sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Mistérios de Brejo Santo

Autora: Sonia Biasus

A história que vou contar aconteceu lá pelas bandas de Brejo Santo. O lugarejo está localizado no Sertão de Pernambuco, entre as cidades de Verdejantes e Altamira, onde hoje residem pouco menos de meia dúzia de famílias. A vila era próspera, entretanto foi sendo desprezada pelos próprios moradores que preferiram migrar para outras regiões.
Neste lugar morava, com sua família, uma moça muito linda de olhos grandes e muito curiosos. Léinha, como era chamada pelos familiares, sempre foi uma menina porreta, faceira e tudo queria saber. Certa vez alguns visitantes vieram até o vilarejo para buscar trabalhadores para  trabalhar em uma empresa que se localizava em Altamira. Léinha queria muito ter sua independência e foi procurar os moços para ver se conseguia trabalho.
Encontrou-os em um bar  e ali mesmo eles preenchiam uns papéis e já recrutavam trabalhadores. Mirno, o mais jovem dos três, ficou com os olhos esbugalhados ao ver Léinha, ficou enfeitiçado pela moçoila, tanto que nem conseguia responder  para ela.  Arturo, que era  um rapaz mais velho e casado, tomou a frente e disse que o trabalho era pesado e que ela não ia aguentar. Léinha argumentou que era acostuma a trabalhos duros na roça e que poderia dar conta deste trabalho também. Mirno, já recobrado do primeiro impacto, também argumentou, mas cochichou ao seu colega que deveria dar uma chance a moça.
Passados alguns dias Léinha já estava no corte de cana da Fazenda Picadão, realmente a lida não era nada fácil, mas a moça enfrentava tudo com gosto, pois necessitava do trabalho para ajudar a família que passava por muitas necessidades.
Decorrido alguns meses do início de seu trabalho, começaram a surgir boatos de que coisas estranhas vinham acontecendo lá por aquelas bandas, pessoas desapareciam, misteriosamente, sem deixar vestígios ou pistas que fizesse com que a polícia pudesse dar solução aos casos. Nesta altura dos acontecimentos Léinha e Mirno já estavam se encontrando e o romance parecia ter engrenado. Os pais de Léinha aprovaram o namoro e Mirno não tinha família que morasse perto, sua família vivia no Mato Grosso.
Estavam todos muito preocupados com os casos, Mirno sempre levava sua amada para casa após o trabalho, pois temia que algo poderia lhe acontecer. Léinha era muito confiante e não tinha medo de nada.
Era um lindo sábado aquele dia 23 de agosto de 2004, e por volta das 15 horas Mirno se dirigia à casa de Léinha para tomar de surpresa a moça a quem amava. Ele pretendia pedir sua mão em casamento, estavam apaixonados e nada impedia que se realizasse o enlace. Tudo teria sido perfeito se não fosse o acontecimento terrível presenciado por Mirno no caminho para Brejo Santo. O moço seguia da Fazenda Picadão para o vilarejo em sua velha bicicleta e consigo levava um ramalhete de flores e no bolso de sua roupa um anel de noivado.
Em uma estradinha com muitas árvores e bastante deserta, ao longo do caminho Mirno viu alguns pedaços de roupas e ficou imaginando o que poderia ser ou de quem poderia ser aquela roupa. Alguns metros adentrando a mata na beira da estrada se podia ver mais alguns resquícios de  roupas e desta vez sujas de sangue. O rapaz ficou cabreiro com aquilo e resolveu caminhar por ali para ver se encontrava mais alguma pista. Quanto mais ele adentrava a mata mais vestígios se percebiam por ali.
Ficou por ali analisando os fatos, mas nada o levava a ter uma conclusão. Resolveu então seguir até o vilarejo para encontrar sua futura noiva e ao mesmo tempo comunicaria à polícia o que havia encontrado. Chegando na vila encontrou um policial e contou a ele e este pediu que o acompanhasse até a delegacia para falar com o delegado. Mesmo estando ansioso para ver sua  noiva ele seguiu com o policial.
Chegando na delegacia Mirno contou tudo que vira naquele caminho e o delegado disse que muitos casos vinham sendo registrados de desaparecimentos de pessoas sem vestígio algum. Terminado o relato o rapaz se dirigiu para a casa de Léinha, chegando lá os pais da moça ficaram surpresos pelo fato do rapaz perguntar pela namorada e não saber do ocorrido. A mãe de Léinha já estava desesperada e se ouvia o choro da parte de fora da casa. O pai dela falava com Mirno e explicava que sua filha não havia retornado do trabalho do dia anterior.
