quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Laços de família - Autora: Isabel C. S. Vargas

Minhas recordações de infância incluem muitos tios, primos e união familiar. Era costume de minha família materna fazer constantes visitas, incluindo café da tarde, com muitas risadas, conversas sobre os mais variados assuntos como atualização sobre as andanças de cada parente de minha mãe que também tinha muitos primos.

Crescemos, constituímos nossas famílias, muitos mudaram por exigências profissionais, outros já se foram precocemente e os que aqui permanecem, infelizmente, têm como data certa de encontro os momentos fúnebres e, às vezes, nem isto. Embora lamente profundamente a situação não me eximo da parte que me cabe na culpa.

Na família de meu marido a situação não é diferente. Como não se vive só, fazemos dos amigos nossos parentes mais próximos. Passamos até dezenas de anos sem nos vermos, sem ao menos saber se ainda estão vivos.

Na semana que passou tivemos um momento gratificante. Íamos passar uns dias fora com nossa neta. Como na cidade que íamos meu marido tem uns tios pelo lado paterno que não via desde os anos 90, separou uma série de fotos para levar. Assim que estivéssemos devidamente instalados iríamos procurá-los, embora, confesso, imaginávamos que poderíamos ter alguma surpresa desagradável pela idade avançada e pela falta de notícias. Foi o que fizemos.

Pois a situação encontrada foi além das expectativas, o que sem dúvidas, nos deixou muito contente.

Encontramos na paz e aconchego do seu lar, o mesmo de tantos anos, uma simpática, agradável, tranquila e muito saudável dupla de idosos de 90 anos com recém completados 70 anos de matrimônio em meio aos dez filhos, duas dezenas de netos e outros tantos bisnetos, todos com direito a foto no quadro orgulhosamente pendurado na parede da sala. Junto a eles, um dos filhos, que diariamente os visita, o mesmo lá encontrado na visita de mais de 15 anos atrás. Embora aposentado de um trabalho que o mantinha sempre perto do céu, do sol, da lua e das estrelas, nos mais distantes e inusitados lugares, agora se dedica a construir sólidas bases para quem vive preso a terra, como a maioria dos mortais, além é claro de cuidar das sólidas raízes que lhe deram sustentação ao longo da vida.

Foi um encontro renovador de bons sentimentos, boas recordações, momentos alegres que o tempo que tornou seus cabelos brancos como a neve não foi capaz de apagar. Perdas que poderiam tê-los deixados amargurados reforçou mais os laços que os unem, tornando-os fortes, otimistas mesmo com as limitações inevitáveis da idade, leves o bastante para se deixarem carregar pelos filhos a quem tanto carregaram na infância e humanos e simples a ponto de continuarem se enternecendo com as brincadeiras e o carinho do pequeno cão que agora se juntou ao outro mais velho.

Nosso encontro se completou em mais três horas de convívio com filhos e noras em outro dia, no qual a alegria, a descontração, bom humor gentilezas, além de promessas de notícias se reafirmaram.

O que lamentamos? Não termos mais nossos idosos para relatar os acontecimentos.


Autora: Isabel C. S. Vargas - Pelotas/RS

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=24215

Publicação autorizada através de e-mail de 18/02/2012 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Missionário do Nordeste - Autor: Carlos Lopes

(...E naquela tarde, na capela de Nossa Senhora das Graças, percebi não estar ali como alguém somente a fotografar o túmulo e os pertences do frade, a pedido da minha mãe. Pela primeira vez percebi que, Frei Damião também fizera parte da minha história, tal os amigos, as festas, os fracos de juízos, as bandas de pífanos e os banhos nos açudes).

Texto extraído para compor livro)
Autor: Carlos Lopes - Olinda/PE

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Irmãos das almas - Autor: Carlos Lopes


(...Tinha lá meus seis ou sete anos de idade e brincar de esconder se constituía na principal diversão para a garotada no sítio. Mesmo residindo em Tabira, passava a maior parte do tempo nas adjacências do engenho, usufruindo a diversidade de frutas e dos banhos em cacimbas).

Texto retiradopara compor texto

Autor: Carlos Lopes - Olinda/PR

O que você faria - Autor: José Cláudio - Cacá



A história é assim: a moça, depois que sua mãe lhe forneceu pistas acerca de seu pai biológico na adolescência, já que estava desconfiada de suas diferenças em relação aos irmãos resolve, aos 22 anos, investigar suas origens e sai em busca dele, quer conhecê-lo. E descobre que seu pai biológico é diferente daquele “garanhão italiano” que sua mãe havia lhe descrito. Encontra um travesti.

Esse é um assunto sobre o qual a vida me ensinou a não fazer julgamentos, no entanto, há uma comichão inseparável e própria de cada um em comentar. As melhores maneiras, eu acredito, de não sair por ai fazendo julgamentos condenações e absolvições ou ainda ficando em cima do muro é, primeiro: não tenho nada que me meter com a vida alheia; segundo: pimenta nos olhos dos outros é refresco e; terceiro e mais importante: não alimentarei preconceitos e nem sairei por ai me arrogando como dono de alguma verdade. Quando  a alteridade se instala (ou nós mesmos a instalamos)  com toda a sinceridade possível, aplacamos nosso ímpeto acusatório ou julgador; de algoz, condescendente ou omisso, não é mesmo? Então meu comentário passa a ser: E se fosse comigo?

Normalmente, com notícias engraçadas, inusitadas, escandalosas, ou chocantes, costumo criar uma história paralela, falar da própria notícia ou fazer uma crítica bem humorada, tomando o cuidado de não ser agressivo, preconceituoso, radical, raivoso, sarcástico, nem mórbido. Aqui também devo me cercar desses mesmos cuidados para não correr nenhum risco de segundas ou terceiras intenções. Tive então a idéia de conversar com minhas duas filhas separadamente para obter a opinião delas sobre o episódio para colocar aqui como se fosse comigo. Portanto, ficou sendo um evento familiar e se elas manifestarem alguma idéia politicamente incorreta, é o retrato da nossa própria sociedade.

A mais velha deve ter acordado com uma TPM no dia da pergunta, que fiz logo cedo:
- E se fosse com você, filha, dá para imaginar qual seria a sua reação?
- Pai, isso é pergunta que se faça logo na hora do café da manhã? Eu sei lá, talvez fosse ficar procurando um chão pra pisar durante um bom tempo.

