Era
por ali o nosso caminho de quase todos os domingos. Depois de alguns poucos
quilômetros de uma rodovia, por opção, adentrávamos àquela cidadezinha onde
servia-se sorvetes deliciosos.
No carro a maior algazarra. Meu filho, ainda criança, e a sua “tchurma” sempre
muito animada. E bota animação nisso!
Tomávamos todos os sorvetes à que tínhamos direito e seguíamos rumo às cachoeiras, os riachos, para nossas tardes de pescarias.
O programa era quase sempre o mesmo, mas a agitação dava o tom de algo
inédito à cada fim de semana.Tomávamos todos os sorvetes à que tínhamos direito e seguíamos rumo às cachoeiras, os riachos, para nossas tardes de pescarias.
Quase na saída da pequena cidade, numa curva, uma oficina mecância chamava à atenção ostentando sobre um pequeno pedestal de madeira, um boneco de lata com um sorriso macabro segurando um facão em cada mão. De acordo com a velocidade do vento o mesmo movia os braços como se estivesse desafiando alguém com aquelas armas brancas.
Os meninos adoravam! E lugar comum era darmos uma paradinha para que a galera
se divertisse.
Um pouco mais adiante, uma casa... Uma casa de madeira,totalmente descorada pelo
tempo e sempre fechada.
Encolhida por trás do arvoredo numa ruazinha transversal, isolava-se na paisagem
que lhe oferecia do outro lado nada além de uma cerca aramada e a vastidão dos
campos com algumas araucárias, aqui e acolá.
Enquanto os meninos reverenciavam o seu boneco de latas, em devaneios eu
adivinhava histórias de vidas entre aquelas paredes rôtas. Tôdas, sem excessão, repletas de mistérios, enigmas e solidão, é claro.
O tempo passou tão rápidamente e com êle conduziu as crianças de então, para o
mundo da adolescência, da juventude, quando libertos dos ninhos
buscaram para seus vôos os céus de suas preferências.
Domingo à tarde. Meu filho e eu,(êle agora com seus vinte anos) retomamos, sem
premeditar, o mesmo trajeto de antes. Coisa que há muitos anos não mais o
fazíamos.
Veio-nos à lembrança, a “curva do boneco” como eles a denominavam.
Surpresos, percebemos que este não mais existe. A ferrugem certamente o levou
para as dimensões dos bonecos de lata. Restava ainda por ali um corroído
carro vermelho, parcialmente encoberto com uma lona preta, que um de seus
amigos insistia em afirmar tratar-se de uma “Ferrari”. Pode?
...E a casa enigmática, do mesmo jeitinho que a conhecemos outrora. Desci do
carro e a fotografei enquanto ruminava algumas lembranças.Senti saudade
das minhas crianças ,e até do boneco de latas. Senti na boca o sabor dos sorvetes
de outrora, e confesso: se naquela tarde não
fizesse tanto frio, iria procurar pela antiga sorveteria e refastelar-me
aos sabores de creme e chocolate.
Retornando ao carro, fui indagado por meu filho:
_E a foto desta casa “caídaça”, serve pra quê?
Hesitei um pouco e lhe respondi:
_Sei lá!...Álbum de recordações, talvez.
_Sei lá!...Álbum de recordações, talvez.
E com meus botões fui confabulando: Vou registra-la antes que, à exemplo do boneco de latas, também ela vá para outras dimensões.
As dimensões das casas "caídaças"!
Autor: Iratiense Joel Gomes Teixeira -
Irati/PR
Publicação
autorizada pelo autor através de e-mail de 03/04/2012
2 comentários:
Olá! Registramos as imagens que são importantes para nós, as que tem conotação afetiva, não tanto pela beleza em si. Adorei ler!
Prezada Ana Bailune.Esta crônica foi escrita há quase dois anos atrás.Dia dêsses,passando pelo mesmo local,pude observar que ela já foi demolida.Valeu aquele registro que fiz e que encontra-se estampado no texto na m/página no Recanto das Letras.Hoje ela descança nas "dimensões das casas caídaças" rsrs...
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