Afrânio de Castro, artista de muito
talento, multimídia, mas irreverente e genial, que depois de sua morte por
afogamento, teve seu nome dado à uma galeria de arte criada pela extinta
Fundação Cultural do Amazonas na parte inferior da Academia Amazonense de
Letras. Ele era meio marginalizado entre outros artistas por ser dado ao vício
incontrolável da bebida e pelas suas irreverências nem sempre apropriadas para
os locais em que se encontrava.
Pintava divinamente bem; e escrevia
poemas também. Em face de seu incotrolável humor, uma vez foi “expulso do
Caldeira”. Mas todos os dias por lá passava; chagava em frente e olhava para
dentro, pela janela, quando via com tristeza, seus antigos companheiros bebendo
e se divertindo. Os quadros que pintava sempre lhes estavam acompanhando!
Em razão disso, bolou um plano que
lhe pareceu infalível: olhou pela janela do bar, como sempre fazia todos os
dias, e gritou: “quem não for corno aqui, olhe pra mim e dê uma sorriso”. A voz
forte do artista ressou dentro do bar e todos olharam-no e sorriram.
Afrânio de Castro pulou pela mesma
janela, abriu os braços, começou a abraçar um a um os seus antigos companheiros
e gritava como um louco: “viva! viva! Estou readmitido! Estou readmitido!,” e
não cabia em contentamento!
Sentou em uma mesa, mesmo sem ser
convidado, pediu cerveja e copo, e começou a servir à pessoa que estava a seu
lado, que nem sabia com quem estava lidando.
Uma noite, lá pelos anos 80, a União
Brasileira de Escritores do Amazonas promoveu no Teatro Amazonas, “A Noite dos
Poetas ao Vivo”. Cada poeta declamaria um poema. mas Afrânio de Castro não foi
convidado.
- Carlos Costa, você me cede sua vez para que eu vá ao palco? – perguntou-me. Já sabendo o que Afrânio de Castro, chamado também pelo apelido de “O Troglodita”, em função de sua forte voz iria fazer, não aceitei a proposta. Declamei meu poema político, em plena época da Ditadura Militar!
O artista ficou chateado e saiu para
beber, terminando na Praia da Ponta Negra, um bonito mas poluído balneário de
Manaus. Bebeu todas e mais outras e foi encontrado no dia seguinte morto,
afogado, na Praia da Ponta Negra. Teria tentado nadar e não conseguiu, essa fora
a explicação oficial dada para sua prematura morte, com pouco menos de 40 anos.
Não fiquei com qualquer remorso pois
Afânio de Castro tinha um discurso pronto para “esculhambar” o presidente da
UBE, Jayme Pereira, de quem eu era muito amigo, inclusive de frequentar sua
casa. Afrânio também se intitulava “um poeta genial”.
Depois da morte do artista que, em
vida, “vendia” seus quadros para o advogado Aristhofanes de Castro, que nutria
uma admiração pelo seu trabalho e chegavam a ter algum grau de parentesco
também. Hoje a família do advogado possui a maior coleção de quadros de
Afrânio, conforme dizem os amigos.
Isso quando vendia porque na maioria
das vezes passava no escritório do advogado, pedia “dinheiro emprestado” e
deixava um quadro, dizendo com sua voz forte: “quando vier pagar o “empréstimo”
levarei meu quadro”. Nunca voltava! O advogado estava até acostumado com seus
“pedidos de empréstimo”.
Era o jeito irreverente e irrascível de um grande talento, que se negava
à mesmice!
Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Blog do autor: http://carloscostajornalismo.blogspot.com/
Publicação autorizada pelo autor
2 comentários:
Que história! Parece mesmo coisa do destino...
Olá Carlos, vi seu link no blog da Celêdian,e vim conhecer seu blog. Li a apresentação do teu livro e gostei imenso. Desejo muito sucesso pra ti.
Grande abraço!
Postar um comentário