Já a segunda, mais debochada, soltou espontânea:
- Pai, desse tamanho todo, já pensou que hooooorrorosa você ia ser?

Esta situação inusitada serve de contraponto (sem debate) ao que tramita no congresso nacional acerca da adoção de filhos por casais homossexuais. Aqui a situação é inversa, a filha querendo adotar um pai (no caso, o próprio pai).

E aí, o que você faria?

DEIXO UM CALOROSO E FRATERNO ABRAÇO A TODOS OS PAIS QUE POR AQUI PASSAREM.

Autor: José Cláudio - Cacá - Belo Horizonte/MG

http://uaimundo.blogspot.com/
http://recantodasletras.com.br/autor.php?id=50775
Publicação autorizada através de e-mail de 08/02/2012

Pedinte cara de pau - Autor: Nêodo Ambrósio de Castro

Por não existir outro trajeto, de volta para casa, sempre cruzo o mesmo sinal há anos. Sempre estiveram ali pedindo uma moeda garotos mal vestidos e sujos, mau alimentados, sem higiene, mas garotos. Aqueles pequenos seres que deixam suas casas por motivos diversos. Basta parar o carro no sinal e lá estão eles com a mão estendida. Nada falam, pois já têm a certeza de que entendemos seu gesto. Também não há necessidade. Para que falar? Sei que nem sempre dirão a verdade. Portanto não importa sua versão, para mim basta ver seu estado e imaginar o que aquela criança já passou. Maus pedaços, imagino: família desajustada, pais alcoólatras, maus tratos, fome, abandono, etc. Dormindo sob as marquises, sendo espancados pelos mais velhos ou adultos, fugindo da polícia e sofrendo todo tipo de violência. Se usam drogas, pouco importa. Será que um de nós, vivendo aquela vida, não usaria?

Bem tudo isso parece muito sério e até constrangedor, para nós que nos encontramos dentro de nosso carro, com todo conforto, nem o calor nos afeta, pois o ar condicionado cuida de baixar a temperatura.

Mas certo dia notei mais alguém no mesmo cruzamento, “pilotando” uma cadeira de rodas, a pedir moedinhas. Aquele sim, todos ajudavam, tinha aparência de um deficiente que não podia trabalhar e estava sempre maltrapilho, assim como seus colegas mirins. Disputavam as moedas dos passantes de igual para igual.

Minha mulher sempre me dizia para manter no console algumas moedas para satisfazer a carência daqueles pobres pedintes.

Muitas vezes eu deixei a minha moedinha nas mãos daquele “paraplégico” da cadeira de rodas. Preferia dar a ele que aos garotos, sempre pensando que usariam o dinheiro para comprar drogas. Algum tempo depois, assistindo o jornal local, pela TV, fiquei surpreso ao ver que era sobre aquele “cadeirante”.

Não sabia que próximo ao sinal de trânsito existia uma câmera, dessas que fiscalizam tudo, utilizadas para prevenir crimes.

Pois essa câmara flagrou o pseudo deficiente, levantar-se da sua cadeira de rodas, com toda desenvoltura e correr atrás de um dos garotos pedintes.

Foi aí que a policia o autuou e levou para o distrito, onde confessou que por estar desempregado, resolveu faturar uns trocados e gostou da idéia, pois a prática de esmolar lhe rendia mais que o emprego que havia perdido.

Vivendo e aprendendo...

Autor: Nêodo Ambrósio de Castro - Eugenópolis/MG

Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 25/10/2011

O paletó - Autor: Ciro Fonseca

Lourival era um típico funcionário público dos anos sessenta. Era arquivista do Ministério da Industria e do Comercio, que ficava situado no antigo prédio do Edifício da “Noite” na Praça Mauá; Pegava no trabalho invariavelmente às 11:30 h, e o expediente se estendia até as 17:30 h quando o grosso livro de ponto era trazido por um contínuo meio sonolento, que também era encarregado de fazer todos os dias o jogo do bicho do pessoal, num bicheiro que havia numa escadinha atrás do Edifício do Ministério. Lourival gabava-se ser um funcionário pontual, chegava sempre antes do horário de entrada, mas era só isso, porque o resto do dia, o que valia mesmo era a presença do velho e desbotado paletó posicionado na cadeira, e o nosso herói passava o dia inteiro ou no salão de sinuca ou tomando um chopinho no bar do Zica, que ficava bem no andar térreo do respectivo Ministério, ou também disputando os inúmeros cafezinhos num joguinho tipicamente carioca chamado purrinha. E assim os dias iam passando, os meses, os anos, e o paletó sempre dando cobertura às artimanhas administrativas de Lourival.

Numa sexta-feira, o nosso amigo saiu às 12:30h para almoçar como era de costume, numa pensão na Rua Sacadura Cabral, que servia uma feijoada de dar água na boca de nordestino do polígono da seca; e entre uma caipirinha ou outra, depois de devorar toda a feijoada e mais duas laranjas, Lourival começou a ficar vermelho que nem pimenta dedo de moça, logo logo passou a ficar amarelo, e pronto, bateu com as dez, isto é, definitivamente caiu mortinho da silva. O dono do Estabelecimento um espanhol malandro, querendo se livrar do “presunto” colocou-o rapidamente num táxi e o levou para o Souza Aguiar e o largou na porta da emergência. Acontece que o Lourival havia deixado como sempre fazia, todos os seus documentos do bolso interno do famoso paletó e acabou sendo levado para o necrotério como “um homem desconhecido”, e como não tinha esposa, pois era um solteirão convicto, e nem família no Rio de Janeiro, e por causa da presença invariável do paletó, ninguém reparou no seu desaparecimento, e o pobrezinho foi enterrado como indigente.

Dias se passaram, e quando alguém por acaso perguntava por ele, a resposta era sempre a habitual, ele está por aí, olha o paletó dele na cadeira. Semanas se passaram, até que um colega que também encarava a famosa feijoada das sextas-feiras, acabou descobrindo que o Lourival passara desta para melhor. Voltou cabisbaixo para repartição (era assim que chamavam na época), e logo ao entrar, foi dando a infausta notícia; Vocês não sabem da maior, Lourival fechou o paletó. Que fechou que nada, despejou um gordinho que se sentava na mesa ao lado, Lourival está por ai, olha só o paletó.

