Até hoje, mesmo com tanta violência, toda
capital tem esse privilégio. A criança cresce um pouco e escuta que lá na
capital do estado ou do país tem mais chance de crescer. Lá, depois de dormir
sozinha, comer um bife duro ou um ovo podre, ganhar uma cantada de um colega de
quarto, começa a valorizar mais a vida. Então, como existe a estatística, todo
ser humano que passou pelo menos dez anos numa capital de qualquer lugar é mais
experiente e menos provinciano. Até hoje me pergunto quem nasceu primeiro: a capital
do estado ou o capital do capitalismo. Andam juntos, angariados por políticos
que tentam trazer do interior, através de falsas fantasias, pessoas que
realmente tem alguma coisa para dar. É como se cada virgem que chega na capital
fosse mais uma árvore plantada na nascente de seu rio cheio de lama. Chegam
simplórios, humildes e com o decorrer do tempo se transformam em um deles.
Outra falsa vantagem de um jovem se mudar para a capital é a liberdade, longe
dos olhares sempre protecionistas dos pais e da sociedade do interior, que
sempre tem menos o que fazer e se preocupa mais com a vida alheia.
De jovens viram pais, avós, tataravós e não conseguem retornar ao
seu lugar de origem. Conheci muita gente que nem se lembrava do rosto da mãe.
“Esmiudada, muito doente, talvez já tenha morrido.” Muito triste.
Escrevo isso porque vi uma reportagem dizendo que na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, um só ser humano tem no máximo, 4.7 metros quadrados para viver. Para quem é ruim em geometria é a mesma coisa que viver com os braços abertos e pronto. Se soprar muito forte estará invadindo o espaço do outrem.
Será que quantidade é melhor que qualidade? Sei que os políticos
responderiam no quesito quantidade, mas eu, como ser humano? Responder o quê?
Todo mundo é humano.
Meu “inimigo” da internet responderia que todo mundo procura seu próprio caminho. Sei não. Não nasci lá para dizer alguma coisa. Se tivesse nascido lá, se fosse um herói que conseguisse escrever alguma coisa, escreveria o quê? Meus dedos estariam dormentes.
Autor: José Eduardo Antunes - Boa Esperança/MG
Publicação autorizada através de e-mail de 24/03/2012
Um comentário:
Sei não ... deixa pra lá ...
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