Dizem
que um livro é uma casa de ouro. Tive a grata satisfação ser presenteada com o
ouro do meu amigo Carlinhos de Zé das máquinas, era assim que Carlos Lopes era
conhecido na nossa Custódia. “Dedos de prosa” afloraram doces lembranças, vivas
nas gavetas de minha memoria. Senti a mesma sensação quando um monomotor
singrava o espaço aéreo de Custódia, era um alvoroço, o povo sai de dentro das
casas para olhar o céu, a meninada corria e gritava. As meninas não tinham a
mesma liberdade dos meninos de correr até o campo de Pouso, ficávamos sempre na
barra da saia de nossas mães sob olhar vigilante das mesmas. Oportunidades como
essas de reviver meu universo são valiosas. Vivíamos numa época sem televisão.
Lembro-me que o grande acontecimento era assistir filmes nos finais de semanas
no cinema do pai de Carlinhos. Havia um trato, o filme só começava depois da
missa. O bom cristão tinha que assistir a missa toda semana. Minha mãe católica
convicta levava sua prole à igreja depois da missa passávamos correndo na farmácia
para nosso pai nos dar o dinheiro dos ingressos e íamos ao cinema com o coração
saindo pela boca. Quem chegasse primeiro pegava os melhores assentos. Era
emocionante ficar esperando o Leão da Metro Goldwyn Mayer abrir a boca
anunciando que a película ia começar. Uma ocasião o padre se estendeu muito na
homília e nos avisos. Estávamos ansiosos para irmos ao cinema ver um clássico
da sétima arte: Bonanza. Meu irmão Marcelo ficou impaciente, pois não queria
perder nenhum pedacinho do filme. Finalmente quando o padre falou: Vão em paz e
que o Senhor os acompanhem. Meu irmão gritou em alto e bom tom: AMÉM. Diante
daquela insubordinação nossa mãe ficou brava e não deixou que ele fosse ao
cinema. Ele foi para casa chorando na maior frustação. Por causa dessa e outras
ele se tornou ateu.
Lembro-me
do filme polêmico que foi apreendido pelas autoridades. O comentário da cidade
no dia seguinte era que após o filme os marmanjos fizeram fila na Rua do
Sipitinga, a procura das meretrizes.
Sempre
digo que a poesia não existe apenas em versos. Vejo fotos e gravuras que
considero poemas visuais. Na hora que vi a capa do livro fiquei encantada com a
cena. Gostei de saber que aquela menininha da gravura é minha amiga Das Neves,
irmã de Carlinhos. Também gostei de ver a gravura de dona Celeste, aquele
sorriso eu conheço bem. Ele me acolhia quando eu ia à casa de dona Celeste
estudar com Nevinha. Parabenizo o artista Edmar Sales pelo belo trabalho e a
você Carlinhos pela gentileza de compartilhar comigo suas boas prosas, Um abraço
da sua irmã sertaneja, Jussara Burgos.
Helena Jussara Pereira Burgos Monteiro - Luziânia/GO
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7 comentários:
Tenho muitos livros na cabeceira e vou lendo aos poucos a fim de entender a mensagem do autor. Sou fanática por literatura e sei apreciar o que é bom. Tenho um carinho especial por livros onde o autor narra experiências de vida com sensibilidade, principalmente quando narra momentos inesquecíveis da infância. Em se tratando do livro “Dedos de Prosa”, quando vi a capa já me encantei com a imagem, ela me levou de volta aos meus tempos de menina. Que livro bonito! De conto em conto, Carlos soube guiar o leitor através de suas letras e abriu portas de um tempo que numa ou noutra cena nos sentimos presentes.
Olá, Carlos. Estou na metade do livro, e para mim, foi como rever um pouco de minha própria história. Lembrei-me de muitas coisas que aconteceram comigo nos meus tempos de criança, e a leitura é leve e saborosa. Um grande abraço!
"Dedos de Prosa" deve ser uma gostosa viagem à infância do autor, narrada em contos e crônicas, mas ainda não li. Eu o lerei em breve, assim espero
Li o livro do meu tio e o texto de Jussara me fez entender melhor aquela época ou os feitos daquela geração. É evidente que, como diz meu tio, o livro mistura ficção e realidade. O testemunho de Jussara separa a ficção da realidade e nos faz melhor entender essa época singular onde a massificação não existia. Um abraço e parabéns Jussara Burgos.
Infelizmente não li o livro. Adorei o comentário de Jussara Burgos.
Que lindo e sensível depoimento de Jussara, emocionado e emocionante! Nota-se a emoção fluindo a cada "relembrança" que o livro lhe despertou e como o resgate de momentos comuns tem o condão de comover as pessoas. Isto sim é dos pontos altos da boa literatura, quando o leitor assimila a mensagem do autor e se deixa envolver pela leitura. Dedos de Prosa, assim como A Saga de Um Pedro, são relatos intimistas que convidam a esse envolvimento, pois o autor narra com extrema naturalidade, a simplicidade do cotidiano das pessoas, tornando verossímil o que é ficcional e dando vida ao que é real. Carlos Lopes tem esta característica marcante, o que faz com que a leitura de sua obra seja tão gratificante. Parabéns Jussara pelo belíssimo depoimento.
Um abraço para ambos,
Celêdian
Amiga Celêdian, o comentário da amiga Jussara Burgos também me emocionou muito. Celêdian, Jussara (juntamente com outros amigos lá de Custódia) criaram o Grupo de Teatro Os Gandavos e você não tem idéia o quanto foi importante para cultura local. A partir desse grupo recebemos em nossa cidade outras peças de teatro e, anualmente, recebiamos a visita de um ator chamado Nino Honorato. Ele, daquela famosa escola de grandes atores sempre trazia um monólogo inesquecível, basta citar As Mãos de Eurídice e Esta noite choveu prata. Enfim, falar da importância de Jussara Burgos na cultura da nossa cidade é preencher páginas e mais páginas. Um abraço a Jussara e obrigado a você Celêdian que indiretamente já faz parte da cultura da nossa Custódia.
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