domingo, 18 de dezembro de 2011

Conto de natal - Autora: Celêdian Assis

Caía a tarde, já se pintava no horizonte uma aquarela de belos tons, sol desmaiando lentamente, trazendo as cores de fogo, sob os azuis que aos poucos, acinzentavam-se. Cenário perfeito para ele, aquele ancião, que da varanda, em sua cadeira de balanço, embalava seus pensamentos e alimentava a sua sabedoria.

Já fazia parte de sua rotina diária sentar-se ali e meditar sobre a beleza que existe nos contrastes, dos sóis e luas, das cores da vida. Não raro passava por ali uma menina, faceira, que lhe interrompia os pensamentos. Ela, esperta e curiosa, sempre sorridente parava para cumprimentá-lo e para fazer-lhe perguntas sobre as coisas mais triviais, o que sempre rendiam boas conversas. Ela, com a natural simplicidade de criança, o levava a transportar-se para o mundo de fantasias.

Nessa tarde, a menina chegou, abraçou-lhe e contou-lhe algumas façanhas do dia, o que ele ouviu atentamente e ao final sorriu um daqueles sorrisos ternos, que pareciam consentir que ela o transformasse em criança. A conversa enveredou-se entre muitos temas, até que de repente, sem nenhum embaraço, ela pergunta ao ancião: - O senhor acredita em Papai Noel?

A pergunta tomou-o de súbito espanto, mas tão logo se recuperou, tomou-lhe as mãos, olhou-a com ternura e começou a contar-lhe uma história:

Quando eu era ainda um menino, esperava pelo dezembro com muita ansiedade. Eram dias nos quais eu me sentia muito feliz. Não havia luzes coloridas enfeitando as casas, como as de hoje, mas havia sempre no canto da sala a árvore feita de galhos de pinheiro, com as bolas multicores e era como se cada uma delas guardasse os meus sonhos. A família parecia transbordar de amor e uma alegria incontida tomava conta da casa. Meus pais davam a mim e aos meus irmãos, sapatos novos, logo no início do mês e diziam que deveríamos guardá-los até a noite do Natal, quando então os colocaríamos na janela, para recebermos os presentes que Papai Noel nos traria. Por muitos e muitos anos eu acreditei que Natal significava “dia de ganhar presentes”.  Pois bem, eu crescia e assim como você agora, passei a perguntar-me se Papai Noel existia. Muitas vezes fiquei em dúvida, pois eu convivia com outras crianças e algumas nunca ganhavam presentes, na casa delas não havia sapatos novos para se colocar na janela e seus pais às vezes, não se importavam com o Natal. Eu só entendia que aquilo não era justo e se ele existisse mesmo, não se importaria de deixar presentes, mesmo que não houvesse sapatos na janela, ou árvores na sala. Foi daí que comecei a pensar no verdadeiro significado do Natal e fui crescendo até envelhecer, sempre pensando e agora me vejo aqui diante de você elaborando a resposta para a mesma pergunta, a qual me fiz a vida toda.

Então eu lhe digo: eu acredito em Papai Noel, pois ele tem me dado um presente a cada dezembro, que me sinto vivo. Entendi que não preciso dos sapatos novos e nem preciso receber caixas com laços de fitas, apenas preciso sentir a presença dele na minha imaginação, esperando sempre por ele num próximo dezembro. Presente significa, receber da vida o que é fundamental para te fazer feliz e em cada momento dela descobrimos o que é realmente importante para nós. Então, minha linda menina, nesse Natal já recebi o meu presente e você é o meu Papai Noel. Este sorriso que me trouxe, o abraço terno e sua meiguice de criança fazem com que eu me sinta de novo feliz, como nos tempos de menino.

A menina sorveu cada palavra e entendeu que Papai Noel existe e que ele é o próprio presente, o que escolhemos para manter viva a magia dentro de nós.


Celêdian Assis – Belo Horizonte/MG
http://sutilezasdaalmaemente.blogspot.com/

Publicação autorizada atraves de e-mail de 12/12/2011

8 comentários:

Patricia disse...

Adorei! Aliás, adoro natal. Natal é o que Celêdian escreveu: um texto bem tradicional. Temos o ano todo pra criticar o governo e o mundo, no natal falar de natal, senão perde a graça.

Celêdian Assis disse...

Obrigada, Patrícia, fico feliz que tenha apreciado meu texto. É preciso manter vivo o espírito de Natal, alimentar esperanças, reavivar afetos e até acordar a criança que existe em cada um de nós.
Um abraço e que você tenha um felicíssimo Natal.
Celêdian

Carlos A. Lopes disse...

Concordo Celêdian. É preciso manter vivo o espírito natalino. Temos o ano todo para criticar dirigentes e coisa e tal. Afinal, é preciso sonhar um pouco, faz bem a alma e ao coração. No dia primeiro a gente pega pesado na vida. Por enquanto, só clima natalino e festejar o ano novo. Feliz natal Celêdian e um ótimo ano que se aproxima.

Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto sobre o natal. Muito bem escrito. Bom natal.
José Elias Farias
Casa Amarela - Recife Pernambuco

Carlos Costa disse...

Belo conto de Natal, muito bem escrito e com muita sensibilidade poética também. Parabéns!

Celêdian Assis disse...

Obrigada, José Elias, Carlos Costa e Carlos Lopes, pela leitura e pelos comentários.
No ensejo desejo-lhes um excelente ano novo.
Um abraço.

Carlos A. Lopes disse...

Celêdian Assis, fico feliz que tenha apreciado o meu De tanto melhorar o diabo estragou a mãe. Obrigado pelo comentário gentil.

chagoso disse...

Exelente texto. Uma abordagem linda sobre o tema.