Autor: Ciro Fonseca - Rio de Janeiro/RJ

Blog do autor: http://cirofons.blogspot.com/

pelo autor através de e-mail de 08/02/2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Seja bem vindo José Soares de Melo - Autor: Carlos Lopes

Diria que Custódia é um celeiro de gente sabida. É evidente que não estou particularizando os sete ou oito tipos de inteligências e sim sendo fiel ao costumeiro conceito do bom sertanejo. Este entende ser inteligente aquele capaz de absorver conhecimentos acima da normalidade, entretanto a este é facultado o direito de destacar-se entre os demais, e porque não, usufruir dos privilégios financeiros.

Longe de mim querer sobrepor minha cidade às demais, reconheço até a existência, por lá, de muitas inteligências de gaveta. Estes, tal donzelas encalhadas, levarão seus atributos a São Pedro.

No meu crescimento depois de menino fui observando em especial três cidadãos que naturalmente despontavam cada vez mais no seio da sociedade local, cada um seguindo evidentemente suas singularidades. Silvio Carneiro foi um dos admirados, alguém a se inteirar e a se respeitar. O segundo é um homem notoriamente sábio em termos de inteligência e conhecimento. Conviver com Pedro Pereira é degustar aprendizado. Quando o homem fala assopra cultura pra tudo quanto é lado. É o tipo do sujeito aberto a ouvir e compartilhar o que aprendeu, mesmo se tratando da mais humilde das criaturas.

Esta última virtude foi absorvida por um sujeito magrinho e de pouca estatura, mas de uma capacidade de assimilar, compartilhar e, sobretudo, trabalha em equipe como poucos. Ele é a terceira inteligência de Custódia e seu nome todos conhecem e respeitam na cidade. É melhor deixar que o próprio se pronuncie. No geral, flexionei apenas o verbo: ¨Meu nome é José Soares de Melo, nascido na zona rural de Custódia, num 7 de setembro. Autodidata, cursei apenas a 3a. Série ginasial, equivalente hoje a sétima série do ensino fundamental. Aos 10 anos, fui uma espécie de comerciário ambulante, vendendo sulanca nas feiras de Custódia, Sítio dos Nunes, São Caetano, Betânia, Fátima etc. Depois passei a balconista até idos da década de sessenta, quando passei a residir na zona rural novamente, até que ingressei no serviço público, primeiro como professor primário, depois passando para função de auxiliar de Escrita na Prefeitura, galgando promoções até ao maior cargo, Coordenador Administrativo, e cumulativamente exerci as funções de Secretário de Finanças e de Administração. Também exerci a função de Secretário de Finanças da Prefeitura de Serra Talhada, retornando a Prefeitura de Custódia, em 1992, onde permaneci até a aposentadoria em 1996. Vim para o Recife e ingressei na Arconsult, empresa de assessoria às Prefeituras, lá permaneci até sua extinção, passando então para a Exatta - Empresa dedicada a pesquisas, concursos, cadastros, trabalhos sociais etc., onde permaneço até hoje, na função de Assistente Técnico, responsável pelas licitações e contratos públicos da mesma¨.

No descrito acima, pelo próprio José Melo, faltou um bocado de Zé. Cadê o Zé das famosas locuções dos programas das Duas Américas? Cadê o Zé apresentador dos programas de auditório em tardes de domingo no clube de Custódia? Cadê o Zé compositor da música ¨Lembrando de Custódia?¨ Cadê o Zé colaborador do blog Custódia Terra Querida (do querido Paulo Joaquim),  cadê o Zé que resgata os esquecidos que um dia embelezaram nossas vidas: Doca, Carí, Pedro Maraváia, entre outros? Falta um monte Zé! Viu Zé? Trocando em miúdo, quando pensamos, ele já tem feito. Quando concluímos, ele já repassou. Ouvi muito matuto inteligentemente dizer: ¨Quem tem Zé Melo por perto não tem com que se preocupar. É a mais santa verdade! Trabalhei com ele na Prefeitura de Custódia e trinta anos depois nos encontramos num ambiente de internet. Quem ganha com isso são os usuários deste blog, desfrutando os maravilhosos escritos do famoso Baú do Zé. Inteligência é isso aí, permitir que outros possam pensar e compreender melhor.

Em nome de todos os usuários e colaboradores deste modesto blog, felicitamos-lhe pela sua disposição em disponibilizar seu trabalho nesta página.

Seja bem vindo José Soares de Melo, o nosso Zé Melo.

Autor: Carlos Lopes - Olinda/PE

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A amizade é um amor que nunca morre - Autor: Ricardo Garopaba Blauth

A frase do titulo é de Mario Quintana. Velho poeta que nunca deixou morrer a criança que carregava no seu interior. Via a vida com os olhos sensíveis como são todos aqueles que vêem as coisas de uma maneira que as pessoais “normais” não percebem ou não querem ver.

Leia novamente o titulo.

Amar é uma capacidade que o ser humano dispõe e que podemos ou não exercitar e aumentar. Nossa capacidade de amar é limitada à vontade de cada ser. A amizade é um bem precioso que deve ser cuidada e preservada. Juntar amizade sincera ao nosso poder de amar fará que a frase de Quintana se mostre verdadeira.

Aquele que não consegue modificar a sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive , sem ter consciência de que é dono do seu destino se torna um Deficiente , segundo o mesmo Quintana. Junte a isso outra definição de poeta, que dizia que Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.

Se agora ler novamente a frase do Quintana que deu titulo a este texto verá que um dos bens mais preciosos que podemos ter, é a amizade verdadeira. Esta nunca morrerá e lhe dará tudo que precisar sempre que precisar.

Tenho um texto “Amigos verdadeiros” que fala sobre o que julgo todos sabem ou deveriam saber. Os AMIGOS, assim mesmo , com todas as letras maiúsculas, são raros. É destes que Quintana fala quando diz que “a amizade é um amor que nunca morre”.

Tendo AMIGOS, saber que somos donos do nosso destino e soubermos ser felizes com o que temos, estaremos prontos para VIVER A VIDA e não somente existir.

Caminhe , ande, viva e pense, porque dá pra pensar andando, aprendendo com nossos erros, apoiados por AMIGOS VERDADEIROS , vivendo segundo o que nós e não outros acreditam. Sabendo sempre que somos o que temos e nossa felicidade não depende de nada mais.



Autor: Ricardo Garopaba Blauth - Garopaba/Santa Catarina

Publicação autorizada através de e-mail de 24/02/2012

Solidão... - Autor: Carlos Costa

... é um estado de contemplação do espírito; não é só se sentir só; mas sim estar com várias pessoas em sua volta...mesmo sentindo-se sozinho!

