quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Afrânio de Castro, um artista irreverente e genial - Autor: Carlos Costa


Afrânio de Castro, artista de muito talento, multimídia, mas irreverente e genial, que depois de sua morte por afogamento, teve seu nome dado à uma galeria de arte criada pela extinta Fundação Cultural do Amazonas na parte inferior da Academia Amazonense de Letras. Ele era meio marginalizado entre outros artistas por ser dado ao vício incontrolável da bebida e pelas suas irreverências nem sempre apropriadas para os locais em que se encontrava.

Pintava divinamente bem; e escrevia poemas também. Em face de seu incotrolável humor, uma vez foi “expulso do Caldeira”. Mas todos os dias por lá passava; chagava em frente e olhava para dentro, pela janela, quando via com tristeza, seus antigos companheiros bebendo e se divertindo. Os quadros que pintava sempre lhes estavam acompanhando!

Em razão disso, bolou um plano que lhe pareceu infalível: olhou pela janela do bar, como sempre fazia todos os dias, e gritou: “quem não for corno aqui, olhe pra mim e dê uma sorriso”. A voz forte do artista ressou dentro do bar e todos olharam-no e sorriram.

Afrânio de Castro pulou pela mesma janela, abriu os braços, começou a abraçar um a um os seus antigos companheiros e gritava como um louco: “viva! viva! Estou readmitido! Estou readmitido!,” e não cabia em contentamento!

Sentou em uma mesa, mesmo sem ser convidado, pediu cerveja e copo, e começou a servir à pessoa que estava a seu lado, que nem sabia com quem estava lidando.

Uma noite, lá pelos anos 80, a União Brasileira de Escritores do Amazonas promoveu no Teatro Amazonas, “A Noite dos Poetas ao Vivo”. Cada poeta declamaria um poema. mas Afrânio de Castro não foi convidado.

- Carlos Costa, você me cede sua vez para que eu vá ao palco? – perguntou-me. Já sabendo o que Afrânio de Castro, chamado também pelo apelido de “O Troglodita”, em função de sua forte voz iria fazer, não aceitei a proposta. Declamei meu poema político, em plena época da Ditadura Militar!

O artista ficou chateado e saiu para beber, terminando na Praia da Ponta Negra, um bonito mas poluído balneário de Manaus. Bebeu todas e mais outras e foi encontrado no dia seguinte morto, afogado, na Praia da Ponta Negra. Teria tentado nadar e não conseguiu, essa fora a explicação oficial dada para sua prematura morte, com pouco menos de 40 anos.

Não fiquei com qualquer remorso pois Afânio de Castro tinha um discurso pronto para “esculhambar” o presidente da UBE, Jayme Pereira, de quem eu era muito amigo, inclusive de frequentar sua casa. Afrânio também se intitulava “um poeta genial”.

Depois da morte do artista que, em vida, “vendia” seus quadros para o advogado Aristhofanes de Castro, que nutria uma admiração pelo seu trabalho e chegavam a ter algum grau de parentesco também. Hoje a família do advogado possui a maior coleção de quadros de Afrânio, conforme dizem os amigos.

Isso quando vendia porque na maioria das vezes passava no escritório do advogado, pedia “dinheiro emprestado” e deixava um quadro, dizendo com sua voz forte: “quando vier pagar o “empréstimo” levarei meu quadro”. Nunca voltava! O advogado estava até acostumado com seus “pedidos de empréstimo”.

Era o jeito irreverente e irrascível de um grande talento, que se negava à mesmice!

Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Publicação autorizada pelo autor

2 comentários:

Ana Bailune disse...

Que história! Parece mesmo coisa do destino...

Smareis disse...

Olá Carlos, vi seu link no blog da Celêdian,e vim conhecer seu blog. Li a apresentação do teu livro e gostei imenso. Desejo muito sucesso pra ti.
Grande abraço!