Waldemar
Pereira, vulgo “Dedé Calango”, morador
no “Arraial do Carrapicho”, distrito de São José do Brejo Seco, interior
mineiro, era um sujeito que vivia de biscates por falta de profissão e um
emprego decente. Seu maior sonho era empregar-se com carteira assinada e tudo.
Casado com Dona Gertrudes, tinha uma filha de seus dezessete anos, a Risoleta,
chamada pelos pais de “Santinha”, virgem bela e de muita formosura. Os três
formavam uma família feliz e eram bastante queridos naquela comunidade.
“Dedé
Calango” ficou todo ouriçado quando soube que a Prefeitura abriu três vagas
para contratar garis, mediante uma provinha simples e exames médicos.
Preocupado ao extremo, procurou ajuda de alguns conhecidos, fez promessa ao
santo padroeiro, rezou muito e acabou passando no teste, juntamente com dois
outros conterrâneos seus, o Mundico e o Sinfrônio. Eufórico com o resultado,
voltou a se preocupar agora com os
exames médicos, lembrando que quando criança teve muitos vermes e seu organismo
ficou debilitado pela esquistossomose. Pensou muito e resolveu falar com Dona
Gertrudes:-
“-
Olha aqui, Gê, tou pensando nesses exames que vou ter de fazer pro emprego na
Prefeitura, sabe? Exames de fezes e de urina. É bem capaz de num dar certo! E
se a gente pedisse pra “Santinha” fazer xixi e cocô no meu lugar? Ela é nova,
tem muita saúde e com certeza vai passar nos exames.”
Sua
mulher estranhou a idéia, mas terminou concordando com o plano do marido. Falou
com bastante jeito pra “Santinha”, explicou que seu pai dependia daquele
emprego e ela acabou aceitando fornecer o material, que foi colhido e entregue,
no nome do pai, ao laboratório municipal para as análises de praxe.
No
dia marcado para a entrega dos resultados, os três candidatos compareceram ao
Posto de Saúde do “Carrapicho”. O Mundico e o Sinfrônio tiveram resultados
positivos e foram liberados para providenciar documentos para contratação.
Quanto ao “Dedé Calango”, foi chamado em particular pelo médico à sua sala. Ele
entrou meio cabisbaixo, amarelo que nem cera, sempre pensando no pior. E o
doutor, raspando a garganta:-
“-
Seu Waldemar, o exame de fezes tá legal mas quanto ao de urina ... Eu não sei
como dizer isso, mas o fato é que ... o senhor está grávido! Gravidíssimo, Seu
Waldemar! ...”
O
pobre do “Dedé Calango” ergueu-se, levou a mão à testa fria e soltou um
grunhido:-
“- Deus do céu, e
agora, minha “Santinha” ??? – e caiu
desmaiado!
Autor: Roberto Rêgo - Belo Horizonte/MG
Publicação autorizada através do e-mail de 20/01/2012
Um comentário:
As vezes se pensa que só a gente tem inteligência e a casa cai. Foi o caso de Dedé calango.
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