...é o momento perfeito para conversar consigo mesmo, meditar, reclamar de suas dores, dos amores que você teve e falar mal de seu próprio coração.

...é um estado de espírito contemplativo. É quando você tem a certeza de que Deus existe...nos ventos, no sol, nas estrelas, no ar que respira diariamente, enfim, em todas as coisas que existem.

...é a maior certeza de que você não está só; está com Deus, da forma que você o entender e apenas com seus próprios delírios, pensamentos, angústias, desesperos, incertezas e porque não dizer, certezas também?

...é a certeza do encontro de seu ser com o seu não ser! É um instante mágico quando todo seu ser entra em um estado meditativo para encontrar apenas o “eu” que está dentro de você mesmo. É uma coisa que surge rápido, mas passa rápido também; não é uma doença!

...é a qualidade e a capacidade que se adquire para viajar em pensamentos, idéias, projetos e certezas...Os escritores, cronistas, poetas, enfim, necessitam desses momentos do eu sozinho! Ah, que felicidade é se sentir só!

...é a verdadeira realidade de seu ser, a mais profunda certeza de que há algo ao seu redor!

...não é um estado depressivo, nem melancólico, nem difícil de sua vida; mas um momento em que você fica só com Deus, conversando com ele, ouvindo-o atentamente.

Ah, solidão, como defini-la? Defino-a como um momento mágico, um instante, um segundo; a solidão passa. Não confunda solidão com estar só porque se pode viver na solidão com muitas pessoas em sua volta.

...solidão, ah, como defini-la? É melhor não tentar porque solidão é apenas um instante reflexivo de cada um que, se perdurar, se transformará em tristeza e virará uma doença.

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada através de e-mail de 14/03/2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Minha desiderata - Autor: Carlos Costa

Sou apenas um passageiro do tempo: estou aqui, mas já me vou.

E o que levarei...?

DEUS dentro do coração, em meu modo de compreendê-lo, muitas vezes de forma torta; lembranças e recordações prazerosas dos verdadeiros e leais amigos que fiz e que deixarei pelos caminhos da vida. Ou como os jornalistas Carlos, de A Crítica, e Sebastião Raposo e os assistentes sociais Nilo Tavares Coutinho, das lojas Bemol e Edson de Aguiar Rosas, também de carreira jurídica, que se foram me avisar que estavam partindo e nem mais poderei avisá-los de minha partida (se é que podem existir lembranças para onde partirei só de ida!), além dos bons e os vários momentos felizes que vivi profundamente em diversas fazes de minha vida.

Os momentos tristes e desesperados que vivi, na justa medida, também vivi mais esses quero esquecê-los a todos porque me foram tristes demais!

Levarei também – e mais ainda, a certeza de que a vida é passageira!

Levarei como apoio em minha cabeça, agradáveis livros de crônica de Vinicius, Drumond, Neruda, Rubens Braga, Cecília Meirelles e todos os outros que poderem ser colocados para apoiar minha cabeça inerte e sem qualquer pensamento dentro do ataúde no qual serei colocado. Quem sabe poderei lê-los, ainda?

Estou aqui, mas tenho total consciência da minha condição de ser apenas passageiro de um trem que se chama vida!

Partirei, estou e serei agradecido a Deus porque meu “trem da vida” permanece, ainda, nos trilhos e segue um caminho tranquilo e de forma perfeita, só com alguns sustos vez ou outra, mas isso faz parte da vida que levo agora!

Levarei também da vida que vivi e minhas realizações. À história deixarei alguns mistérios a serem desvendados, os escritos que produzi freneticamente, ora de forma terna, ora de forma revoltada, ora entrando dentro de meu túnel do tempo particular! Livros que escrevi, romances conclusos e inconclusos para alguém, se desejar, terminá-los. Mas acho que essa tarefa nunca será realizada porque é difícil a um escritor entrar na mente de outro...como eu, confuso, delirante, amoroso, terno e muitas vezes revoltado com as injustiças sociais da vida!

Partirei sem levar qualquer saudade de minha vida, pois a vivi de forma plena e perfeita! Estou aqui só de passagem, ocupando um corpo; não somos nada, já disse; somos apenas mais um ser vivente!

Se produzi mágoas pelo caminho, se causei discórdias, se ofendi alguém, todos me desculpem. Não tive essa intenção e nem foi esse meu desejo! Se deixei de namorar alguém que desejei, o fiz de forma involuntária também. Às que namorei e abandonei, deixo meu pedido de perdão, se lhes produzi dissabores!

Sei que só Deus pode perdoar, mas meu arrependimento já é um bom começo!

Apenas tenho certeza disso: casei com a mulher que também amei...que me acompanhou em momentos difíceis e serei sempre grato por isso. Eu a magoei algumas vezes – estou certo disso, mas só porque outros amores apareceram que pensei serem melhores, mas vi que não eram. Minha mulher de verdade, guerreira, amiga, companheira sempre fora minha esposa Yara.

Tenho consciência que não fui o melhor homem do mundo; também não fui dos piores...tenho certeza! Na comparação, fiquei dentro da média de razoável para bom.

Nada levarei dessa vida: bens materiais, dinheiro, riqueza que nunca tive. Descerei à cova sem nada, só com a roupa do corpo, se é que haverá alguém interessado em vesti-la em meu corpo inerte.

Aos filhos, deixarei meu exemplo: estudo, dignidade, respeito a todos, determinação, coragem para superar obstáculos! Só assim se passa de um estágio ao outro da vida social! Mas todos ficarão bem, seguindo meu exemplo! Nada mais deixarei, exceto meu profundo amor pela vida que me foi amarga e meu total silêncio sepulcral!

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada através do e-mail de 10/03/2012

“O meu outdoor com o avião da Cruzeiro do Sul” - Autor: Carlos Costa


Alegremente, seguia eu e membros de minha família – geralmente com meu pai, rumo ao Aeroporto Internacional Ajuricaba, - nome supostamente dado em homenagem a um índio guerreiro que teria sido aprisionado e acorrentado pelos portugueses na época da colonização do Amazonas a partir de 1945, e que supostamente se jogara da canoa que o transportava, e morrido afogado no famoso “Encontro das Águas”,dos rios Negro e Solimões, hoje cartão postal de Manaus e patrimônio natural da humanidade -. Mas isso fica para a história definir.

