Edmundo, o
"Mundico", era esposo de
Cândida, a "Nhá
Candoca", que de candura
tinha muito pouco. Pelo
contrário, era tinhosa, caboclinha
do sangue quente e
"adubava o lombo"
de Mundico na
maioria das vezes em que êste
chegava de porre
em casa.
Magrinha, olhar enferuscado,sempre de
lençinho à cabeça, costumava
postar-se defronte ao
casebre onde moravam espiando pra
ver se o
Mundico vinha "tocando
os gansos" como dizia. Quando
isso acontecia, e era frequente, o
pau comia sempre com
larga vantagem para a
tinhosinha da pá virada.
Atributos não faltavam
à Nhá Candoca. Cozinhava muito
bem. O trivial, é claro, mas
com capricho e um
tempero especial. Cuidava bem
do ranchinho e dispensava
um cuidado todo especial quando da
lavagem das roupas.
Num
certo dia,tendo cuidado dos
afazeres,tomou os panos
de prato, lavou-os e
os colocou num balde
a ferver com água
e sabão. Após um
longo dia de trabalho, já
muito cansada, deitou-se e caiu
num sono profundo.
Mundico, que
passara a tarde
"bebendo tôdas", adormeceu
num barranco e ao
acordar deparou-se com
uma lua cheia
belíssima iluminando a campina. Levantou-se e, errando passadas, acabou chegando em
seu rancho. Era noite
alta,tudo estava muito
quieto e, então, pensou:
-Se eu
não fizer barulho, a
Candoquinha não me vê
chegar e consequentemente não
me senta o
braço.
Pé
ante pé, ainda meio
tonto, adentrou e, faminto, sem acender a
luz dirigiu-se até o fogão.
Candoca roncava no
quartinho ao lado. O
bêbado tateando com as
mãos se deu conta
do caldeirãozinho de
feijão, do qual serviu-se e
percebendo ao lado dêste
um grande panelão, meteu o garfo
e sentiu o peso
de algo
que vinha fisgado. Passou a mão
e levou
aquela coisa à boca. Mastigou, puxou com
os dentes e... Nada. Apenas uma
coisa sem sabor, rija
e insossa.
Que
comida mal feita!... Candoca está ficando
desmazelada, pensou com seus
botões. Tentou outra
mordida, e... Nada. Acabou por
comer só o
feijão.
Manhã do
dia seguinte:
Candoca, enfurnada, empurra-lhe com
grosseria o prato de
polenta frita que acompanha
o café da manhã. Mundico serve-se
e com
ar pensativo dirige-se à
mulher:
Candoca, não
me leve a
mal, mas daqui pra frente quando
fizer courinho de porco com feijão cozinhe-o melhor e
jogue sal e uns temperinhos
por cima. Aquêles que
você me deixou
ontem à noite, estavam
em pedaços muito
grandes, rijos e sem
sal. Tinham um gosto
de sabão e desculpe-me, mas não
consegui come-los.
Um
ar vingativo desenha-se no sorrisinho
diabólico de Candoca antes de
responder-lhe:
_"Vô
pensá no teu
caso!... Vô pensá!
Publicação autorizada através de e-mail de 19/07/2012