terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dedé Calango - Autor: Roberto Rêgo

Waldemar Pereira, vulgo “Dedé Calango”,  morador no “Arraial do Carrapicho”, distrito de São José do Brejo Seco, interior mineiro, era um sujeito que vivia de biscates por falta de profissão e um emprego decente. Seu maior sonho era empregar-se com carteira assinada e tudo. Casado com Dona Gertrudes, tinha uma filha de seus dezessete anos, a Risoleta, chamada pelos pais de “Santinha”, virgem bela e de muita formosura. Os três formavam uma família feliz e eram  bastante queridos naquela comunidade.

“Dedé Calango” ficou todo ouriçado quando soube que a Prefeitura abriu três vagas para contratar garis, mediante uma provinha simples e exames médicos. Preocupado ao extremo, procurou ajuda de alguns conhecidos, fez promessa ao santo padroeiro, rezou muito e acabou passando no teste, juntamente com dois outros conterrâneos seus, o Mundico e o Sinfrônio. Eufórico com o resultado, voltou a se preocupar  agora com os exames médicos, lembrando que quando criança teve muitos vermes e seu organismo ficou debilitado pela esquistossomose. Pensou muito e resolveu falar com Dona Gertrudes:-

“- Olha aqui, Gê, tou pensando nesses exames que vou ter de fazer pro emprego na Prefeitura, sabe? Exames de fezes e de urina. É bem capaz de num dar certo! E se a gente pedisse pra “Santinha” fazer xixi e cocô no meu lugar? Ela é nova, tem muita saúde e com certeza vai passar nos exames.”

Sua mulher estranhou a idéia, mas terminou concordando com o plano do marido. Falou com bastante jeito pra “Santinha”, explicou que seu pai dependia daquele emprego e ela acabou aceitando fornecer o material, que foi colhido e entregue, no nome do pai, ao laboratório municipal para as análises de praxe.

No dia marcado para a entrega dos resultados, os três candidatos compareceram ao Posto de Saúde do “Carrapicho”. O Mundico e o Sinfrônio tiveram resultados positivos e foram liberados para providenciar documentos para contratação. Quanto ao “Dedé Calango”, foi chamado em particular pelo médico à sua sala. Ele entrou meio cabisbaixo, amarelo que nem cera, sempre pensando no pior. E o doutor, raspando a garganta:-

“- Seu Waldemar, o exame de fezes tá legal mas quanto ao de urina ... Eu não sei como dizer isso, mas o fato é que ... o senhor está grávido! Gravidíssimo, Seu Waldemar! ...”

O pobre do “Dedé Calango” ergueu-se, levou a mão à testa fria e soltou um grunhido:-

“- Deus do céu, e agora, minha “Santinha” ???  – e caiu desmaiado!


Autor: Roberto Rêgo - Belo Horizonte/MG

Publicação autorizada através do e-mail de 20/01/2012

Um comentário:

Fabiana Lopez/São Paulo disse...

As vezes se pensa que só a gente tem inteligência e a casa cai. Foi o caso de Dedé calango.