O importante mesmo é dizer que todas as vezes que eu e membros de minha família nos dirigíamos ao Aeroporto Internacional para sentir o prazer de ver as poucas e raras aeronaves pousando, geralmente da empresa Cruzeiro do Sul ou Varig, eu ficava encantado observando um outdoor na saída da esquina das Ruas Branco e Silva com Leopoldo Peres, que levava até ao Aeroporto, até finais da década de 70.

Mesmo quando passeava em ônibus de madeira, fabricados na própria garagem da empresa Ana Cássia, feito em cima de chassi de caminhões, sempre dava um jeito de olhar para o “meu outdoor”porque normalmente escolhia a linha do ônibus que dobraria na Rua Branco e Silva e, com isso, tinha certeza que veria mais uma vez o “meu outdoor” predileto, como passei a considerá-lo, tal era nossa relação de cumplicidade. Ele, ali parado; e eu também parado, feito um bobo, a observá-lo para depois, no Aeroporto, conferir com um avião de verdade. E não é que tudo que existia nos aviões que pousavam, se encontravam também no “meu outdoor”?

Mesmo quando passei a ser autônomo vendendo picolés, jornais, cascalho pelas ruas do Morro da Liberdade, sempre que podia seguia a pé pela Rua Branco e Silva só para perder algum tempo precioso para só ver mais uma vez aquela maravilha! Como um avião grande, coube todo aí? – me questionava muitas vezes, espantado e maravilhado com aquela placa imensa que era vista também por toda e qualquer pessoa que se dirigisse ao Aeroporto Ajuricaba, ou de “Ponta Pelada”, como também era chamado, bastava que olhassem para o lado direito da via! O porquê de “Ponta Pelada” não me pergunte; não saberei lhe responder, também! Só sei que era assim!

Anos depois, ao passar na esquina para olhar mais uma vez para o Depois que o progresso passou a freqüentar pela cidade de Manaus depois de 1969 com a implantação da Zona Franca, “meu outdoor”, com o meu avião da Cruzeiro do Sul não se encontrava mais no local deixou de fazer parte integrante da esquina das ruas. O que teria acontecido com o avião da “Cruzeiro do Sul”? Ele teria decolado? Não sei lhe responder.

O certo é que no local passou a existir outra propaganda, no mesmo espaço de “meu avião”!

Depois que “levaram meu avião”, também perdi o interesse em virar meu rosto para procurar o “meu outdoor”, mesmo se fosse andando em ônibus ou em carros pretos Aerowillys, “os carros de Aeroporto” os mais luxuosos da época, todos pretos e grandes, com quatro portas, na companhia de meu amigo João Couto da Silva, que o pai de meu amigo de infância possuía e sempre me levava até ao local.

Perdi e meu encanto infantil e o interesse em olhar para “outdoors” de novo. Depois disso, os outdoors passaram a ser uma coisa supérflua! Por que levaram o “meu avião”?

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada através de e-mail de 02/03/2012

Amigos, eternos amigos - Autor: Carlos Lopes

(...Era o início da década de setenta e algo havia mudado nas nossas mentes e em nossos corpos. Somando, digo que além dos aspectos biológicos com suas modificações visíveis, também havia indignações em relação ao mundo. A gente não era mais a gente! Havia ânsia pelo novo e me sentia convidado por uma realidade orgânica do consumo e dos prazeres...)
Texto reirado para compor livro 
Autor: Carlos Lopes – Olinda/PE

A roda e o chão - Texto: Carlos Lopes

(... No caminho o seu pai conversava o tempo todo com o caminhoneiro sobre coisas da política, enquanto ele, não perdia um movimento da estrada, de cara no pára-brisa.  De Arcoverde abaixo, tudo era novidade. Na Serra das Russas sentiu cofose e com o dia amanhecendo entraram no Recife).

Texto retirado para compor livro
Autor: Carlos Lopes - Olinda/PE

Gratas lembranças - Autora: Celêdian Assis

Às vezes somos apanhados e surpreendidos por lembranças do passado, que se mantinham guardadas lá no fundo do baú e revivemos certos momentos tão lucidamente, que dá-nos a impressão de que os vivenciamos bem recentemente, tal é a fidelidade com que os detalhes são lembrados. E ai não nos damos conta de quanto tempo tudo aconteceu. Para deflagrar o mecanismo das lembranças pode ser suficiente uma palavra, um texto, um gesto ou uma situação corriqueira.

Um dia destes estive lendo a crônica “Entre copas e beijos” do genial escritor mineiro, um mestre das crônicas, José Cláudio Adão, que escreve no Recanto das Letras e teve lançado seu livro recentemente. Pois bem, ele narrava sobre as dificuldades dos namoros em anos passados, pela vigilância severa dos pais das moças e relembra um fato acontecido com ele e um amigo, numa cidade do interior durante da copa do mundo de 82. Na cena descrita por ele, havia uma passagem entre o amigo, a namorada e o sogro, que envolvia uma televisão, já não tão antiga para a época.

Esta passagem remeteu-me à copa de 70, quando eu ainda morava no interior e foi ai que levei um baita susto, quando fiz as contas e percebi que já se passaram 40 anos e o quanto a tecnologia avançou. Nos anos setenta, minha pequena cidade natal, Piracema, contava com apenas três televisores, recém chegados à cidade e coincidentemente este foi o ano da primeira transmissão ao vivo, dos jogos da copa. Um destes televisores era da minha casa, da marca Telefunken (lembram desta marca?). Eram daqueles de válvulas e que esquentavam quando ficavam muito tempo ligados, imagem em preto e branco, que quase não se via, de tanto que “chuviscava” (expressão que se usava para definir aquelas listras, contrastes semelhantes a chuviscos, que deixam a imagem toda disforme). O som era “chiado” e às vezes sumia de vez.

Imaginem só o que representava esta TV em plena copa do mundo, onde praticamente ninguém da cidade jamais tinha visto uma. Foi neste clima de euforia pela chegada da TV e maravilhoso espetáculo que era a nossa seleção, que a sala de nossa casa se transformou quase que em um cinema. Lotada de gente se acotovelando, além das janelas apinhadas, pois eram baixas e permitiam a visão da TV.

