Joca
e Juca eram irmãos gêmeos, loucos por macarrão. Nascidos numa cabana plantada
num pé de serra nos cafundós do sertão, não tiveram como freqüentar a escola.
Assim como os pais; analfabetos de corpo e alma. Viviam mais do que a natureza
oferecia do que do próprio trabalho nas lavouras de subsistência que cultivavam
juntos aos pais; nas barrancas de um caudaloso rio.
Como
selvagens que sempre foram alimentavam da caça e da pesca muito abundante por
sinal, e que nunca faltou. Quase não tiveram contato com a civilização, eram de
fato como feras mal domadas e ariscas. Mesmo assim prestativos apesar de rudes.
Adoravam as maravilhas da cidade que os pescadores lhes doavam, em troca de
pequenos favores, na montagem e desmontagem dos acampamentos, por ocasião de
suas estadias nas pescarias realizadas por grandes empresários naquelas
paragens do imenso sertão.
Ficaram
maravilhados quando ganharam vários pacotes de macarrão nunca tinham degustado
coisa tão saborosa. Joca logo teve uma brilhante idéia separou um pacote e
disse ao irmão: - o qui cocê acha di nois prantá esse macarrão mai miudim? Mode
quês negoço é Bão dimai sô! Nois pranta no intrimeio do pé de miiu, nun conta
nada pu pai mode quando El vê na coiêta vai ficá danado de filiz e tê muitu
orguii de nois. El mais mãe tumem gosta dimais dês trem!
Plantaram
o macarrão cortado, esperaram e nada dele nascer disseram um para o outro –
cêssabe dun a coisa mode essetrem nascê nois vai tê de ponha aquel tar mõio
cusome insinô pra mâe mode ficá mió. Quando nois ganhá mais, nois vai
isprementá. As veis vão Cê mió nois prantá aquel cumprido qui parece cas
lumbriga dus porco!
Quando
os pescadores descobriram a falcatrua dos caipiras plantando macarrão,
penalizados resolveram levá-los à cidade para conhecerem a fabrica de macarrão.
Os pais não opuseram a viajem, afinal tinham consciência que seus filhos
precisavam conhecer as modernidades do mundo.
Na
cidade eles ficaram encantados com tanta gente e tantas casas, quiseram
conhecer também as fabricas de arroz e feijão, se fabricava macarrão a partir
do trigo conforme souberam deveriam fabricar outros cereais também. Era a
primeira vez que foram à cidade não conheciam alem do mato. Voltaram contando
as novidades aos pais dizendo como eram interessantes as lamparinas feitas de
umas cabacinhas brancas penduradas em cipós coloridos de vermelhos.
Passou-se
o tempo e o sonho de voltar à cidade era constante e tentador. Um dia ajeitaram
sua matula e com autorização dos pais partiram, queriam conhecer mais coisas.
Resolveram cortar a estrada por uma trilha, e se perderam na mata a comida
acabou e a fome apertou, dois dias revirando o mato sem encontrar uma saída. Em
fim descobriram uma via mal conservada que poderia dar acesso a um lugar
qualquer, a fome era tamanha que estavam dispostos a comer qualquer coisa até
um lagarto servia. De repente depararam com um cadáver de homem. Desovado
talvez, por uma quadrilha de assaltantes. Juca logo disse ao irmão; qui tar
nois abri a barriga dês morto as vêis da mode cumê o qui tem dento.
E
qual não foi à surpresa estava cheia de puro macarrão branco... Nois ta é
danado de sorte disse o joca. – ieu num quero num vô cumê ees trem friu - bão
dimais-, ocê nu querê pruquê mais mitoca! Respondeu o Juca. Andaram mais um
pouco, enojado do que fizera, Juca vomitou tudo, e joca parando o vomitado com
o chapéu disse:- Ah agora sim dá mode ieu cumê o treim ta quente... Brigado
irmão docê isquentá modi ieu cumê!
Geraldinho do Engenho - Bom Despacho/MG
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 23/04/2012
Um comentário:
Muito bom mesmo! Aliás, aí em Minas vocês contam histórias como ninguém. Parabéns Seu Geraldo.
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