segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ensaios interrompidos


Autora: Adriane Morais

Um DVD traz à tona Heitor em música e letra. Tempo Perdido. Legião Urbana.
Quando criança não parava quieto. Sempre foi de uma energia potencializada. Dizia-lhe a mãe.  Um futuro?! A vida lhe estava ensaiando.
Nos giros compactos do tempo, Heitor, já adolescente, segue lhe desenvolvendo a vida. Temperamento inquieto, encontrou na prática esportiva uma excelente forma de se tornar mais concentrado e motivado para demais atividades. Futebol e natação lhe ganhavam a preferência. Comunicativo, risonho e estudante curioso, fazia amizade fácil. Aos 15 anos, Heitor, amplificado nos hormônios, vontades e ambições, construía um futuro nos tais ensaios convocados pela vida...temos nosso próprio tempo...
Aos 17 anos, Heitor, dividido entre namorada, amigos, esportes, família, estudos e ilimitados porquês, e não necessariamente nessa ordem, soltava-se cada vez mais às ebulições dos fatos e circunstâncias que surgiam. Concomitantemente, nos ensaios do palco vida, são abertas as cortinas da insegurança, do medo, da desilusão, da decepção e da mentira, puxadas por roldanas da vontade e da autoestima ainda bem reforçadas.
E o tempo segue! Heitor, apesar dos excelentes prazeres vividos no palco vida, sentia que certo vazio lhe estava disputando espaço. Um sentimento sempre presente, mas que, de repente, e sem saber explicar o início e compreender o porquê, assumia com certa velocidade o ritmo dos ensaios. As roldanas da vontade e da autoestima começavam a dar sinais de desgastes.
Euforia, sonolência, ansiedade, alucinações e delírios lhe compunham os seus 25 anos. Um futuro?! A vida lhe estava alertando.
Heitor! Acorda Heitor. Vozes distantes o estimulam à participação nos ensaios. Distante...Heitor também observava sua mãe, pai e o irmão caçula paralisados diante de alguém que se tornava assustadoramente incapaz. Por alguns minutos questionou a sensação da distância, já que eram tão próximos. Família! Ainda sem saber quando tudo isso começou a lhe transformar, o vazio se tornava seu refúgio.
Os internamentos eram frequentes. Dependência e crises de abstinência passaram a abrir as cortinas da esperança, da fé, da solidariedade e das lembranças, revelando um Heitor num palco, cujos ensaios lhe eram raros. Um futuro?! A vida lhe interrogava.
A imagem do vício lhe conduzia a um status de um morto vivo. No palco, Heitor se sentia uma marionete. O ser humano se limitava à sua fragmentada aparência. Cabeça recortada das lembranças; membros inferiores e superiores acionados por estímulos químicos; e olhar alienado...o que foi escondido é o que se escondeu...Um futuro?! A vida lhe interrogava.
Nos compactos giros, o tempo Heitor sucumbiu. Numa rápida passagem no palco vida, Heitor não conseguiu ser futuro. Os ensaios foram interrompidos, levando motivos, porém intensificando vazios. Porque somos tão jovens!


Autora: Adriane Morais - Recife/PE

Um comentário:

Augusto Sampaio disse...

Adriane, seu texto me emocionou e fiquei aqui matutando se o personagem é real (como me parece) ou apenas fictício. Augusto Sampaio Angelim.