Autora: Sonia Biasus
A história que vou contar aconteceu lá pelas bandas de Brejo Santo. O lugarejo está localizado no Sertão de Pernambuco, entre as cidades de Verdejantes e Altamira, onde hoje residem pouco menos de meia dúzia de famílias. A vila era próspera, entretanto foi sendo desprezada pelos próprios moradores que preferiram migrar para outras regiões.
Neste lugar morava, com sua família, uma moça muito
linda de olhos grandes e muito curiosos. Léinha, como era chamada pelos
familiares, sempre foi uma menina porreta, faceira e tudo queria saber. Certa
vez alguns visitantes vieram até o vilarejo para buscar trabalhadores para trabalhar em uma empresa que se localizava em
Altamira. Léinha queria muito ter sua independência e foi procurar os moços para
ver se conseguia trabalho.
Encontrou-os em um bar e ali mesmo eles preenchiam uns papéis e já
recrutavam trabalhadores. Mirno, o mais jovem dos três, ficou com os olhos
esbugalhados ao ver Léinha, ficou enfeitiçado pela moçoila, tanto que nem
conseguia responder para ela. Arturo, que era um rapaz mais velho e casado, tomou a frente
e disse que o trabalho era pesado e que ela não ia aguentar. Léinha argumentou
que era acostuma a trabalhos duros na roça e que poderia dar conta deste
trabalho também. Mirno, já recobrado do primeiro impacto, também argumentou,
mas cochichou ao seu colega que deveria dar uma chance a moça.
Passados alguns dias Léinha já estava no corte de
cana da Fazenda Picadão, realmente a lida não era nada fácil, mas a moça
enfrentava tudo com gosto, pois necessitava do trabalho para ajudar a família
que passava por muitas necessidades.
Decorrido alguns meses do início de seu trabalho,
começaram a surgir boatos de que coisas estranhas vinham acontecendo lá por
aquelas bandas, pessoas desapareciam, misteriosamente, sem deixar vestígios ou
pistas que fizesse com que a polícia pudesse dar solução aos casos. Nesta
altura dos acontecimentos Léinha e Mirno já estavam se encontrando e o romance
parecia ter engrenado. Os pais de Léinha aprovaram o namoro e Mirno não tinha
família que morasse perto, sua família vivia no Mato Grosso.
Estavam todos muito preocupados com os casos, Mirno
sempre levava sua amada para casa após o trabalho, pois temia que algo poderia
lhe acontecer. Léinha era muito confiante e não tinha medo de nada.
Era um lindo sábado aquele dia 23 de agosto de 2004,
e por volta das 15 horas Mirno se dirigia à casa de Léinha para tomar de
surpresa a moça a quem amava. Ele pretendia pedir sua mão em casamento, estavam
apaixonados e nada impedia que se realizasse o enlace. Tudo teria sido perfeito
se não fosse o acontecimento terrível presenciado por Mirno no caminho para
Brejo Santo. O moço seguia da Fazenda Picadão para o vilarejo em sua velha
bicicleta e consigo levava um ramalhete de flores e no bolso de sua roupa um
anel de noivado.
Em uma estradinha com muitas árvores e bastante
deserta, ao longo do caminho Mirno viu alguns pedaços de roupas e ficou
imaginando o que poderia ser ou de quem poderia ser aquela roupa. Alguns metros
adentrando a mata na beira da estrada se podia ver mais alguns resquícios
de roupas e desta vez sujas de sangue. O
rapaz ficou cabreiro com aquilo e resolveu caminhar por ali para ver se
encontrava mais alguma pista. Quanto mais ele adentrava a mata mais vestígios
se percebiam por ali.
Ficou por ali analisando os fatos, mas nada o
levava a ter uma conclusão. Resolveu então seguir até o vilarejo para encontrar
sua futura noiva e ao mesmo tempo comunicaria à polícia o que havia encontrado.
Chegando na vila encontrou um policial e contou a ele e este pediu que o
acompanhasse até a delegacia para falar com o delegado. Mesmo estando ansioso
para ver sua noiva ele seguiu com o
policial.
Chegando na delegacia Mirno contou tudo que vira
naquele caminho e o delegado disse que muitos casos vinham sendo registrados de
desaparecimentos de pessoas sem vestígio algum. Terminado o relato o rapaz se
dirigiu para a casa de Léinha, chegando lá os pais da moça ficaram surpresos
pelo fato do rapaz perguntar pela namorada e não saber do ocorrido. A mãe de
Léinha já estava desesperada e se ouvia o choro da parte de fora da casa. O pai
dela falava com Mirno e explicava que sua filha não havia retornado do trabalho
do dia anterior.
