Zé do norte é um nordestino que como tantos outros migraram para são Paulo em busca de melhores oportunidades.
Mais ele trouxe algo mais, uma velha viola toda enfeitada de fitas, velha companheira das noites de solidão.
Nunca teve um amor, apesar de ter amado varias vezes, era cego de nascença e as mulheres sempre o rejeitavam.
Nunca viu o por do sol, o azul do mar, ou o verde das matas e mesmo assim dizia que não existe nada mais bonito que a natureza.
Certo dia, Zio um garoto que sempre o acompanhara disse.
_Seu Zé, melhor ir embora. O senhor esta contando suas estórias sem precisão, num tem ninguém ouvindo.
Zé do Norte continuou contando mesmo assim, e ao terminar a estória fez como de costume, agradeceu as moedas abrindo seus braços e curvou-se num longo obrigado.
Zio quis saber por que ele continuou a estória mesmo não tendo ninguém.
Ele então respondeu.
_Ali naquela arvore tem um casal de passarinhos.
Sentado na calçada um cachorro, sem contar o vento que assoprava em meus ouvidos seu frescor em agradecimentos.
Já viu platéia mais gratificante?
_Como o senhor sabe tudo isso, se não enxerga, seu Zé?
_Mais eu escuto.
Sou cego, não surdo. Apesar de as pessoas gritarem para perguntar se quero ajuda para atravessar a rua. E outras se calarem e saírem se esgueirando pelos cantos pra que eu nãos as importune.
Não vejo, mais ouço, sinto o cheiro.
É assim que eu vejo com os ouvidos, narinas e dedos.
_Sabe seu Zé, o Senhor é a pessoa mais inteligente que eu conheço.
_Isso é por que você não conhece muita gente, Zio.
A inteligência vem dos lugares mais improváveis que se possa imaginar.
_Por que não podemos vê-la?
_Nós não a vemos porque o ser humano só vê a aparência, nesse caso os homens são mais cegos que eu.
Tem uma estória que ilustra bem isso. É um conto que ouvi de um cantador de cordel.
Ela é sobre um amarelinho bem inteligente, assim feito tu. Seu nome era João Grilo, o grilo mais amarelo que já se ouviu falar.
-AH! Eu já ouvi essa estória...
_Essa não, você ouviu outra, essa que vou contar é pouco conhecida.
Não lembro o nome dela nem quem a escreveu, mais ela fala sobre duas coisas.
As pessoas só se importam com as aparecias.
E a sabedoria vem das pessoas mais improváveis.
Bem é mais ou menos assim.
Certo sheik árabe foi conhecer o nordeste brasileiro, pois um amigo lhe disse que era mais Árido que o deserto do Saara. É povo tão forte quanto o beduíno. Ele depois de conhecer o sertão, ficou maravilhado com a sabedoria de um garoto. Esse garoto era o tão conhecido João Grilo, que o impressionou tanto ao ponto de querer levá-lo ao seu país e o transformar em seu conselheiro.
Com muito custo conseguiu convencê-lo, e assim ele foi.
Ao chegar à Arábia foi recebido no aeroporto por uma grande multidão que queria conhecer o grande sábio que seria o novo conselheiro do sheik.
Mais assim que desceu do avião todos o olharam com desdém, pois como podia aquele baixinho amarelo e tão esfarrapado sujeito, ser um sábio.
Pouco a pouco um a um foi indo embora decepcionado com tal figura.
Ate mesmo o sheik ficou duvidando do seu julgamento, e já se arrependera do convite.
Mais assim que desceu do avião todos o olharam com desdém, pois como podia aquele baixinho amarelo e tão esfarrapado sujeito, ser um sábio.
Pouco a pouco um a um foi indo embora decepcionado com tal figura.
Ate mesmo o sheik ficou duvidando do seu julgamento, e já se arrependera do convite.
João Grilo foi levado ao hotel onde tomaria um banho e receberia roupas apresentáveis. Depois iria a um banquete.
No banquete já melhor vestido com um belo terno branco e uma gravata com um grande rubi. Foi melhor recebido por todos que o abraçavam e beijavam, e dessa vez foi exaltado e brindado.
Mais João Grilo não é homem de deixar passar a humilhação, sabia que o estavam tratando assim por causa das roupas. E em sua opinião mereciam uma lição, pois só se importavam com a aparência.
Então, pois seu plano em ação.
Durante o banquete na hora de brindar a saúde do sheik o João Grilo respeitosamente ergueu a taça depois despejou todo o vinho tinto no bolso da camisa que ficou toda manchada.
Todos o olharam e se cutucaram, mais não disseram nada, depois foi enchendo os bolsos das calças com o jantar de entrada. Em seguida foi esfregando tudo no terno que ficou todo sujo e irreconhecível.
Dessa vez o sheik não agüentou, deu um berro.
_LOUCO! ESTA LOUCO! Exijo uma explicação. Trouxe-te com todo o respeito a minha casa e é assim que paga a confiança que depositei em você.
_Permita que me explique ó grande senhor. Disse João fazendo uma longa reverencia.
_Expliquece então. Disse-lhe o sheik com a mão levantada para impedir os guardas já iam prender o Grilo.
_Bem nobre Senhor, ao chegar a seu reino e fui recebido no aeroporto com minhas roupas sujas e velhas, fui tratado com total descaso, todos se afastavam e limpavam a mão depois de saudar-me, agora aqui já melhor vestido com roupas finas, belas e caras todos me abraçaram e beijaram-me com respeito, então pensei isso tudo não é pra mim e sim pra minha roupa, e nada mais justo que minha roupa se deliciasse com tão saboroso banquete.
O sheik ficou impressionado com tal resposta, depois ficou envergonhado pala atitude de seu povo e dele mesmo.
Realmente o tal do grilo estava certo, eles só viam a aparência e não as pessoas. E depois de brindar a sabedoria do Grilo, declamou que nunca houve um homem mais sábio que João grilo, o amarelo mais amarelo do mundo.
Beto Rami/São Paulo - S/P
Publicação autorizada por escrito pelo autor da obra
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