Autor: Jair Pereira da Silva
No decorrer da história, acontecem consideráveis e diversificadas alterações em todas as regiões do globo terrestre desde que o mundo é mundo. Um dos fatos mais preocupantes ocorreu no Nordeste Brasileiro no final do século XX, mais precisamente nas décadas de oitenta e noventa e ainda vem ocorrendo até aos dias de hoje: fuga pra capital. Isto mesmo! Fuga pra capital e não “fuga de capital” como você pode estar pensando.
Brejo das Pedras era um lugarejo escondido lá no agreste pernambucano.
Para se gerar uma ideia da lonjura, situava-se nas proximidades do município de
Verdejantes que dista 570 km do Recife indo pela BR232.
Naquela cidadezinha, a exemplo de tantas e tantas outras existentes por
este Brasil adentro, os politiqueiros anunciavam feitos mirabolantes, (e o
fazem até hoje), que nunca foram efetivados. Para entrarem ou se firmarem no
poder, prometiam, de uma forma ou outra, levar meios àquela localidade para
minimizar o sofrimento provocado pela fome de comida, de educação, de saúde, de
lazer, enfim, de felicidade aos eleitores, o que jamais fora cumprido.
Com as bruscas mudanças climáticas provocadas pelas queimadas e
desmatamentos irregulares; com a escassez das chuvas; com os pequenos rebanhos
de bovinos e caprinos sucumbindo de sede e as plantações de subsistência
esturricando, não restou, àquele sofrido povo, qualquer alternativa senão
abandonar o berço onde nasceram. Primeiro os rapazes e as moças, em seguida as
crianças e depois todo o mundo, com exceção dum casal de velhos que teimavam em
não abandonar a choupana de pau-a-pique recoberta de sapé, a qual eles
construíram com o suor do rosto e com sangue de mãos calejadas...
Dois agentes de saúde, obstinados em cumprir a árdua missão, depararam
com aquele rincão totalmente em ruínas: a escola era somente escombros, a
igreja não possuía mais nem a cruz que acusava, ao longe, a existência da casa
de Deus, do posto de combustível, que era chamado de “Cadeira de Gigante”, não
restou nem a fachada, enfim, parecia uma cidade fantasma, só não era porque os
abnegados funcionários públicos descobriram numa tapera os idosos que se
encontravam num estado de penúria que dava dó.
Penalizados com a lamentável situação em que se encontravam, foram
convidados a se retirarem dali, todavia, teimosos como jumentos, queriam findar
seus dias naquele cafundó.
Contrariando a vontade daqueles humildes sertanejos, os agentes
comunitários de saúde entraram em contato com a respectiva Secretaria, no que
foram orientados para não importuná-los, pois, cada qual tem o direito de
decidir o próprio destino, e assim, contrariando a vontade de todos, inclusive
a nossa, aqueles dois “molambos” foram os únicos que não empreenderam “fuga pra
capital”, os únicos de Brejo das pedras que não se retiraram pra cidade grande,
perecendo ali; pobres e esquecidos.Autor: Jair Pereira da Silva - Pilar do Sul/SP
Página do autor:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=80646
3 comentários:
A fuga pras grandes cidades é um fenômeno com o qual convivemos há anos. Falta incentivo para a vida no campo, o que faz com que muitos abandonem seus rincões em busca da ilusão das grandes cidades. Parabéns ao autor do texto que focou uma realidade preocupante deste País. Marina Alves.
Lembrei de Os Últimos e a fuga para a capital é um fenônemo mais corriqueiro do que se imagina. Nem diria fuga, pois para muitos é como deixar a panela para logo em seguida cair no fogo, um fogo eterno que só não queima o couro dos políticos cara-de-pau.
Faço minhas as palavras de Helena e Marina Alves. Parabéns ao autor!
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