Olá, meu nome é Branquinha e
venho contar a história do meu dono incansável. Fui abandonada ou nasci na rua,
sei lá, porém tinha o pensamento de arranjar um dono que me cuidasse por toda a
vida, pois precisamos de apoio e cuidados especiais.
Em minhas andanças, fuçando
lixos e conhecendo ruas, vi uma casa com um pátio enorme e fiquei por ali, do
lado de fora. Nisso, apareceu um casal que estava saindo e simpatizei
imediatamente com eles, mas era difícil entrar lá, e continuei andando, a
passos lentos, sempre olhando para eles esperando um chamado, não sei.
Algum tempo se passou, quando
por uma desventura do destino, acabei sendo alvo principal de uma espingarda de
chumbinho, que me acertou em cheio no pescoço. Doeu tanto que somente pude me
lembrar daquela casa com aquele enorme pátio e para lá fui, meio capengando,
chorando de dor. Quando cheguei lá me deparei com os portões fechados, eram feitos
com grades, mas era tentar passar ou morrer na rua, onde quem sabe, alguém me daria
um enterro mais ou menos.
Com muito esforço passei pelas
grades, mas a dor foi tão grande que acabei desmaiando debaixo do carro que
tinha lá. Logo deram pela minha presença e perceberam o machucado em meu
pescoço, mas como eu não conhecia aquela gente, mesmo simpatizando com eles,
fui muito arredia aos primeiros contatos. Deixaram-me um pratinho com uma
comida estranha dentro, que depois souber ser ração, e era muito boa de comer e
água em outro potinho que era trocada diversas vezes por dia.
Vencida pela dor e pela
solidão, decidi deixar eles me pegarem. E surpresa minha, me colocaram dentro
daquele carro que me servia de morada e levaram-me ao hospital dos bichos.
Lugar bacana e limpinho aquele. Adorei.
Tiraram um Raio X, acho que é
isso que se diz e ouvi eles conversando que seria impossível tirar o chumbo de
dentro do meu pescoço sem comprometer meus movimentos, porém deram-me um monte
de vacinas, banho e tive até as unhas cortadas. Foi com emoção que reconheci a
minha dona vindo buscar-me com um semblante de comoção e amor que me entreguei
de vez àquela família.
Compraram um iglu cor de rosa
com cobertas e me botaram para dentro da casa deles, quentinha e cheia de
carinho.
Mas o destino nos prega peças
por vezes incompreensíveis, e pari naquele mês de minha inclusão na casa, três
filhotes mortos. Foi a maior tristeza que senti em minha vida, nem todas as
lambidas e afagos puderam fazê-los respirar. Meus donos chamaram o médico e
tive atendimento dentro do meu iglu, mas a dor era tão grande que não tinha
mais vontade de comer, sequer balançar o rabo. Minhas tetas doíam e no terceiro
dia de prostração, minha dona apareceu com quatro cachorrinhos recém-nascidos
que a mãe refugou. Ironia do destino. Uns sofrem tanto a perda e outros
abandonam. Acolhi aqueles bebês como se fossem meus e dei de mamar e melhorei
um pouco mais a minha condição.
Minha dona foi de uma atenção
incrível, pois os filhotes eram de uma raça chamada Fila Brasileiro e quando
eles tinham 45 dias, já estavam do meu tamanho. Quando ela me explicou que não
poderíamos ficar com todos aqueles cachorros enormes, me desesperei, porém
entendi que não teria como manter a compra de ração para todos nós. Despedi-me
com o coração partido de dor de cada um deles que me chamavam de mãe e choraram
quando foram embora com seus respectivos donos. Até minha dona chorou por
quatro vezes e me abraçou em cada uma delas.
Ela me ajudou a manter o
equilíbrio, pois descobri ser depressiva ante as adversidades do mundo, talvez
pelo meu histórico de cachorro de rua, mas o fato é que de tanta tristeza a
minha dona me trouxe outra cachorrinha que ela tinha encontrado na rua, a
Margot. Somos amigas até hoje.
Em determinado momento, minhas
pernas enfraqueceram e fui levada rapidamente ao hospital dos bichos e deram o
veredito que já sabiam: aquele chumbinho tinha afetado a minha coluna e meus
movimentos eram caóticos, fora a dor que sentia. Usei uma cadeira de rodas por
alguns meses e a família tinha aumentado, pois nascera o bebê de minha dona, e
agora eram três a me mimar e me dizer que tudo passaria e ouvi com enlevo, a
mãe dizendo ao seu filho que bicho merece respeito e admiração, cuidados e
carinhos e colocou aquela minúscula mãozinha em minha cabeça para que o pequeno
sentisse o calor dos meus pelos.
A minha dona era de fato
incansável, pois quando consegui recuperar setenta por cento dos movimentos,
com exceção dos esfíncteres (fazia pipi e coco onde estivesse, era deprimente)
ela notou em meus olhos uma doença chamada “cereja” e de novo, lá fui eu, ficar
mais alguns dias internadas e para minha satisfação notei que o que eu
enxergava era mais nítido, mais lindo, nunca me incomodei com aquela coisa nos
meus olhos, porém em dias de chuva doíam muito e eu não parava de roçar minhas
patas para aliviar um pouco meu sofrimento. Tudo em vão. Mas agora estava tudo
tão diferente!
Mudamo-nos no inverno, todos os
sete – tinha uma vovó e uma gata rebelde na família – para um lugar melhor e
mais seguro, pois já tinham tentado assaltar a casa onde morávamos duas vezes e
na terceira conseguiram. Eu e Margot nada pudemos fazer contra aqueles
ladrões. Na mudança fiquei muito
perdida e é certo aquele dito que diz “mais perdido do que cachorro em dia de
mudança”, pois não foi fácil a adaptação. Margot é zen e procuro ser como ela, levar
a vida mais conformada. Participei das perdas, doenças, alegrias e tudo o mais
que se pode participar em família.
Hoje, passados quatorze anos com meus donos, posso
dizer que fiz a melhor escolha do mundo naquele dia de passeio. Como sei também
que com apenas um olhar posso dizer tudo o que me vai à alma, porque meus donos
sabem tudo sobre mim e o mais importante: eles me amam!
3 comentários:
Pois é, Branquinha, onde há amor, há esperança de vida. Você é uma cachorrinha muito corajosa, muito valente e sua história ficou muito legal. Marina Alves.
(Padrão usado em todos os textos comentados para dar a todos um tratamento igual). Fazendo pois uso dos critérios apontados no regulamento, deixo aqui minha impressão: ortografia, gramática e pontuação: ‘em ordem’. Detectei um ‘r’, um ‘s’ e uma vírgula a mais, nada mais do que isso, detalhes que em nada prejudicaram a compreensão. Um relato simples e convincente que comove e, por isso, tem grande chance de envolver o leitor. O texto parece estar muito de acordo com a proposta do concurso (observando o requisito de demonstração de afeto pelo animal). Avaliação pessoal: muito bom. Parabéns à autora ou ao autor e boa sorte! (Torquato Moreno)
Texto bom, narrando a saga de Branquinha na primeira pessoa, com imagens literárias bem definidas e perfeitamente dentro dos parâmetros do concurso. As pequenas incorreções gramaticais são facilmente contornáveis. Parabéns a quem o produziu.
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