segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quixote e Sancho - Autor: José Carneiro

 
TRAÇOS E RETRAÇOS narrando uma história inacreditável! Tida como verídica, não se sabe até onde vai a verdade, em face da ausência de provas. Conto como a ouvi, através de fartos comentários da cidade. Até hoje, ninguém de sã consciência, pode apontar os nomes dos dois personagens. Os boatos, todavia, assim os identificavam: o primeiro, comerciante, homem alto, magro, empertigado, inteligente, empreendedor e espirituoso. Lembrava o fidalgo cavaleiro Dom Quixote, como a partir de agora será tratado. O segundo, ao contrário, era baixo, barrigudo, cabeça chata, rala cabeleira, desengonçado e com ar de bobo. Agricultor e fazendeiro, era a cara de Sancho Pança, como será chamado.
 
Sancho, apesar de possuir uma grande propriedade agrícola e muitas cabeças de gado, era considerado o rico mais avarento da face da terra. Comentava-se que escondia dinheiro em botija e nos ocos das catingueiras de sua fazenda. Nos dias de feira arranchava-se na mercearia de Quixote, onde comprava os mantimentos da semana. Com o passar do tempo se tornaram amigos.
 
Quixote, certo dia, valendo-se da confiança e da esperteza que Deus lhe deu, mostrou a Sancho o cofre que havia no meio do salão da venda, dizendo que se tratava de um cofre forte, isto é, um móvel de total segurança, fabricado em aço puro, com uma fechadura reforçada e que, além da chave, necessitava de um segredo para abri-lo, que só ele e mais ninguém sabia, salientando que, pesado e resistente, o que nele se guarda deixa o dono certo de sua inteira segurança.

Com efeito, estes e outros argumentos convenceram Sancho e atingiram os objetivos. Tanto é assim que, como num passe de mágica, Quixote do dia para a noite surge como o novo rico. Amplia consideravelmente a mercearia, diversifica o comércio e se torna agricultor e pecuarista.
 
Conta-se que, noutro certo dia, Quixote chama Sancho novamente em particular e, constrangido, confessa que, forçado pela fiscalização do governo, foi obrigado a abrir o cofre e todo o dinheiro nele guardado foi apreendido, alegando-se sonegação de imposto e advertido que ficasse calado sob pena de prisão.
 
Há quem diga que não foi pequena a quantia depositada, muitos contos de réis.
 
Sancho teria dito a um amigo que foi roubado por Quixote, vangloriando-se de não ser tão besta quanto ela pensa, por não ter confiado todo seu dinheiro.
 
Depois disso, Sancho não cruzou mais os batentes da mercearia de Quixote.
 
Os moinhos do Quixote custodiense, ao contrário dos moinhos do Quixote De La Mancha, são por demais verdadeiros.
 














Autor: JCarneiro
Recife - PE
Publicação autorizada pelo autor

Um comentário:

Carlos A. Lopes disse...

Seja bem vindo ao blog José Carneiro.