sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os últimos são os... últimos mesmo!

Autor: Jair Pereira da Silva

- Biu, eu estou abufelado! Será qui vai chuvê amanhã?
- Achu qui não, Batoré! As nuvi nem tá si formano! Óia pru céu pra ocê vê como tá azulado!... Nóis tamo numa cruzeta danada!
Esse era o diálogo que mais se ouvia em Brejo do Bufo, era a maior preocupação dos habitantes daquele rincão situado lá no sertão pernambucano.
Aquele lugarejo estava fadado a virar deserto. A deserção de seus moradores não estava predestinada somente por razões climáticas, mas também por que os governantes não cumpriam as promessas de campanhas eleitorais que eram de levar água àquele pequeno município.
O povo daquele lugareiro enchia-se de esperanças quando os politiqueiros diziam que não era assim tão difícil desviar parte do Rio São Francisco para regar as terras áridas daquela região, com isso, estavam, também, regando a ilusão inocente daqueles matutos com as águas demagógicas da sede de poder.
Com o passar do tempo, aquela situação foi piorando, e cada vez mais. O povoado de Brejo do Bufo definhava-se aos poucos. Seus moradores sabiam que o futuro era incerto, que era preciso procurar outro lugar para viverem e assim começou o êxodo, a debandada para os grandes centros urbanos.  Primeiro os mais jovens, depois os adultos com as crianças; só os mais idosos relutavam em se retirarem daquele agreste recanto.
Quem se aventurasse ir a Brejo do Bufo certamente ficaria com uma gastura terrível, pois, depararia com uma cidadezinha totalmente arruinada: a fabriqueta de tijolos, demolida; a igreja, abandonada aos répteis; a única escola, às moscas; no posto de gasolina, nem uma gota de combustível. Até o prefeito abandonara o Paço Municipal há muito tempo para trabalhar na capital recifense de balconista numa loja de roupas feitas.
Depois que quase todo mundo se retirou de Brejo do Bufo os dois velhos amigos se encontram novamente;
  Agora Batoré, num dianta chuvê mais! Pra quê? Si todo mundo foi simbora!
- Oxente, pois num é? Só restô nós dois!  Vamu simbora tombém, Biu! E ainda dizem qui os úrtimo são os premero, mais nesse caso os úrtimo são os úrtimo mesmo!... 

Autor: Jair Pereira da Silva - Pilar do Sul/SP

Página do autor:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=80646


4 comentários:

Anônimo disse...

As pernas vão adiante, mas o coração permanece para sempre no rincão em que se criou raízes. A dor de ir "simbora" certamente não tem tamanho. Até os "úrtimos" se vão. Ficar para fazer o quê? Um conto que conta dessas agonias... Parabéns ao autor/autora. Marina Alves.

Helena Frenzel disse...

Sem água ninguém vive, não é não? Nem mandacaru :-) Saudações ao autor ou à autora :-)

Maria Mineira disse...

Achei muito bom o título do conto e depois o desenrolar da história. Concordo com as minhas comadres. O coração fica onde a gente vivei a infãncia, mas sem água não há vida. Parabéns ao(a) autor(a) !

Anônimo disse...

Não havendo água,não haverá vida.Certamente,será um lugar morto.ÀS vezes, o desmoralizador deixa de ser apenas adjetivo e figura também dentro de um entendimento de sujeito indeterminado,em que o conto nos mostra uma linha de preocupação da pessoa como leitor e outro totalmente perdido em meio a dor e ausência de ir ,ou ficar.Parabéns...