domingo, 18 de dezembro de 2011

Presépio - Autor: Roberto Rêgo

Os tempos mudam, as coisas se transformam. Dezembro ... Época de festas, de alegria, satisfação se refletindo em faces sorridentes, amor profundo dilatando pupilas em olhares cálidos, terrivelmente humanos, sinos repicando, canções natalinas, luzes, vinhos, presépios, cheiro de Natal em tudo.

Natal, festa máxima da cristandade, data comemorativa da vinda de Cristo ao mundo. Ele, que foi o Salvador dos homens.

Crianças mil, brancas, negras, ricas e miseráveis, esperam presentes do papai ... Já não mais crêem na estória do Noel, sujeito barrigudo, aborrecido, gordinho e luzidio como os homens do governo.

Governo ... Não sei porque, mas quando digo tal palavra lembro-me da minha avó, dona Maria Felix, a saudosa “Vó Fela”.

 Ela, sempre atarefada, avental sujo de gordura pendurado na barriga enorme, sacudindo o corpanzil através os cômodos do casarão antigo em minha saudosa terra, Cedro, dizia-me toda desdém, se eu pecava no cumprimento das suas ordens e determinações:-

“- Égua do governo ...”

Pois é, Papai Noel é rosadinho como os homens do governo. Safados.

“- Égua do governo ...”

Fui à igreja na noite do Natal. Queria rezar um pouco. Entrei com o devido respeito, acomodei-me num banco e, após algumas orações balbuciadas maquinalmente, dirigi-me ao presépio gigantesco, armado ao lado do altar de São Judas.

        Vi o Menino-Deus no estábulo que era na gruta, o burro e a vaca, figuras seculares, Gaspar, Belchior e Baltazar, os reis magos e um tatu grande, feio, disforme, lá no fundão da gruta.

Sim, um “tatu-galinha”, fazendo não sei o que no presépio pois ele gosta é de cemitério. Mas esse estava lá, intrometido entre os pastores e demais figurantes daquela noite santa ...

Autor: Roberto Rêgo – Belo Horizonte/MG

Publicação autorizada através de e-mail de 17/12/2011

2 comentários:

isnaldo_lins2010@hotmail.com disse...

Sábia vó Fela, colega Roberto Rego. Ela tem toda razão: ¨Égua de governo¨. Excelente crônica de natal, muito bem escrita! Parabéns. E feliz natal para todos.

Carlos A. Lopes disse...

Amigo seu texto Presépio é uma delícia! Parabéns Roberto Rego.