Assim que cheguei à aldeia, fui à casa do cacique
que está cuidando de mim. Ajeitei as minhas coisas, prendi minha rede e, antes
que saísse para o moitará (sistema de trocas de mercadorias), um pensamento
excitado ocorreu-me: “Ai, Deus, cheguei aqui! Estou tão agitado! É aqui mesmo
que o Senhor quer que eu esteja? Todo mundo falando comigo nessa língua bela,
mas ainda tão estranha para mim... Fala o Senhor comigo, de uma maneira que eu
entenda, por favor!”. Virei e saí para o moitará que já acontecia bem atrás de
mim. Eles riam e conversavam alegres entre si. Eu não entendia nada e ficava só
olhando. Foi quando um índio entrou na casa do cacique e entregou para ele um
calendário daquele ano com uma lindíssima arara vermelha na capa. O cacique
pendurou o calendário bem à frente da porta de modo que é a primeira coisa que
alguém vê ao entrar na casa. Aproximei-me para ver aquela linda arara, quando,
em letras pequenas, naquela foto inesperada, vi escrito no calendário: “Eis que
faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que
porei um caminho no deserto e rios, no ermo” Is 43:19. Depois disso, todos
esses dias na aldeia, logo de manhã já olhava aquele calendário, não para ver a
exuberante arara, mas para estremecer de perplexidade diante daquele a quem eu
sirvo: o Deus vivo, que fala comigo.
Publicação autorizada pelo autor em 29/05/2012
2 comentários:
Querido Carlos, ter meu texto no Gândavos é uma grande honra, tendo em vista a qualidade dos escritores que aqui publicam. E espero que este possa ser o primeiro de muitos textos que narrarão uma maravilhosa caminhada em que fui protagonista privilegiado!
Abraços!
Deus falando contigo meu querido. Esse nosso Deus, é incomparável!
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