Apareceu entre os “telespectadores”, uma figura muito interessante, o Professor Rocha. Ele não era da cidade, mas estava morando lá, havia pouco tempo. Professor de matemática, era um sujeito muito esquisito, com umas atitudes que faziam parecer que fosse meio louco, o que de certa forma, por receio das pessoas, garantia-lhe respeito. Ele exigia que os alunos no Ginásio, no início de suas aulas cantassem o Hino Nacional e contava muitas “estórias” do tempo que fora combatente de guerra. Quando terminava de contar, sempre dizia enfaticamente: “Obrigado, obrigado, Rocha”

Ainda não era a final da copa de 70 e as pessoas nem podiam se mexer direito naquela sala pequena, a maioria sentada no chão e alguns nas caldeiras e sofá, eis que a seleção canarinho entra em campo e se preparava para ouvir o hino. Lá estava o Professor Rocha, que exigiu que todos se levantassem e ficassem em “posição de sentido” e que era obrigação cantarmos juntos. Como na escola era obrigatório cantar o Hino Nacional todos os dias, praticamente todos nós sabíamos. Virou-se para os que estavam nas janelas e disse-lhes que a “ordem” era também para eles, ou as fecharia.  Nós, os donos da casa nos entreolhamos surpresos, mas o certo é que o obedecemos. Aquela cena se repetiu até o jogo da final e ficávamos todos muito emocionados. Ao final com aquele ar grave, sisudo ele agradecia: “Obrigado, obrigado, Rocha”.

Hoje diante de aparelhos de TV que mais parecem uma tela de cinema, nos quais podemos perceber até pequenas marcas na pele das pessoas, tamanha é nitidez da imagem e assistindo a copa de 2010, algo me incomoda muitíssimo. Ver os lábios de alguns, talvez da maioria dos nossos jogadores, mexendo-se mecanicamente, simulando que estão cantando o hino, porque não sabem cantá-lo. Ora, eles principalmente, que são estrelas do futebol milionário e que tenho certeza possuem os melhores eletrônicos do mercado, será que ainda não perceberam quando assistem TV em suas casas, que tal simulação é perceptível ao mais desatento telespectador? Será que não se lembram que neste momento estão representando o seu país? Ou será que as escolas não se interessam mais em imbuir nos alunos o espírito de patriotismo?

Dirão alguns, cantar o Hino Nacional não representa patriotismo, que bobagem! Pode ser que estejam certos, mas creio que a emoção que ele nos causa, pelo menos em mim causa arrepios, é uma forma de sentirmos o quanto o nosso país nos importa e quem sabe nos preocuparíamos mais com os rumos que estamos dando a ele, através do direito legítimo que a democracia nos oferece. Nunca mais soube do Professor Rocha, mas se o encontrasse, seria eu a dizer: Obrigada, obrigada, Professor Rocha!

Autora: Celêdian Assis - Belo Horizonte/MG

Publicação autorizada pela autora através de e-mail em 16/10/2011 

“Vou me embora” para Falciano Del Màssico! - Autor: Carlos Costa

Mudarei definitivamente para a cidade italiana de Falciano Del Màssico. Lá é proibido morrer e, talvez, alcance a cura que tanto procuro, mesmo que também seja determinada por decreto assinado pelo prefeito Giulio Cesare Fava. Mas, mesmo assim, ainda precisarei contar com a ajuda de Deus para a cura seja definitiva!
Lá, serei amigo do prefeito, que assinou a portaria número 9, proibindo que seus moradores morram. Estou na fila, então! Serei mais um. O prefeito deve ser amigo de Deus, a quem é dado o poder divino da morte ou da cura! Pelo menos imagino que o seja! Isso facilitaria as coisas porque a fé nunca me faltou, em nenhum nos piores movimentos de minha vida!
Como no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, no livro”Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, publicado na página pág. 90, em Falciano Del Mássico não serei amigo do rei; mas do prefeito, porque ele deve ser amigo de Deus mais do que outros e só ele, por decreto também, poderá curar-me de duas bactérias hospitalares que contrai em centro cirúrgico, em 2006 quando fui operado no cérebro pela primeira vez.
Em Falciano Del Màssico talvez eu não possa ter a mulher que quero, na cama que escolher, mas, pelo menos, serei amigo do prefeito Giulio Cesare Fava.

“Vou me embora pra” Falciano Del Màssico porque “aqui eu não sou feliz – mas lá a “existência” também poderá ser uma “aventura/de tal modo inconseqüente”, mas como ficarei ao lado e serei amigo do prefeito Giulio Cesare Fava, nada temerei porque já me foi garantida a vida eterna, sem saber se eu a desejo ou não, mas me incluirei entre eles, por via das dúvidas. Também não “farei ginástica/andarei de bicicleta/montarei em burro brabo/subirei no pau-de-sebo/tomarei banho de mar”, porque deve existir mar em Falciano Del Mássico! “E quando estiver cansado/Deito na beira do rio/Mando chamar a mãe-d'água/Pra me contar as histórias/Que no tempo de eu menino/Rosa vinha me contar”. Nem minha esposa Yara, a mãe d’água também não me contou.

Vou-me embora pra Falciano Del Màssico! E irei depressa!

Seria hilário se não fosse trágico!

A cidade de Falciano Del Màssico, em 5 de março de 1964, se separou da cidade de Carinola e perdeu seu velho cemitério para o município vizinho e o conflito entre as duas cidades perdura até hoje. Com o decreto proibindo a morte de seus moradores. O prefeito, ao menos, conseguiu atrair a atenção da mídia internacional.

Embora pareça uma imitação ao contrário da novela “O Bem Amado” de Dias Gomes, exibida pela Rede Globo, com a genial interpretação do ator Paulo Gracindo no papel do prefeito de Sucupira, onde não morria ninguém e ele não tinha como inaugurar o cemitério da cidade, em Falciano Del Màssico, ninguém pode morrer, mas por decreto do prefeito Giulio Cesare Fava.

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada através de e-mail de 16/03/2012

Quem é o cão do segundo livro? - Autor: Augusto N. Sampaio Angelim


Eis uma pergunta que muita gente já se fez: "quem é o cão do segundo livro?".

Ouvi muito esta expressão, de certa forma em desuso nos dias de hoje.

Usava-se a expressão “o cão do segundo livro” em dois sentidos. Um de conotação negativa, quando se queria dizer que o indivíduo era ruim, feio ou horrível. Outro, positivamente, para identificar alguém como o melhor da turma, o melhor jogador, o mais astuto, o “tampa”, etc...

Sim, mas quem é de fato o tal cão?