Mirno ficou muito preocupado, pois justo naquela
sexta-feira ele não acompanhou sua namorada no caminho de volta para casa. O
desespero começou a tomar conta dele e sem nada dizer retornou até onde havia
pedaços de roupas e sangue encontrado no
caminho e ao ver as cores das roupas ele ficou estarrecido. Como se não
bastasse, ele viu em meio a um arbusto uma correntinha com uma medalha que ele
mesmo havia dado a Léinha.
O rapaz ficou sem ação por alguns segundos e como
se estivesse paralisado em meio a seus pensamentos, não apresentava nenhuma
reação. Em seguida voltou à estrada e se dirigiu até o vilarejo, procurou o
delegado e contou os fatos. Delegado e policiais se dirigiram até o local,
seguidos por Mirno. O delegado colheu alguns pedaços de roupas e fotografou
tudo o que vira por ali, mas não encontrou nenhuma pista de que fosse mesmo de
Léinha, a não ser pela correntinha que Mirno tinha em sua mão.
Retornaram ao vilarejo e o rapaz foi até a casa dos
pais de Léinha e contou o que estava suspeitando, estes ficaram muito nervosos
e já imaginavam o pior. A mãe de Léinha já gritava pelo nome da filha como se
esta estivesse morta.
O tempo foi passando e nada de encontrar pistas de que a moça estava viva ou morta.
Mirno havia comunicado aos pais da moça de que ia pedir ela em casamento.
Passaram-se alguns dias e o delegado nada encontrava sobre o desaparecimento
misterioso de nenhuma das pessoas e
muito menos de Léinha.
Um mês, dois, três e nada de solucionar o caso. E
novamente acontece de desaparecer mais uma moça da região e muito próximo do
local onde fora encontrado vestígios que poderiam ser de Léinha. Desta vez
havia mais objetos que puderam ser identificados como sendo da vítima daquele
momento. Tratava-se de mais uma moça de uns 25 anos e que morava no vilarejo de
São João próximo a Brejo Santo.
Tudo era mistério, nada se resolvia, nada se
encontrava. Alguém ou algo agia de tal
maneira que as poucas provas encontradas
não levava a solução dos desparecimentos.
Passou um ano e os desaparecimentos de pessoas
cessaram. Não se ouvia mais falar nisso e os casos também não foram
solucionados por falta de provas e as pessoas desaparecidas não eram dadas como
mortas por não ter como provar.
Mirno não se conformava com isso e tentou de todas
as maneiras investigar por sua própria vontade o desaparecimento misterioso de
sua noiva. Tudo se tornava mais difícil porque o tempo ia apagando os
vestígios. Levou algum tempo e o rapaz desanimado também desistiu de procurar
por sua amada.
Mirno continuou sua vida trabalhando, mas a
tristeza em seu olhar persistia, ele amava muito sua noiva e pretendia
constituir família com ela e viver o resto de sua vida juntos. Certa noite
Mirno se dirigia ao vilarejo para visitar os pais de Léinha e próximo a uns
escombros de uma velha construção ele viu um vulto que saía do local, mas não
tinha como identificar o que era. Este vulto saía dos escombros e logo em
seguida voltava a desaparecer. Isso aconteceu várias vezes e muitas pessoas
perceberam isso também. O fato ficou conhecido por toda a redondeza de Brejo
Santo, mas para Mirno acontecia todas as vezes que ele passava por aquele
caminho.
Corria por aquelas bandas, conversas de que eram almas penadas e que os desaparecidos
estavam precisando encontrar a luz. Ou queriam que os crimes fossem
solucionados. Tudo virou lenda. O fato é que os crimes não foram solucionados e
também nenhum outro caso havia acontecido desde o dia 12 de outubro de 2005.
Mistérios, muitos mistérios entorno dos fatos.
Ninguém soube o que realmente causava os desaparecimentos. Contam os moradores
de Brejo Santo que o vulto que as pessoas viam era de Léinha e que a moça vinha
para encontrar seu noivo todas as noites. Mirno nada dizia. Nunca se casou e
viveu o resto de seus dias no vilarejo. Próximo aos escombros daquela
construção ele fez uma cabana e por lá ficou até seus últimos dias.
Autora: Sonia Biasus
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Publicação autorizada pela autora
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