Grosseiro e xucro, com sua pose de machão, Ze
Bodega, o carreiro da fazenda, era incapaz de um simples gesto de carinho com
sua esposa. Vez e outra ele a maltratava injustamente.
Morando no meio da mata ciliar que cobria a margem
do riacho que servia a fazenda. Ele, a esposa, e um papagaio bisbilhoteiro que
falava pra caramba.
À tardinha ao regressar do trabalho La estava seu
louro encimado na cumeeira de sua casa a sua espera. E gritando pelo seu nome.
Apanhava sua sanfoninha pé de bode de oito baixos,
e ali no terreiro pigarreando ente um e outro gole de cachaça, adentrava a
noite até altas horas com a mesma melodia; “parente matou capado” num só ritmo,
o único som que conseguia arrancar do seu fole.
Sua esposa, cozinheira da fazenda, já não suportava
mais, chegava à casa cansada na labuta com aquelas panelas enorme, pretejada
pelo fogão a lenha, e ainda teria que agüentar, até alta noite. Seu marido
bêbado tocando a mesma chatice para um único expectador, um papagaio
linguarudo.
Carente de afeto e desanimada com aquela rotina de
maus tratos. Ela resolveu aceitar o cortejo de um peão da fazenda que há tempos
vinha lhe deitando um olhar cheio ternura cativante. Do alto, Andando nas travas
da casa o papagaio testemunhou aquela sena de amor, entre os dois. Tão logo o
peão se despediu. Falador como sempre, o louro começou a tagarelar repetindo as
palavras de amor trocadas pelo casal.
Quase sem chão, e cheia de preocupação, ela o pegou pelo
pescoço, e começou a dizer repetidamente: sou cego surdo e mudo, não vi nem
ouvi nada, repita comigo louro, sou cego, surdo mudo não vi nem ouvi nada! Após
muito torturá-lo, ela o libertou e perguntou:
— O que tu vai dizer à Bodega, louro?
— Não vou dizer nada, tenho muito amor no meu
pescoço!
A mulher se tranqüilizou com o dizer do louro. Como
era seu dia de folga permaneceu em casa a espera do caixeiro viajante que
passaria recebendo a ultima parcela da venda da sanfona que havia feito à
Bodega. Aliás, o caixeiro era louco pelo papagaio fizera várias propostas
tentadoras Por ele ao Bodega, mas ele sempre recusou dizendo que venderia
qualquer coisa menos seu louro, que para ele, era mais importante que sua
própria esposa.
Tranqüila ela continuou fachineando sua casa,
afinal era seu único dia disponível, para efetuarquele serviço. Ela pergunta:
— Então louro o que tu vai dizer ao Bodega? De
imediato ele responde:
— Bodega, corno... Chifrudo... Corno... Chifrudo...
Chifrudo! E você traidora... Traidora... Bodega chifrudo!
Como... Como tu disseste seu miserável! E o
apanhando novamente pelo pescoço, começou as a esganá-lo de vez, mas naquele
momento o caixeiro bateu a porta, ela o soltou. Meio grogue o louro rolou para
baixo de um banco, e La ficou tentando recompor do susto.
— Maldito de hoje tu não passa hoje eu acabo com
sua raça vou queimar tu todinho e o Bodega não verá nem mais um vestígio teu
seu miserável!
Ao se recompor do susto o papagaio subiu as travas
da casa. Ao vê-lo o mascate logo se manifestou seu desejo em comprá-lo...
Percebendo La de cima ele disse:
— Seja bem vindo você é um anjo, um anjo salvador!
Ouvindo isso o mascate enlouqueceu pela ave, e afirmou que o compraria por
qualquer preço. Aliviada a mulher respondeu: Jamais eu venderia esse papagaio,
ele é para mim com um filho, mas como hoje estou sem condições de liquidar a
divida de meu marido, nós podemos negociá-lo quitando com ele o nosso débito.
Fechado o negocio. La das travas o louro dando gargalhadas disse:
— Eu hem... Milagre. Milagre!
Felizes da vida se foram os dois, o homem pela
compra, e o louro pela pele, salva pelo caixeiro.
O trabalho na fazenda com a colheita do arrozal
ocasionou a chegada de Bodega a casa, altas horas da noite. Ele nem deu pela
falta do seu louro, que muitas vezes, também se ausentava acompanhando as
namoradas do bando de sua espécie que freqüentava o arrozal na época.
Na casa do caixeiro viajante ele foi recebido com
muito luxo. Gaiola nova Correntinha prateada no pé semente de girassol e etc.
Passava o dia tentando se livrar da corrente que o
aprisionava. De inicio foi tudo bem ele tagarela como sempre fazendo a alegria
daquela familia, mas com o passar do tempo bateu a saudade do seu
habitat. Muito triste ele emudeceu, e já nem alimentava mais. A
filha do patrão compadecida desatou a corrente do seu pé o colocou no ombro e
saiu a passear com ele pela cidade. Chegando a uma praça ajardinada, o colocou
sobre um arbusto. Encontrando seu namorado, eles comeram a trocar caricias e
juras de amor. Ao assistir aquela sena o louro se mandou.
Terminado o namoro. A garota deu por falta do
papagaio, vasculhou a praça inteira, imaginado que o mesmo teria si roubado
voltou à casa triste e chorando. Ao chegar la estava ele:
— E então meu louro querido o que aconteceu quase
me matou de susto o que tu viste para fugir assim?
— Eu sou cego, surdo e mudo, não ouvi, nem vi nada,
e estou morrendo de raiva de quem viu! E me traga comida porque tem duas
semanas que não como e estou morrendo de fome!
5 comentários:
rs... O Louro, sempre o espertinho da história. E como são irresistíveis essas avezinhas com suas tiradas engraçadas. Texto instigante que leva o leitor a querer ir até o final. Joia! Marina Alves.
O papagaio é sempre um heróis... rsrsrs...
amei!
(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação (considerando-se, lógico, as características da fala natural do narrador do conto, que devem ser mantidas para que a narrativa funcione como 'causo’) indicam que o texto precisa de uma pequena revisão, pequenos detalhes. A idéia é ótima e o desenvolvimento foi muito criativo. A escolha do título bateu perfeitamente com a história. Trata-se de um causo muito bem contado e carregado de bom humor, cuja leitura envolve totalmente. Narrativa simples e muito convincente (considerando-se que o desfecho é perfeitamente aceitável e está de acordo com o modelo 'causo’). Parece que se aproxima muito da proposta do concurso (observando o requisito de demonstração de afeto pelo animal). Avaliação pessoal: muito bom. Parabéns à autora ou ao autor. (Torquato Moreno)
Texto muito bom, perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso, criativo e com desfecho hilariante. Há incorreções facilmente contornáveis. Parabéns a quem o produziu.
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