Autor: Rangel Alves da Costa
Depois
de mais de mil anos de intenso e contínuo trabalho, arqueólogos da Universidade
de Cardamore, em Sless-Heim, enfim encontraram vestígios daquilo que possa ser
a prova definitiva de que algum dia o amor existiu.
Os
vestígios arqueológicos, consistindo estes num manuscrito e num disco de
Roberto Carlos da década de 70, podem ser as evidências mais consistentes encontradas
até o presente momento acerca desse sentimento que todos discutiam sobre sua
existência, porém sem jamais ter sido possível provar.
Fato
instigante no importantíssimo achado diz respeito à presença do disco de
Roberto Carlos no local. Certamente que não houve necessidade de datar esse
achado com carbono-14, como fizeram com o manuscrito, mas evidenciou-se a
eternização e até imortalidade de sua música, bem como a certeza de que esse
Roberto Carlos que está aí já preexistia na figura de romântico rei desde os
primórdios da humanidade.
Já
o manuscrito, um frágil documento pré-histórico escrito por cima de um misto de
argila e papiro, continha mais símbolos, desenhos e figuras, do que
propriamente palavras. Na verdade, era apenas uma curta frase abaixo das
ilustrações, de modo direto e lacônico: Sim, ele existiu. E como foi bom ele
ter existido!
Ora,
mas o que existiu e foi bom que ele tivesse existido? A resposta logicamente
somente poderia ser deduzida a partir da análise das ilustrações, e por tal meio
até que poderia ser fácil demais, depreendendo-se rapidamente o seu
significado, pois os tais símbolos, desenhos e figuras representavam, dentre
outras coisas, corações pulsando, lábios se beijando, corações entrecortados
por setas e lágrimas descendo do olhar.
O
amor, não se poderia imaginar outra coisa senão o amor. Estava tudo ali
representado: o namoro, a união, a troca de carícias, a paixão, o desejo, o
querer, o impulso, mas também talvez o sofrimento, a dor amorosa, a perda do
amado, o adeus, a despedida. E nada mais compreensível que seja assim, pois ali
estava o beijo, o coração e a lágrima. E o amor é afeição, mas descontentamento
também.
Contudo,
os arqueólogos responsáveis pela descoberta não deixaram de demonstrar uma
pontinha de descontentamento, vez que desde o início das investigações – há
mais de mil anos atrás, reafirme-se – a pretensão maior era encontrar vestígios
não só do amor romântico, mas também e principalmente do amor fraternal,
cordial, sentimento maior que sempre se imaginou existir no coração das
pessoas. Não lograram êxito neste sentido, infelizmente.
Por
anos e anos, desde a mais tenra idade dos tempos, sábios, filósofos, videntes,
magos e toda uma leva de estudiosos do comportamento humano, tentavam encontrar
alguma evidência plausível da existência das diversas formas de amor entre os
seres humanos. O que mais instigava é que não havia mais dúvida da existência
desse grandioso sentimento nos animais ditos irracionais. Mas nas pessoas
sempre foi difícil fazer tal reconhecimento.
Quanto
mais o tempo passava, o progresso chegava, a vida se tornava mais fácil para os
humanos, mais se tornava difícil encontrar o amor nas relações sociais e até
familiares, no convívio que deveria ser amigável por natureza, no passo de cada
um perante a vida. E chegou um tempo que a violência, a brutalidade, o
desrespeito ao próximo e as crescentes discriminações existentes, acabaram por
deixar os pesquisadores sem qualquer esperança.
Contudo,
como a ciência jamais silencia ou se esconde diante daquilo que quer provar, e
depois de muita luta em busca de patrocínio para a continuidade dos trabalhos
arqueológicos, os pesquisadores da Universidade de Cardamore encontraram,
enfim, parte das explicações que desejavam: o amor ainda existe, ao menos
diante dos vestígios encontrados, o manuscrito e o disco de Roberto Carlos. Mas
apenas o amor amoroso, infelizmente.
Segundo
a Revista Científica “Amarcord”, o passo seguinte dos pesquisadores – e talvez
o mais difícil – será descobrir porque desde o início dos tempos os enamorados
já cantavam “Não adianta nem tentar me esquecer/ Durante muito tempo em sua
vida eu vou viver...”.
Autor: Rangel Alves da Costa - Aracaju/SE
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
Publicações autorizadas pelos autores
Um comentário:
Julgo de essencial importância, tal constatação. E tem mais, Roberto não poderia ser só esse. Sou fã dele e da imortalidade de sua música que canta o amor através do tempo. Parabéns pelo lindo texto. Marina Alves.
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