sábado, 18 de fevereiro de 2012

Meu aniversário no Hospital em São Paulo - Autor: Carlos Costa

(homenagem à Yara Queiroz, minha esposa)

O ano era 2007. O dia era 13 de fevereiro.
Uma torta em uma mão e um girassol na outra.
Foi assim que chegara minha esposa ao Hospital São Joaquim, na Beneficência Portuguesa, naquela manhã fria, na cidade de São Paulo.
Era o dia de meu aniversário!
Havia sido submetido à quinta cirurgia para drenagem de secreção em meu cérebro, pelos médicos Antônio Almeida e Valéria Moio. Era a quinta cirurgia e a segunda realizada pelos profissionais da medicina no mesmo hospital.
Mas era meu aniversário! E eu o havia esquecido por completo!
Eu lá, deitado inerte na maca da enfermaria, olhando para um teto pintado de branco, havia esquecido a data. Sabia apenas que estava frio naquela manhã quando minha esposa entrou na enfermaria, com a torta e uma flor de girassol.
Mas foi lindo – e apaixonante também, vê-la com uma torta na mão e uma flor de girassol na outra.
-Parabéns pra você! Trouxe-lhe este girassol que significa luz e vida – disse minha esposa, ao entregar-me o girassol.
Algumas enfermeiras foram até ao local, ao ouvir minha esposa falando um pouco alto:
- O aniversário dele é hoje?
- É sim. É hoje, respondera minha esposa, entusiasmada.
Eu, deitado na maca da enfermaria, só tive condições de confirmar “é...mas não é que havia esquecido disso!?”
Refeito do prazer e, ao mesmo tempo do susto que minha esposa me causara por ter se lembrado de meu aniversário e eu, esquecido dele, convidei enfermeiras para comer a torta que fora comprada em uma padaria na esquina da rua do hospital. Nem refrigerante tinha.
Pedi uma faca para cortar a torta!
Não pode! Se souberem que fiz isso, serei demitida! – respondeu-me a enfermeira. Eu apenas disse-lhe: “...demitida por uma nobre causa, atendendo ao pedido de um quase moribundo!”
“Eu vou buscar a faca, então!” e saiu da enfermaria a enfermaria.
Trouxe-me a faca, cortei a torta, beijei e guardei a flor de girassol em um canto, na janela, durante dias, até murchar como se ela fosse uma jóia rara – e era para mim. Mas não o girassol como desejei beijar minha esposa, se pudesse, naquele momento.
Devido ao frio que fazia em São Paulo, o girassol permaneceu firme por alguns dias, até que faleceu como quase falecia também devido a um derrame que sofri.

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Publicação autorizada através de e-mail de 18/02/2012

Um comentário:

Carlos Lopes disse...

Como se diz por cá: tiraste a sorte grande! Nutre esse amor todos os dias. Em um mundo tão sem amor é bonito saber de pessoas que se querem bem.