um caralho! Você já morreu e eu não quero papo com defunto não! Vai... Vai... Some... Some da minha frente!
----Você não se lembra do trato que nós fizemos? Quem morresse primeiro voltaria para contar se lá no céu tem sarau ou não?
Com muito custo o Romero conseguiu acalmar o amigo.
----Tudo bem! Você disse que voltou para me dar duas notícias! Quais são? – Perguntou o Machado.
----É verdade! São duas notícias; uma boa e outra ruim! Qual você quer ouvir primeiro?
----Me dê, então, a notícia boa primeiro, depois a ruim!
----Tudo bem! A boa é que lá no céu também tem sarau. Inclusive tem um que é apresentado pelo Haroldo de Campos, nos mesmos moldes daquele que o Frederico Barbosa e o Pezão apresentam na Casa das Rosas, quando eles iniciam com um bate papo entre dois poetas.
----Não brinca rapaz! Que legal! E a notícia ruim qual é?
----Bom... A ruim é que o Haroldo todos os meses, antes de começar as declamações, também entrevista dois poetas, e no próximo sarau você será um dos entrevistados.
Autor: Ivan Ferretti Machado/SPPublicação autorizada por escrito pelo autor da obra
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