Hoje, porém, sucedeu uma coisa terrível. O prefeito da cidade comprou uma fazenda que divide trezentas braças de cerca com o sítio de João e não é que choveu nos mil e tantos hectares de terras do alcaide e quando a chuva se aproximou da cerca do pobre matuto se evaporou de repente. Sim, isso mesmo, as nuvens foram embora sem molhar sequer o juazeiro que sombreia sua casa.
Revoltado, o homem pegou uma espingarda soca-soca, cuspiu no terreiro de casa, olhou para o céu, apontou a arma e largou o dedo no gatilho. O tiro ecoou mundo afora, mas diz a vizinhança que se ouviu João Catunda bradar: “eita São José cabra safado, bajulador de prefeito”. Alzira, sua mulher, ficou desesperada, tomou a espingarda do marido e botou ele dentro de casa. Mal fecharam as portas, caiu uma chuva de granizo, quebrando as telhas da casa de Catunda. Ligeira, a mulher se apegou com o terço e começou a rezar engolindo palavras e soluços. João, desorientado, correu para o terreiro, olhou para o céu e gritou: “eu pensei que só tinha doido aqui na terra. Pare com isso, homem!”.
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