quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quem é o cão do segundo livro? - Autor: Augusto N. Sampaio Angelim


Eis uma pergunta que muita gente já se fez: "quem é o cão do segundo livro?".

Ouvi muito esta expressão, de certa forma em desuso nos dias de hoje.

Usava-se a expressão “o cão do segundo livro” em dois sentidos. Um de conotação negativa, quando se queria dizer que o indivíduo era ruim, feio ou horrível. Outro, positivamente, para identificar alguém como o melhor da turma, o melhor jogador, o mais astuto, o “tampa”, etc...

Sim, mas quem é de fato o tal cão?

Tempos atrás, Luis Teófilo, um amigo da Confraria do Café da Avenida Rio Branco, em Caruaru, sempre muito atencioso, me entregou um envelope dizendo que o conteúdo explicaria quem era esse cão.

De fato, eram páginas do blog Jornal de Poesia, do escritor Soares Feitosa nas quais, ele relata a história do cão do segundo livro. Tratava-se um demônio que aparece num fábula do livro didático intitulado "Segundo Livro de Leitura", de autoria de Felisberto de Carvalho. Esse livro era um dos poucos recursos que dispunham os mestres-escolas para ensinarem no Brasil rural dos anos cinquenta para trás. Naquelas décadas eram raros os estabelecimentos de ensino e nos lugares menores, era o mestre-escola o responsável pela alfabetização dos poucos alunos de então.

A capa do livro, de acordo com os valores e recursos da época, estampa o desenho de uma jovem brincando com um gato e um homem lançando sementes ao solo, além de uma parreira, plantas pequenas, cactos, um jacaré e um vulcão em erupção. Aos olhos de hoje, seria um projeto gráfico tosco, mas, tenham certeza, foi um livro que fez a cabeça de muita gente.

Pois bem o cão do segundo livro, na verdade, é uma fábula de conteúdo moralista para combater o alcoolismo e faz referência a uma lenda árabe na qual um jovem se depara com o diabo em pessoa e este sentencia sua morte, exceto se ele matasse o próprio “pae”, esbordoasse a irmã ou se entregasse ao álcool. O rapaz, evidentemente, recusa as duas primeiras opções. “Mas, estando embriagado, deu pancadas em sua irmã e matou seu pae’.

Depois da fábula, vem a lição para que os jovens fujam daquele que seria o “peor” dos vícios e que causaria “abatimento phsysico, moral e intellectual. Complementando a leitura, seguia-se o “exercício de raciocínio e de elocução” para ser respondido pelos “meninos” com perguntas do tipo: “Que é que conta a lenda Árabe?”, “Qual foi o resultado disso?”, entre outras.

No blog Jornal de Poesia o leitor encontrará imagens digitalizadas da fábula e do exercício “logographico”  e o leitor poderá conhecer melhor quem era o cão do segundo livro.

Autor: Augusto N Sampaio Angelim - São Bento do Una/PE

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=29657

Publicação autorizada por escrito pelo autor da obra

7 comentários:

Carlos A. Lopes disse...

Então, aqui no Recife pouco se sabe do Cão do segundo livro, porém no interior, foi não foi, alguém diz: ¨Ele é o cão do segundo livro¨. Minha avó falava muito na historinha que gerou o ditado. No entanto, sabia dos dois (a história e o ditado) separadamente. Belo esclarecimento o texto de Angelim nos trás.

Mônica Passos de Lima - Recife PE disse...

A minha avó materna contava algumas pérolas e entre elas a citada. Só não sabia a origem, como tudo começou. Vamos preservar essa cultura. Um abraço Angelim, você é 10.

gulliver disse...

Muito boa a sua explicação. Esclareceu-me a respeito de um ditado tão usado no Brasil e que parece sem sentido. Parabéns!

Paulo Ferreira disse...

Uso bastante esse termo e sempre tive essa curiosidade, pensava até que seria algo relacionado a Besta no livro do novo testamento ou algo parecido. Obrigado pela explicação.

Unknown disse...

Minha mãe de 76anos hoje 05.03.2017 sempre quis relembrar e rastrear esse conto e ditado do nordeste que ela sempre comenta sobre "O CÃO DO SEGUNDO LIVRO"....ela usa essa citação quando
quer falar de alguém muito azeda e complicada!!....no ato que li esse resgate ela já se recordou de tudo dos tempos da escola dela.

Unknown disse...

Sou sua fã, querido Augusto! Valeu por compartilhar!

Anônimo disse...

Muito esclarecedor! Parabéns!!