terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mudança de sexo - Autor: Roberto Rego

A comadre Alzira era um pedaço de mulher, pele clara, negros cabelos, olhos de jabuticaba, reforçada de corpo, braços e pernas roliças de dar água na boca de todos os homens do Capão Bonito, lugarejo encravado lá pras bandas da Serra da Canastra, região de Capitólio, Minas Gerais.

Esposa do Major Tenório, policial militar reformado, truculento de natureza, fazendeiro do lugar, Dona Alzira chamava a atenção de todos quando vinha à cidade de Capitólio para fazer compras, especialmente tecidos e armarinhos, mulher prendada que era, chegada à confecção de vestidos, blusas e peças do vestuário feminino. O marido, sempre ao seu lado, parecia um cão de guarda, sempre atento a tudo e a todos, não desgrudando os olhos da mulher. Um caso sério o ciúme doentio desse homem.

Vizinho deles em Capão Bonito, o compadre Armando, criador de ovelhas, babava de amores contidos pela comadre Alzira. Volta e meia aparecia lá na fazenda do casal, levando um carneirinho mamão pro Major Tenório fazer um assado, conhecedor que era dos seus gostos e das suas manias. Ficava de olhos compridos pra cima da comadre, mas ela não lhe dava a menor bola, ainda mais na presença do maridão, é claro! E o compadre Armando ficava na sua.

Certa feita o Major Tenório viajou para Goiás a negócios, onde pretendia comprar algumas vacas e um touro reprodutor para o seu rebanho. Após passar várias recomendações à sua mulher, o militar encetou a viagem, prometendo voltar o mais ligeiro que pudesse.

O compadre Armando, sempre por dentro do que se passava no Capão Bonito, mal o fazendeiro partiu ele apareceu por lá montado no seu cavalo alazão, afobado e nervoso como de hábito. Chegou no galope, amarrou o cavalo próximo à entrada da sede e foi logo batendo palmas e gritando:-

“- Comadre Alzira, oi comadre!... Tou chegando! ...” – Dona Alzira surgiu na varanda que circundava a enorme casa e admirou-se:-

“- Compadre Armando, que surpresa! O Tenório não está, ele viajou, sabia? ...”

“- Sim, minha comadre, tou sabendo! Mas posso entrar pra uma conversinha rápida?”
Dona Alzira franziu a testa, pensou e respondeu com tranqüilidade:-

“- Sabe, compadre? Eu tou precisando de ir até o centro da vila do Capão Redondo, mode comprar umas coisinhas de armarinho. Vamos comigo e no caminho a gente vai conversando, o que o senhor acha? ...” – e ele, rápido que nem um corisco:-

“- É pra já, comadre! Deixo o alazão aqui e vamos na sua charrete, pode ser?”

“- Mas é claro. Então vamos logo!...”

E saíram os dois na charrete puxada pelo “Mimoso”, um cavalinho pampa ligeiro que só ele. Ultrapassaram a porteira, depois o mata-burro e em seguida pegaram a estradinha de cascalho que levava ao vilarejo. Compadre Tenório conduzia a charrete com Dona Alzira ao seu lado, ambos alegres e proseando bastante. Andaram uns quinze minutos e a comadre virou-se:-

“- Aiii, compadre Armando! Tou precisando fazer um xixi! ... Pare ali próximo àquelas moitas, vou pro mato! ...”

O compadre parou a charrete, Dona Alzira subiu um pequeno barranco, acomodou-se por detrás duma grande moita de grão de galo, levantou a saia, abriu as pernas e virou aquele bundão branco e redondo pros lados da estradinha. Daí a pouco lá vem o sorrateiro do compadre Armando, escalou o barranco e deparou com aquele belo cenário, sem dúvida nenhuma a visão dos seus sonhos. Agachou-se, veio que nem um gato por trás, esticou o braço e botou a mão grande, espalmada, por baixo das intimidades da comadre Alzira, no justo momento em que ela expelia um baita tolosco dos seus intestinos. O compadre acusou o recebimento da carga e perguntou:-

“- Uai, comadre, a senhora mudou de sexo??? ...” – e a Dona Alzira, rapidinho:-

“- Não, compadre, eu mudei foi de idéia! ...”


Autor: Roberto Rego - Belo Horizonte/MG

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