Quando eu era pequena, tínhamos muitos
cães em casa, e não consigo lembrar-me de alguma fase de minha vida em que eles
não estivessem presentes - a não ser, assim que eu me casei, pois moramos em
apartamento por sete anos. Mesmo assim, tinham os cães de minha irmã, com quem
eu brincava quando a visitava.
Houve um tempo em que uma das cadelas
era apelidada de "A Fábrica", que era o título de uma novela que
passava na falecida Rede Tupi (pronto! acabo de revelar a minha idade!). Bem,
demos este nome a ela porque A Fábrica sempre tinha muitos filhotes de uma só
vez, que nós doávamos para os vizinhos.
Ela era uma enome vira-latas preta, e
tinha uma peculiaridade, ou seja, duas: a primeira, é que ela sabia
sorrir. Logo que nos via, arreganhava os dentes, abanando a cauda. Era só a
gente pedir: "Fábrica! Ri!" E lá vinha ela, dentes de fora, toda
faceira.
A segunda peculiaridade (acreditem ou
não) é que ela... voava! Não, não é lorota, não! Ela voava mesmo, por cima
da plantação de bananeiras e depois, ainda passava pelos galhos mais altos de
um bambuzal, que lhe amparavam a queda. Bastava que ela visse
uma galinha. Era campeã de Caça às Galinhas da Dona Teresa!
Também... a Dona Teresa era uma
folgada, que mesmo sabendo que todos os vizinhos tinham cachorros em casa,
deixava suas galinhas soltas pelo terreiro, e elas sempre acabavam indo parar
no meio da rua ou no terreno de outros vizinhos. Era sempre a mesma história: a
Fábrica escutava um cacarejar no morrinho (lugar onde brincávamos quando
crianças, logo acima de nossa casa e da plantação de bananeiras e bambus de meu
pai) e corria atrás. Não tínhamos como segurá-la, pois ela parecia totalmente
possuída por alguma força atávica incontrolável.
A galinha, na tentativa de salvar-se,
voava desajeitadamente por sobre as bananeiras, e A Fábrica, que jamais
desistia, voava atrás dela, lá de cima do morrinho.
Daí, escutávamos um agoniado
"Cóóóó..." e lá vinha A Fábrica, com a pobre coitada na boca.
Na manhã seguinte, lá vinha a Dona
Teresa perguntar: "Ruth (minha mãe), não viu uma galinha carijó por
aí não?" E minha mãe, com ar distraído: "Não... por que,
sumiu?"
Mas acho que a Dona Teresa acabou
descobrindo sobre o paradeiro de suas galinhas, pois um dia, A Fábrica
amanheceu morta: envenenada...
4 comentários:
A originalidade do nome já valeu o conto inteiro. Ainda mais que sorria e voava. Quem é que pode resistir? Me envolvi por completo. Parabéns. Marina Alves.
É para pensar sobre a maneira que algumas pessoas agem. Se dona Teresa prendesse suas galinhas a Fabrica iria continuar produzindo e fazendo seus donos felizes. Suas galinhas não podiam morrer mas ela se achou no direito de tirar a vida da cadela. Comovente e real. Adorei o conto. Infelizmente nem toda história tem final feliz. Parabéns.
(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: se há erros graves desta natureza não percebi durante a leitura. Notei um outro detalhe que pode ter escapado à revisão, coisa pouca. Relato que proporciona uma leitura agradável e conduz a um desfecho talvez não tão esperado pelo leitor, e triste para o personagem. Parece estar bastante de acordo com a proposta do concurso (observando o requisito de demonstração de afeto pelo animal), porém não cabe a mim julgar esta questão, apenas deixar um comentário sobre os textos. Avaliação pessoal: entre bom e muito bom. Parabéns à autora ou ao autor e boa sorte! (Torquato Moreno)
Texto bom. Linguagem direta e atraente na construção das imagens da historia com desfecho surpreendente e dentro dos parâmetros do concurso. Pode ser melhorado em alguns trechos. Parabéns a quem o produziu.
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