sábado, 28 de abril de 2012

Que maldade - Autor: Nêodo Ambrósio de Castro

Derrubaram a casa do joão-de-barro, coitadinho, que maldade o que fizeram com a família do joão-de-barro.
O papai joão-de-barro tentou buscar o ninho dos seus filhotes, não deixaram o pobre do pássaro entrar na casa semi-destruída.
Mamãe joão-de-barro chorando escondia os filhotes sob as asas, tentando protege-los da descabida violência. De longe assistiam a peleja. Atearam fogo em sua casa. Quem foi?
Não sei, respondeu o bem-te-vi, eu estava de costas, não pude ver o rosto do invasor. O pardalzinho, coitado, só viu a roupa, estavam com os rostos cobertos com uma coisa que parecia uma máscara, igual essas que os motoqueiros usam.
E agora para onde irá o joão-de-barro e sua família?
Estão andando pela cidade, não encontram comida nem local para dormir. Estão todos ocupados. Vamos dormir sob a marquise, sugere a mamãe joão-de-barro, pensando na proteção dos filhotes. Mas papai joão-de-barro retruca:
- E se nos pegam dormindo? Se atearem fogo em nós? E se nos expulsarem ou nos chutarem e espancarem? Não. Sob a marquise não é um lugar seguro.
- Para onde vamos então? Insiste a mamãe joão-de-barro.
- Vamos tentar a beira da estrada, talvez nenhum bicho do mato nos ataque durante a noite. Talvez encontremos um ninho fofinho para os filhotes.
- E a comida, onde a conseguiremos? 
- Ora, alguém há de nos dar, se pedirmos. Se ninguém se compadecer de nós, então só nos resta morrer de fome.
Mamãe joão-de-barro se põe a chorar. Que maldade, porque fizeram isso com a nossa casa que levamos tanto tempo para construir?
Responde o pai joão-de-barro:
- É assim mesmo, neste mundo há muita maldade. Só tem vez aqueles que vivem nas gaiolas, embora sem liberdade, têm água comida, segurança e ainda têm veterinário particular. Para nós que edificamos nossas casas em árvores sem dono, nada nos resta, seremos sempre expulsos de um lugar para o outro.
Enquanto isso os filhotinhos, correm para os semáforos, nos cruzamentos e começaram  a pedir moedinhas para ajudar na alimentação da família.
Que desastre, que fim para uma família decente de joão-de-barro que não fez mal a ninguém, viverem assim, como moradores de rua, sem  perspectiva de ver a família crescer na segurança de um lar, mesmo que seja uma casa de barro.
Contudo o Sr. gavião, muito poderoso, parece ter tido compaixão da família do joão-de-barro e prometeu-lhes ajudar a encontrar uma outra árvore onde ele possa edificar sua casa de barro e lá criar os filhotes e até ver a família crescer.
Não esqueçam. Promessas de gavião...

Autor: Nêodo Ambrósio de Castro - Eugenópolis/MG
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Publicação autorizada através de e-mail de 27/04/2012

5 comentários:

Carlos A. Lopes disse...

¨promessa de gavião¨. É bom não esquercer o detalher. Seu texto parece coisa de Brasília amigo Nêodo. Estou sendo maldoso com a nossa capital, reconheço. Então, amigo, seu texto parece coisa da nossa política partidária. Assim ficou melhor. Um abraço Neodo Ambrósio, seu QUE MALDADE é uma maldade maravilhosa.

Ana Bailune disse...

Jamais acredite em promessa de gavião, se você for um passarinho!

Carlos Costa disse...

Neôdo, adorei seu relato. Percebi em seu texto um pouco de crítica social também, relacionando a sua estória com a queima do índio Pataxó em Brasília, de forma sutil mas notei isso. Uma beleza. Parabéns, Neôdo. Um abraço.

Unknown disse...

Obrigado, amigos, pelos comentários.
Há muito praticam essa maldade com o povo brasileiro. Coisas da nossa injusta justiça que penaliza os menos favorecidos em benefício dos milionários gananciosos. E o governo? Nem toma conhecimento...
Abraços a todos.

Anônimo disse...

Linda historia, verdadeira lição de vida