quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Laços de família - Autora: Isabel C. S. Vargas

Minhas recordações de infância incluem muitos tios, primos e união familiar. Era costume de minha família materna fazer constantes visitas, incluindo café da tarde, com muitas risadas, conversas sobre os mais variados assuntos como atualização sobre as andanças de cada parente de minha mãe que também tinha muitos primos.

Crescemos, constituímos nossas famílias, muitos mudaram por exigências profissionais, outros já se foram precocemente e os que aqui permanecem, infelizmente, têm como data certa de encontro os momentos fúnebres e, às vezes, nem isto. Embora lamente profundamente a situação não me eximo da parte que me cabe na culpa.

Na família de meu marido a situação não é diferente. Como não se vive só, fazemos dos amigos nossos parentes mais próximos. Passamos até dezenas de anos sem nos vermos, sem ao menos saber se ainda estão vivos.

Na semana que passou tivemos um momento gratificante. Íamos passar uns dias fora com nossa neta. Como na cidade que íamos meu marido tem uns tios pelo lado paterno que não via desde os anos 90, separou uma série de fotos para levar. Assim que estivéssemos devidamente instalados iríamos procurá-los, embora, confesso, imaginávamos que poderíamos ter alguma surpresa desagradável pela idade avançada e pela falta de notícias. Foi o que fizemos.

Pois a situação encontrada foi além das expectativas, o que sem dúvidas, nos deixou muito contente.

Encontramos na paz e aconchego do seu lar, o mesmo de tantos anos, uma simpática, agradável, tranquila e muito saudável dupla de idosos de 90 anos com recém completados 70 anos de matrimônio em meio aos dez filhos, duas dezenas de netos e outros tantos bisnetos, todos com direito a foto no quadro orgulhosamente pendurado na parede da sala. Junto a eles, um dos filhos, que diariamente os visita, o mesmo lá encontrado na visita de mais de 15 anos atrás. Embora aposentado de um trabalho que o mantinha sempre perto do céu, do sol, da lua e das estrelas, nos mais distantes e inusitados lugares, agora se dedica a construir sólidas bases para quem vive preso a terra, como a maioria dos mortais, além é claro de cuidar das sólidas raízes que lhe deram sustentação ao longo da vida.

Foi um encontro renovador de bons sentimentos, boas recordações, momentos alegres que o tempo que tornou seus cabelos brancos como a neve não foi capaz de apagar. Perdas que poderiam tê-los deixados amargurados reforçou mais os laços que os unem, tornando-os fortes, otimistas mesmo com as limitações inevitáveis da idade, leves o bastante para se deixarem carregar pelos filhos a quem tanto carregaram na infância e humanos e simples a ponto de continuarem se enternecendo com as brincadeiras e o carinho do pequeno cão que agora se juntou ao outro mais velho.

Nosso encontro se completou em mais três horas de convívio com filhos e noras em outro dia, no qual a alegria, a descontração, bom humor gentilezas, além de promessas de notícias se reafirmaram.

O que lamentamos? Não termos mais nossos idosos para relatar os acontecimentos.


Autora: Isabel C. S. Vargas - Pelotas/RS

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=24215

Publicação autorizada através de e-mail de 18/02/2012 

2 comentários:

Yolanda Damasceno de Lima, Bonito/PE disse...

Gostei muito do que escreveu e da forma como colocou os fatos. Parabéns. Aconselho a todos pela leitura de LAÇOS DE FAMÍLIA de Isabel C S Vargas.

Patricia disse...

Adoro trabalhos de genealogia justamente porque nos remete aos nossos parentes mais distantes. Por isso, e pela maneira como escreve, adorei o seu escrito.