domingo, 15 de janeiro de 2012

O rei que leilou a filha - Autor: Geraldinho do Engenho

Um palácio construído em ouro prata e marfim. Figurou-se na maior riqueza da face terra. Era invejado pelos soberanos de todos os reinos do universo.

Atraídos pela ambição, os nobres do mundo inteiro almejavam a mão da herdeira daquele fabuloso reinado.

O soberano ao contrario de sua esposa colocava os bens que possuía acima da felicidade da filha, recusando todas as propostas de seus pretendentes.

A rainha muito bondosa apoiava a filha que procurava com muita simplicidade cultivar suas amizades, entre as criadas e os súditos do reino, o que, aliás, não agradava em nada ao rei.

Aproximando o aniversário da princesa programou-se uma grande festa, e a nobreza de sangue azul fora convidada em massa para o grande evento. Comitivas e mais comitivas chegavam de todas as estâncias e reinos existentes no planeta. Acomodações não faltavam afinal àquele era o maior palácio existente na face da terra.

Pensando em lucrar com o casamento da filha o rei promoveu um desafio, colocando sua mão em jogo, determinou: - aquele que oferecesse a ela o presente mais valioso, a desposaria.

O que ele não sabia, é que o coração da filha já tinha dono. Ela era apaixonada pelo cocheiro do reino que por sua ordem a ensinara cavalgar. A mãe apoiando a filha prometeu-lhe ajudá-la na escolha do noivo, que, como previa o pai, ocorreria após o grande banquete, quando cada pretendente entregasse seu dote, que naturalmente seria um presete valioso.

Tudo correu razoavelmente bem com a mesa repleta de iguarias, refinados vinhos e licores, uma mega festa.

Enfim chegou o tão esperado momento. Sentado em seu trono ladeado pela filha e a rainha o soberano ouvia a descrição de cada pretendente candidato a genro, que ao entrar na sala, após beijar-lhe a mão depositava sobre a mesa forrada de cetim seu valioso presente.

Apesar de machista o rei era perdidamente apaixonado pela esposa, e como mulher ela aproveitava os momentos mais íntimos do casal para conseguir seu consentimento na realização de seus objetivos. E foi em um destes momentos que ele permitiu a ela a inclusão de vários súditos na grande festa dentre eles o cocheiro. Confiou que súdito algum teria poder aquisitivo para superar os nobres.

Lendo o currículo de cada nobre o porta-voz palaciano descrevia sua riqueza, anunciando seu dote em beleza física e valor financeiro.

Jóias em ouro maciço cravadas de diamantes, colares, gargantilhas, anéis e etc., enfim tesouros valiosíssimos. O ultimo a ser apresentado chamou a atenção pela simplicidade de sua descrição. O porta-voz o descreveu como o príncipe do bosque, anunciando sua riqueza imaterial edificada por sonhos e fantasias elementos fundamentais que alimentam a alma. Entrando em sena o cocheiro beijou-lhe a mão e colocou sobre a mesa um ramalhete de flores.

Irado o rei quis contestar, mas a rainha o conteve refrescando sua memória. Lembrou-lhe aquele momento intimo quando sua palavra foi empenhada, afirmando que palavra de rei obrigatoriamente tem que se cumprir. Chegado o momento da escolha como o rei havia prometido à rainha em seus momentos de deleite, permitiu a filha fazer sua escolha. Contrariando o desejo do pai ela optou pelo ramalhete de flores. Furioso ele pediu-lhe explicações. Segurando-o pelo braço ela o conduziu até a janela onde se tinham uma visão da copa das arvores mais altas do bosque que confrontavam à janela. Escolhendo a mais florida ela perguntou ao pai,

- vedes aquela maravilha de flores sobre aquela arvore?

– Sim, mas o que tem a ver flores com o nosso problema?

– Acontece que são flores de um simples cipó que nasceu a seus pés e entrelaçando no tronco pode chegar ás alturas provando ser viável exibir-se no mesmo nível da poderosa arvore. Sem palavras ele ordenou: – prossiga filha.

- Digamos que tu sejas a arvore em questão, todo poderoso -, Sabe de onde vem tanto poder? Das pobres raízes que vivem entremeadas na lama, sujas e esfomeadas tentando se sustentar dos detritos e restos que os nobres atiram no lixo, lixo este que tu desprezas, e que na verdade torna em vossa razão de ser. Ao desprezar um de teus súditos é a vós mesmo que desprezais, por que são vossas bases vossas raízes. Mande cortar as raízes desta arvore assim como mandas colocar na forca teus súditos, e verás que morrerás com elas.

Se ao contrario mudares de idéia, o cocheiro será cipó e tu arvores -, eu serei flor, produzirei frutos, e sementes, e te darei muitos netos. E só assim serei feliz com a vossa permissão!

Em grande comoção o rei abraçou a filha, concedeu sua mão ao cocheiro que se casaram e foram muito felizes.

Autor: Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG

Publicação autorizada através do e-mail de 24/10/2011

Um comentário:

Patricia disse...

Bela história Seu Geraldinho do Engenho! Adoro contos de fadas. Coisa de mulher.