Mirno ficou muito preocupado, pois justo naquela sexta-feira ele não acompanhou sua namorada no caminho de volta para casa. O desespero começou a tomar conta dele e sem nada dizer retornou até onde havia pedaços de roupas e sangue encontrado  no caminho e ao ver as cores das roupas ele ficou estarrecido. Como se não bastasse, ele viu em meio a um arbusto uma correntinha com uma medalha que ele mesmo havia dado a Léinha.
O rapaz ficou sem ação por alguns segundos e como se estivesse paralisado em meio a seus pensamentos, não apresentava nenhuma reação. Em seguida voltou à estrada e se dirigiu até o vilarejo, procurou o delegado e contou os fatos. Delegado e policiais se dirigiram até o local, seguidos por Mirno. O delegado colheu alguns pedaços de roupas e fotografou tudo o que vira por ali, mas não encontrou nenhuma pista de que fosse mesmo de Léinha, a não ser pela correntinha que Mirno tinha em sua mão.
Retornaram ao vilarejo e o rapaz foi até a casa dos pais de Léinha e contou o que estava suspeitando, estes ficaram muito nervosos e já imaginavam o pior. A mãe de Léinha já gritava pelo nome da filha como se esta estivesse morta.
O tempo foi passando e nada de encontrar  pistas de que a moça estava viva ou morta. Mirno havia comunicado aos pais da moça de que ia pedir ela em casamento. Passaram-se alguns dias e o delegado nada encontrava sobre o desaparecimento misterioso de  nenhuma das pessoas e muito menos de Léinha.
Um mês, dois, três e nada de solucionar o caso. E novamente acontece de desaparecer mais uma moça da região e muito próximo do local onde fora encontrado vestígios que poderiam ser de Léinha. Desta vez havia mais objetos que puderam ser identificados como sendo da vítima daquele momento. Tratava-se de mais uma moça de uns 25 anos e que morava no vilarejo de São João próximo a Brejo Santo.
Tudo era mistério, nada se resolvia, nada se encontrava. Alguém ou algo  agia de tal maneira que  as poucas provas encontradas não levava a solução dos desparecimentos.
Passou um ano e os desaparecimentos de pessoas cessaram. Não se ouvia mais falar nisso e os casos também não foram solucionados por falta de provas e as pessoas desaparecidas não eram dadas como mortas por não ter como provar.
Mirno não se conformava com isso e tentou de todas as maneiras investigar por sua própria vontade o desaparecimento misterioso de sua noiva. Tudo se tornava mais difícil porque o tempo ia apagando os vestígios. Levou algum tempo e o rapaz desanimado também desistiu de procurar por sua amada.
Mirno continuou sua vida trabalhando, mas a tristeza em seu olhar persistia, ele amava muito sua noiva e pretendia constituir família com ela e viver o resto de sua vida juntos. Certa noite Mirno se dirigia ao vilarejo para visitar os pais de Léinha e próximo a uns escombros de uma velha construção ele viu um vulto que saía do local, mas não tinha como identificar o que era. Este vulto saía dos escombros e logo em seguida voltava a desaparecer. Isso aconteceu várias vezes e muitas pessoas perceberam isso também. O fato ficou conhecido por toda a redondeza de Brejo Santo, mas para Mirno acontecia todas as vezes que ele passava por aquele caminho.
Corria por aquelas bandas, conversas de  que eram almas penadas e que os desaparecidos estavam precisando encontrar a luz. Ou queriam que os crimes fossem solucionados. Tudo virou lenda. O fato é que os crimes não foram solucionados e também nenhum outro caso havia acontecido desde o dia 12 de outubro de 2005.
Mistérios, muitos mistérios entorno dos fatos. Ninguém soube o que realmente causava os desaparecimentos. Contam os moradores de Brejo Santo que o vulto que as pessoas viam era de Léinha e que a moça vinha para encontrar seu noivo todas as noites. Mirno nada dizia. Nunca se casou e viveu o resto de seus dias no vilarejo. Próximo aos escombros daquela construção ele fez uma cabana e por lá ficou até seus últimos dias.


Autora: Sonia Biasus
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