Tempos atrás, Luis Teófilo, um amigo da Confraria do Café da Avenida Rio Branco, em Caruaru, sempre muito atencioso, me entregou um envelope dizendo que o conteúdo explicaria quem era esse cão.

De fato, eram páginas do blog Jornal de Poesia, do escritor Soares Feitosa nas quais, ele relata a história do cão do segundo livro. Tratava-se um demônio que aparece num fábula do livro didático intitulado "Segundo Livro de Leitura", de autoria de Felisberto de Carvalho. Esse livro era um dos poucos recursos que dispunham os mestres-escolas para ensinarem no Brasil rural dos anos cinquenta para trás. Naquelas décadas eram raros os estabelecimentos de ensino e nos lugares menores, era o mestre-escola o responsável pela alfabetização dos poucos alunos de então.

A capa do livro, de acordo com os valores e recursos da época, estampa o desenho de uma jovem brincando com um gato e um homem lançando sementes ao solo, além de uma parreira, plantas pequenas, cactos, um jacaré e um vulcão em erupção. Aos olhos de hoje, seria um projeto gráfico tosco, mas, tenham certeza, foi um livro que fez a cabeça de muita gente.

Pois bem o cão do segundo livro, na verdade, é uma fábula de conteúdo moralista para combater o alcoolismo e faz referência a uma lenda árabe na qual um jovem se depara com o diabo em pessoa e este sentencia sua morte, exceto se ele matasse o próprio “pae”, esbordoasse a irmã ou se entregasse ao álcool. O rapaz, evidentemente, recusa as duas primeiras opções. “Mas, estando embriagado, deu pancadas em sua irmã e matou seu pae’.

Depois da fábula, vem a lição para que os jovens fujam daquele que seria o “peor” dos vícios e que causaria “abatimento phsysico, moral e intellectual. Complementando a leitura, seguia-se o “exercício de raciocínio e de elocução” para ser respondido pelos “meninos” com perguntas do tipo: “Que é que conta a lenda Árabe?”, “Qual foi o resultado disso?”, entre outras.

No blog Jornal de Poesia o leitor encontrará imagens digitalizadas da fábula e do exercício “logographico”  e o leitor poderá conhecer melhor quem era o cão do segundo livro.

Autor: Augusto N Sampaio Angelim - São Bento do Una/PE

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=29657

Publicação autorizada por escrito pelo autor da obra

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Copa do mundo de 70 na imaginação de um menino - Autor: Carlos Costa

- Quem vai querer picolé, quem vai querer picolé no palito!

Menino franzino carregando meu corpo magro de 10 anos de vida, com no máximo 28 quilos em peso era eu, transportando pelas Ruas do Morro da Liberdade, uma caixa cheia de picolé bem posiciona em meu frágil mais determinado ombro esquerdo, nos idos dos anos 70. À caixa, havia um pano enrolado a apoiá-la e era proporcional ao meu tamanho de menino franzino!

- Ei menino, venha aqui!

Entrava eu espantado com aqueles homens falando coisas que não entendia: “hoje o Brasil vai destroçar com o fulano..., “depois vai arrasar sicrano...”. E eu imaginando que uma nova guerra mundial que estava se iniciando e que, mais uma vez, o Brasil tinha entrado na luta. Guerra, só causa destruição no início e, muito tempo depois, começam a surgir evoluções em várias áreas, sobretudo nas da medicina e na de tecnologia, as que mais se aproveitam com o horrores da guerra.

Só eu não sabia disso naquela época. Em Manaus, ainda não havia transmissão de TV, internet ou qualquer tipo de tecnologia das que existem hoje.

Certa vez, em visita a meus avós, lembro-me ter presenciado a avó chorando porque escutara pelas ondas do rádio, no interior do Varre-Vento, que o homem chegara e pisara em solo lunar, em 1969! Lucilla dizia que o mundo estava para acabar, que era impossível um homem chegar à lua, quando mais pisá-la em local que tantos sonhos alimentara dos poetas no passado, presente e ainda os alimentará no futuro.

Lembro-me, também, que para melhor ouvir a transmissão pela emissora de rádio, todo construído em madeira com uma tela na frente, acho que pela Rádio Nacional, minha avó pedira ao meu avô para fincar no terreiro do quintal duas varas e de uma ponta a outra, amarrar um fio de arame e, no meio, fora colocado outro fio para funcionar como se fosse uma antena para sua melhorar audição. Não sei se minha avó chorava pela proeza ou porque haviam conseguido pisar no solo que embalara muitos poetas!

Devido à ênfase que davam as palavras nos bares em que entrava, pensava que a III Guerra Mundial tinha começado e eu não estava sabendo de nada! Como podia sabê-lo sem qualquer tipo de comunicação naquela época, a não ser as ondas do rádio, que minha família não podia adquirir?!!!

Muito mais tarde vim, a saber, que estávamos em plena Copa do Mundo de 70, ainda na sua nona edição, entre 16 seleções, sendo nove européias, União Soviética, Bélgica, Itália, Suécia, Inglaterra, Romênia, Tchecoslováquia, Alemanha Ocidental e Bulgária, cindo americanas, México, El Salvador, Uruguai, Brasil e Peru, uma asiática, Israel e uma africana, a seleção do Marrocos.

Mas em minha inocência infantil, nem desconfiava que os homens falassem sobre a Copa do Mundo! Também, como já afirmei, não existia televisão em Manaus; só rádio naquela época, e em pouquíssimas casas, só na dos afortunados, como definíamos todas as que possuíam muito dinheiro, ou nem tanto assim!

Nos jogos que eram disputados no México, todas as seleções, que eu imaginava ser uma guerra, estavam jogando nas cidades de Guadalajara, León, Cidade do México, Puebla e Taluca.

Muito mais tarde, viera eu saber que para a Copa de 70, promovida no período de 31 de maio a 21 de junho, em pleno Regime Militar no Brasil, foram convocados Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivelino, Gérson, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres, e Piazza, estrelas da copa de 1966, além de outros tantos reservas.

Nas semifinais da Copa, ocorreu o chamado jogo do século, disputado entre as seleções da Alemanha e Itália e, aos 90 minutos, Karl-Heinz Schenellinger empatou a partida e levou o jogo para a prorrogação, quando as duas seleções duelaram em uma sucessão de virada de placar, até que a Itália vencera a Alemanha por 4 X 3, única partida da copa a ter cinco gols, e na prorrogação, segundo registros históricos.

