sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O valor das coisas

Autor: Augusto Sampaio Angelim

            Sexta-feira passada estive em Serrita, aonde nasci, para cumprir um compromisso doloroso que foi o enterro de uma tia. Nos últimos vinte anos foram poucas as vezes em que estive na igreja local, consagrada à Nossa Senhora da Conceição, embora há dois anos atrás tenha batizado Heitor, meu filho mais novo, porém era um dia de festa e pouco tempo tive para pensar nas coisas que agora relato na tela do computador. O velório dessa minha tia ocorreu na própria igreja, por razões particulares e. sendo assim, passei parte da madrugada dentro da velha igreja e foram inevitáveis as lembranças da infância. As primeiras missas, o catecismo, os casamentos e, infelizmente, os enterros. Entre estes, o de meu pai e de minha avó paterna, foram as lembranças que mais ecoaram na minha memória.

            A igreja sofreu inúmeras alterações no seu interior, ao sabor da vontade dos párocos e dos tempos. O velho e majestoso altar foi retirado do vão central do edifício, assim como desapareceram os altares laterais e seus santos esculpidos em madeira. Não existe mais a pia em que fui batizado, bem assim como os lustres que iluminavam meus olhos de menino. Não sei o destino dessas coisas, embora tenha ouvido comentários maliciosos a respeito das administrações eclesiásticas que dirigiram os destinos daquela igreja. Os tradicionais bancos de madeira escura foram substituídos por outros tão novos e sem nenhuma marca do tempo que até destoam do conjunto.

            Nas horas em que estive na igreja meditei a respeito dessas mudanças e no verdadeiro valor das coisas e me convenci, mais ainda, que esse valor provém de nossas próprias idéias, aspirações, expectativas e desejos, enfim, da forma como pensamos o mundo e tecemos nossa própria história. Isto porque, como a igreja, eu também mudei muito em todos estes anos, assim como mudaram todos meus conhecidos que foram ao velório e eu não estou me referindo apenas ao passar dos anos. Perdas, decepções, conquistas, vitórias, paciência, imprudência, sabedoria, eram marcas visíveis nos homens e mulheres que foram prestar homenagens à falecida e solidariedade aos familiares. E, no meu íntimo, a igreja, apesar das reformas, continua acolhedora e guardiã de parte das minhas memórias.

Autor: Augusto Sampaio Angelim - São Bento do Una/PE

Página do autor: http://recantodasletras.com.br/autor.php?id=29657
Publicação autorizada pelo autor através de e-mail de 13/11/2011.

2 comentários:

Carlos A. Lopes disse...

Pois é amigo, esta relação homem/matéria é inseparável. Seja se tratando de uma pessoa, seja se tratando de uma construção.
Aproveito para agradecê-lo pelo comentário feito a minha pessoa. A satisfação é minha e dos demais colaboradores em tê-lo neste espaço. Um abraço amigo Augusto Angelim.

Anônimo disse...

Coheço Serrita apenas por uma visita à Missa do Vaqueiro, mas entrei na igreja citada pelo cronista. O texto, seja por isto, seja pelo sua mensagem, é bom.