Maria
Conceição Padilha
Altos
muros circundavam os jardins que embelezavam o prédio de aspecto aristocrático
onde lia-se na fachada: “Escola de Moças Divina Mãe”. Essa foi a primeira visão
que Maria Clara teve ao descer do automóvel em frente ao seu novo endereço.
Sendo
ela a terceira filha de uma família abastada, da pequena cidade de Rosa Branca,
para satisfazer a vontade dos pais em vê-la habilitada o suficiente, para
candidatar-se a um casamento próspero, com algum filho de fazendeiro rico, a
jovem é enviada a melhor escola da capital, para prendar-se e assim fazer jus a
um belo dote.
Após
atravessar o longo corredor, Maria Clara entra em seu novo quarto. Há muito
esmero e bom gosto no aposento onde a jovem inicia a desfazer as malas.
Lágrimas correm de seus olhos ao lembrar dos pais e das irmãs mais velhas,
Maria Lúcia e Maria Izabel, lembra também do casarão onde morava com seus
familiares e alguns criados. Tudo tão distante...
A
jovem acaricia a última mala, seus pertences íntimos, todos os rascunhos e
manuscritos que revelam o seu verdadeiro sonho... escrever.
Socorro
Beltrão
Clara
abriu a mala cuidadosamente. Com verdadeira adoração, pegou seus manuscritos e
os guardou na
primeira
gaveta da cômoda, a única com chave, ótimo. Trancou e guardou a chave no bolso
da saia. Apanhou a fotografia da família e a colocou bem à vista, em cima do
móvel. Não sem antes beijar e acariciar um a um, os rostos sorridentes de seus
entes queridos. Antônio, seu pai, Ana sua Mãe, Lu e Bel. Voltou a mala, retirou
e arrumou as imagens de Santa Terezinha e da sagrada Família, presente de sua
vó Alice. “Você pensa que não vi suas lágrimas? Vi sim vozinha! Mas em breve
estarei de volta”.
Assim
começa uma nova vida para Clara. Acordar cedo, aula de catecismo, português,
literatura, etiqueta, piano, violão, canto, educação para o lar, pintura,
bordado, tapeçaria, crochê... Até aula de jardinagem... Mas Clara queria
aprender línguas, sonhava em viajar pelo mundo, conhecer novos povos, novas
culturas... Sonhava em escrever.
Porém
como sempre foi uma filha obediente, seguia as ordens dos pais e gostava de
aprender e entender de tudo. Aproveitou bem sua estadia no colégio, como
também, a vasta biblioteca. Nas horas vagas ficava à sombra de um lindo flamboyant,
caneta e papel na mão, escrevendo um novo conto. O lugar era lindo e lírico, a
levava a viajar nas suas histórias.
Cristhian
Dias
Quão
doce, eram os momentos em que aquela ainda quase menina, sentava-se na grama
verde, e sentia o frescor da brisa suave em seu rosto. Aquilo para ela era um
agrado que Deus lhe enviava. Benditos, eram os momentos que ela sentada, sobre
a árvore, começava a escrever suas histórias.
Clara
tivera uma infância e pré-adolescência maravilhosas, desde pequena fora cercada
pelos livros, dos mais variados gêneros, tomou gosto pela leitura, quando sua
governanta, Serafina, por não saber ler, ficava horas ouvindo-a ler para ela...
Depois Serafina foi embora para morar na capital, seguindo seu coração, diziam
que ela estava esperando um segundo filho, apesar de Clara não ter conhecido o
primeiro que ela deixara com sua mãe ao ir trabalhar com sua família.
Gostava
de livros de aventura, sua heroína favorita era a guerreira Joana D’Arc,
acreditava, piamente, em todos os relatos de sua famosa história...
Neste
dia, Maria Clara escrevia, distraída não percebeu a chegada de alguém, só
quando ele tossiu para chamar-lhe a atenção, ela saiu dos seus devaneios, era o
Raul, jardineiro da escola, ela lhe sorriu, gostava da companhia do rapaz, começaram
a conversar e Clara descobriu, para sua surpresa e alegria que ele era o filho
de sua querida Serafina.
Saíram
a caminhar, felizes se puseram a correr...
Zélia
Borges
Pararam
ofegantes, e agora de mãos dadas, o coração de Maria Clara bateu forte, mas a
razão falou mais alto. Lembrou-se de seus princípios religiosos e da obediência
a seus pais. Saiu correndo e retornou ao casarão. Da janela do seu quarto, viu
Raul seguindo seu caminho.
Pássaros
vinham do lado oposto.
Abriu
a mala e dela retirou um livro de páginas amareladas pelo tempo, presente de
sua avó materna, foleou e leu: “As andorinhas viam agora em sentido contrário
ou não seriam as mesmas, nós é que éramos os mesmos; ali ficamos somando as
nossas ilusões, os nossos temores, começando já a somar as nossas saudades.”
Sua
beleza é como uma rosa em botão se abrindo. Sua figura naquela janela é um dos
mais belos quadros, que com certeza Van Gogh, Portinari, Da Vince... Gostariam
de pintar.
E ali
ela chorou.
Maria
Conceição Padilha
A vida
segue tranquila na grande instituição educacional, onde Maria Clara adentra-se
no universo de modos, atividades e posturas que a tornarão a dama esperada
pelos seus pais, estando assim a altura de um marido rico ou até um nobre.
O
tempo passa, mas não passa em Maria Clara a saudade de um passado não tão
longínquo. Vem as lembranças de seus sonhos e desejos distantes, mas não
apagados, e junto a eles, ao lado do seu último manuscrito, está o retrato do
mulato bonito de olhos verdes, o rapaz pobre que a guerra o chamou. Raul, seu
amor secreto. Único homem que roubou seu coração. Chove naquela tarde de
outono. O silêncio é grande por todo educandário, até o momento que uma
campainha toca e Maria Clara é chamada à sala da direção onde é aguardada pela
madre superiora que lhe entrega um telegrama. Ali mesmo em frente a
catedrática, a jovem nervosa, trêmula, medrosa, abre a correspondência. As
lágrimas que correm pelos seus olhos, não passam despercebidas a religiosa que
é obrigada a inquirir: notícias ruins? Ao qual a jovem aos prantos e como se a
ler estivesse, responde: “familiar mal, venha depressa.”
Como
em um vôo de liberdade a jovem atravessa o longo corredor até seu quarto. Entra
e substituindo as lágrimas anteriores, junta-se as lágrimas boas de felicidade
quando retornando ao telegrama lê: “Voltei, retorne para mim, Raul”.
AUTORES DA OBRA:
SOCORRO BELTRÃO, CRISTHIAN DIAS, ZÉLIA BORGES E MARIA CONCEIÇÃO PADILHA
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