E eu lá sabia disso quando vendia picolés pelas ruas de Manaus, em minha inocência infantil. Também desconhecia que a Seleção brasileira, que vencera todos seus jogos na fase eliminatória, era uma das favoritas, razão da euforia dos homens à mesa do bar! Só soubera desses fatos mais tarde! Se soubesse disso naquele tempo, quando vendia picolés nas ruas da cidade, andando sempre a pé, com minha já tradicional sandália havaiana ao pé, certamente teria entrado na conversa dos homens, com certeza, se permitissem a um menino que não sabia de nada, dizer alguma coisa! Mas além de inocente, meu pai me ensinara a respeitar os mais velhos, fossem quem fossem, onde quer que se encontre!

A final da Copa do Mundo da Fifa de 1970 foi disputada pelo Brasil, que vencera os jogos contra as seleções do Uruguai e Peru. A seleção da Itália eliminara as seleções da Alemanha Ocidental e do México. A partida final foi realizada no dia 21 de junho no Estádio Azteca, na cidade do México e o Brasil venceu por 4 X 1, depois de um primeiro tempo empatado. A “guerra” entre as seleções terminara e a taça Jules Rimet, veio para o Brasil para, depois ser roubada e derretida pelos ladrões.

Nos mesmos bares e em vários outros também, depois do dia 21 de junho, passei a ouvir à música“Guadalajara/Mora em meu coração...” e “cem milhões de corações/ todos com bandeiras na mão...” Em minha inocência de picolezeiro, eu lá sabia o que era uma Copa do Mundo, como escreveu o cantor Sérgio Souto em sua música, “Albatroz”... “eu lá sabia o que era um albatroz” e quanto euforia contida poderia ser liberada!

Hoje, sinto saudades! A molecada inocente se divertia com essas coisas que pareciam ser bonitas. Mas era só o Governo Militar fazendo uso político do tri-campeonato de forma invicta conquistado pelo Brasil, para permanecer um pouco mais no poder, enquanto os revoltosos protestavam em Universidades e outros lugares onde pudessem se reunir na clandestinidade!


Autor: Carlos Costa - Manaus/AM

Publicação autorizada através de e-mail de 07/03/2012

Revirando memórias da infância - Autora: Celêdian Assis

Já ia terminando o ano de 2009, minutos finais e na pacata cidadezinha de Piracema uma noite fora do normal. Muita gente nas ruas. Na praça uma geração nova se acotovelando, para ver os fogos de artifício numa posição privilegiada. Daquela geração, que como eu, não tinha estas regalias na infância e juventude, só se via alguns gatos pingados. Sei lá por qual razão os fogos coloridos não lhes chamou a atenção e não os trouxe até a praça. Quem sabe se estivessem por ali, estariam revirando a memória e lembrando os bons tempos.

Eu fiquei ali esperando o ano novo chegar e olhando a casa que eu nasci, de frente para a praça, já toda modificada. Até ganhou um segundo andar e o meu antigo quarto virou uma loja, onde funciona uma “lan house”. Confesso que não gostei, me pareceu uma invasão da história que vivi naquela casa. Primeiro porque a casa já não é mais de meus pais, ganhou uma arquitetura diferente e depois, na verdade acho que eu não queria ver ali a marca registrada da modernidade.

Inicialmente veio aquela sensação de nostalgia, mas foi logo quebrada pela alegria geral, pelo céu colorido de muitas cores, os rojões estourando em diversos tons. Efusivos abraços, beijos enamorados, promessas e tanta esperança estampada em cada sorriso escancarado. Era 2010 que acabava de chegar. Na expressão de cada rosto parecia que ali se extinguiam todas as mazelas e que daquele minuto em diante tudo seria diferente. Eu não estava ali como mera expectadora. Claro que dei e ganhei muitos abraços e muitos bons fluidos de uns para os outros foram passados. Meus filhos, alguns irmãos, sobrinhos, umas tias, entre outros, lá estavam.

Terminada toda a farra na praça e de volta à casa senti de novo aquela vontade de relembrar fatos. Voltei aos meus 6 anos ou pouco mais. Naquela época era comum faltar luz na cidade, pois dependia da usina da cidade vizinha, Passa Tempo e às vezes até por rivalidade, deixavam de fornecer energia. Enfim, para mim e meus irmãos a falta de luz era bem divertida, pois era a oportunidade que tínhamos de nos aninharmos todos na cama de meus pais e ouvirmos estórias. Comparo isto aos filmes na TV que hoje as crianças se reúnem para assistir com seus pais, só que bem mais divertido.

As estórias que mais nos agradavam eram aquelas que nos provocavam medo. Entre as estórias prediletas havia uma de tal de Murunga. Nunca tinham o mesmo enredo, pois eram inventadas na hora, mas o personagem em questão era sempre o mesmo e representava um capetinha. Quando terminavam de contar, meus pais assistiam a disputa de quem tinha menos medo.

Cada um de nós queria se mostrar mais valente que o outro. Neste momento um deles, meu pai ou minha mãe, dizia que precisava de pó de café para preparar o café da manhã do dia seguinte, pois o de casa havia acabado. Perguntava quem de nós poderia buscar o pó na casa de minha avó, que ficava a uns 150 metros da nossa. Aquele que fosse o mais corajoso sairia na rua naquela escuridão. Uma vez decidido quem iria, esperávamos que ele (a) saísse e íamos para a janela. Meu pai ou minha mãe gritava então: “Murunga, Murunga, cuidado que ele vai te pegar.” Aquele “corajoso(a)” voltava correndo e apavorado(a) e para nós não havia nada mais divertido. Ríamos tanto que às vezes os mais novos até faziam xixi na cama. Não importava quantas vezes se repetia a tal cena, em cada uma delas nos deliciávamos como se fosse a primeira vez.

Como era bela aquela inocência que tínhamos e como era simples nos agradar. Os filmes na TV ou a internet com todos os seus recursos não conseguem reproduzir aquela sensação, pois hoje as crianças assistem cenas de terror, que frequentemente fazem parte do cotidiano, da sua realidade e ai os capetinhas em geral são reais. Dos meus pais e daqueles momentos de entretenimento, onde ingênuas estorinhas de terror que viravam brincadeiras de criança, da proximidade deles e do aconchego de família, ai que saudades!

Celêdian Assis – Belo Horizonte/MG

Publicação autorizada pela autora através de e-mail de 16/10/2011