Alguns
de nós, penso que, principalmente os homens, vamos passando pelos anos e
deixando um rastro, quase que imperceptível das coisas que deixamos ou perdemos
pelos caminhos da vida. A vida pode ser desfeita num instante. Um mero
instante. Um desprezível instante. Um acidente de trânsito. Um assalto. Uma
discussão no trânsito. Um fato inesperado. Tudo isto pode significar a
interrupção de uma vida. Interrompida a vida, vão-se os sonhos. Escrevo estas
coisas, porque, esta semana, recebi um e-mail de uma pessoa que, no passado,
teve estreitos laços de amizade comigo e hoje está distante, muito distante.
Pois bem, o e-mail traz um relato, até um pouco confuso, das coisas que perdera
na vida, das amizades esquecidas, dos amores findos, da falta de cuidado e
carinho com os familiares, dos problemas emocionais e das dificuldades com o
álcool. Apesar de confuso, o relato é marcante. Pensei em responder e dizer
algumas palavras de conforto e encorajamento, mas me lembrei de um título de um
filme vi nas prateleiras de uma locadora, meses atrás, e saí à sua procura,
antes de dar a resposta. COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO é o nome do filme.
Despretencioso e monotonomo no início, o enredo relata a história de uma jovem,
interpretada pela bela Halle Berry, que fica viúva em face do inesperado
assassinato do marido, que saiu de casa para comprar sorvete para família e, no
caminho de volta, tomou as dores de uma mulher que estava sendo espancada pelo
esposo e terminou levando um tiro fatal deste. Uma das cenas mais marcantes do
filme é a chegada do carro da polícia para avisar do ocorrido. A dor, o
desespero, o abraço nos dois pequenos filhos. Uma menina de dez anos e um
garotinho de seis. No velório, a viúva lembra-se, repentinamente, de chamar um
amigo problema do falecido. Amigo de infância e viciado em drogas. Era
advogado, mas já não podia exercer a profissão. Apesar do distanciamento
social, o falecido e o amigo viciado mantinham a relação de amizade e, é em
nome desta grande amizade, que o estranho amigo participa do velório. A viúva,
sabendo que seu marido nunca tinha abandonado o amigo, e certa de que este se
afundaria mais ainda com a inesperada perda, lhe procura e, tempos depois, lhe
convida para morar na garagem de casa. Uma atitude irracional, sem dúvida.
Lidar com o luto não é fácil e fica a certeza de que as coisas vão piorar, para
todos. Daí em diante, é previsível a aproximação entre homem e mulher, as
recaídas, as dificuldades, decepções e remorsos. Mas o enredo garante um
epílogo bem melhor que o desenhado e, até surpreendente. Não é minha vontade
aqui narrar o filme e sim de partilhar (um pouco) a delicadeza da situação
vivida pela pessoa amiga que me remeteu o e-mail. Depois de assistir ao filme,
recomendei-o, para que tenha serenidade para aceitar as coisas que não pode
mudar e coragem para modificar aquilo que esta a seu alcance, além sabedoria
para distinguir umas das outras, pois, afinal, quando não se consegue
tranqüilidade dentro de si mesmo, não adianta procurar em nenhum outro lugar.
Refazer a trilha que se vem caminhando, dispensando a devida e merecida atenção
a quem compartilha conosco a jornada, relevando suas faltas, para cruzar a
linha de chegada deve ser uma boa maneira de conseguir a tranqüilidade. Espero
que isto sirva para todos nós, foi o que lhe disse, do fundo de meu coração.
Eita, ia me esquecendo de dizer que Benício Del Toro, é magnífico interprete do
amigo viciado.
Autor: Augusto N Sampaio Angelim - São Bento do Una/PE
Publicação autorizada através de e-mail de
02/07/2012
5 comentários:
Excelente crônica, que veio ao encontro dos pensamentos que venho tendo.
MUITO LINDO SEU TEXTO E REAL.
ME LEMBREI DE UMA FRASE QUE TODOS NÓS FALAMOS OU PENSAMOS QUANDO ALGUEM QUE GOSTAMOS ,E AMAMOS SE VAI
SERA QUE EU DISSE TUDO A ELE??
SERA QUE ELE(a) SABIA QUE EU O AMAVA.
SABE DEIXAMOS A VIDA PASSAR ASSIM... PASSANDO
POR CONTA DE PROBLEMAS DA VIDA DA CORRERIA ,PARA CONSEGUIR CUMPRIR NOSSOS DEVERES E OBRIGAÇÕES QUE, NÃO SAÕ POUCOS DEIXAMOS O QUE MAIS IMPORTA NA VIDA QUE É CUIDAR DAS AMIZADES, DOS AMORES E DAS PESSOAS QUE MAIS AMAMOS .
O EGOISMO NOSSO DE CADA DIA, POR VEZES NÃO NOS DEIXA NEM OLHAR DO LADO NEM SORRIR ,NEM UM BOM DIA SIMPLES QUE, POR VEZES É SÓ O QUE ALGUEM PRECISA PRA GANHAR AQUELE DIA
AS PESSOAS SE VÃO, OUTRAS CHEGAM E AS VEZES SÓ PERCEBEMOS QUANDO ELAS ESTÃO LONGE..
E A VIDA PASSA E NÃO VOLTA ISSO É O PIOR.
QUANDO MEU PAI MORREU ME PERGUNTEI SE ELE SABIA O QUANTO EU AMAVA
E DEPOIS DE 10 ANOS , OLHANDO FOTOS ANTIGAS NA CASA DA MINHA MÃE ACHEI MUITAS CARTAS , QUE EU ESCREVIA DESDE MENINA PRA ELE, DIZENDO O QUANTO EU O AMAVA E ISSO FOI UM BALSAMO PARA MINHA SAUDADE
ELE FOI SABENDO O QUANTO EU AMAVA .
SINTO MUITO PELO SEU AMIGO
EU DE VOCE, ESCREVERIA SIM A ELE POR QUE EU SEI QUE AS PESSOAS, SÓ SAEM DE UM PROBLEMA QUANDO ELAS DECIDEM QUE QUEREM SAIR.
MAS É BEM MAIS FACIL PENSAR E DECIDIR SAIR, QUANDO VOCE TEM A MÃO DE ALGUEM PARA SEGURAR E NESSA EPOCA DE TECNOLOGIA AS VEZES UM EMAIL SEU FARÁ PAPEL DA SUA MÃO SEGURANDO A MÃO DO SEU TÃO SOFRIDO AMIGO
LINDO TEXTO COMOVENTE
OTILIA LINS
Olá, Augusto!
Seu texto retrata muito bem a sensação que temos do quanto somos vulneráveis e impotentes diante dos nossos desígnios na vida e como somos reféns da efemeridade do tempo, que passa sem que possamos intuir sobre o que deixamos passar com ele. E você conclui com muita lucidez, que somente com serenidade é que conseguimos as maiores superações.
Excelente texto, meu amigo.
Um abraço.
Celêdian
Querido, assisti a esse filme também. Intrigante filme. Vale a pena ser assistido e você conseguiu traduzir a ideia tese e aplicá-la às situações de nossas vidas muito bem. Parabéns pelo texto! Abraços!
Obrigado pelo comentário, meu caro Augusto Angelim. Ontem tirei alguns fotos do Feliciano e lembrei do amigo e do seu fabuloso ¨Os outros¨, ambientado naquela localidade.
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