Quando eu era criança ouvia os mais velhos dizerem uma frase que reportavam à bíblia: “a mil chegará, de dois mil não passará.” Era o apocalíptico fim do mundo, segundo a crença de muita gente. Ficava temeroso mas um tanto aliviado. No ano de 1999 ia estar com 37 anos e já teria vivido demais. Para uma criança, alguém de trinta e sete anos é um velho. Medo, no entanto, eu tinha algum. Afinal, qualquer pessoa saudável não quer morrer mesmo estando “velho”. Isso me acompanhou durante muito tempo. Passei a não gostar tanto de revellions. Eles abririam as portas para a epifania do fim dos tempos. Cada ano uma porta. Cada porta um passo para o encurtamento da vida. Eu fui crescendo e passei a fazer a minha própria interpretação bíblica. A bíblia é tão enigmática, tão metafórica, tão cheia de dedos humanos que isso acaba acontecendo: cada qual interpretando de acordo com suas vontades, suas convicções e até mesmo interesses mais inconfidentes.
Já mais familiarizado com a matemática, descobri que o fim do mundo poderia ser no ano de 2999. Ainda estaria dentro da casa dos 2000. Relaxei e tratei de rever planos e despachar as dúvidas. Investi na longevidade em pensamento. Digo em pensamento porque os cuidados com a matéria corporal não recomendam que eu tenha tanta vida útil. Veio o século XXI, a terra continua inamovível, apesar de um tanto mais maltratada pelo homem, mas nada que assuste a ponto de acreditarmos que sua destruição é iminente. Confesso que fui feliz muitas vezes. Tive muitos problemas, nem todos que imaginava e também alguns que imaginei acontecerem comigo. As alegrias, entretanto, foram maiores. Planejo até ver netos crescerem um pouquinho...
De 1970 para cá eu me lembro muito bem de todas as copas do mundo. E é através delas que vou agora contanto meu tempo por estas bandas. Teremos no próximo ano mais uma e a de 14 será no Brasil. Não vai dar para ir a todos os jogos pois fortuna não fiz e creio não mais fazer até lá. Se bem que não é meu interesse ser mais afortunado do que já me considero com os afetos que construí até hoje.
A última previsão do flagelo final é para 2012. Justo quando eu resolvi que vou completar 50 anos. Será que o ano desse fim chega até setembro?
Desejo a todo mundo vida longa, muita saúde e paz em 2011 e por todos os anos que ainda nos restarem dentro desses quase nove séculos que ainda virão, segundo minha interpretação. Paz e bem.
Autor: José Cláudio - Cacá - Belo Horizonte/MG
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 09/12/2011
Um comentário:
Minha mãe sempre conta que os mais velhos diziam: ¨A 2000 o mundo não chegará!¨ Adorei!
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