Autor: Dilemar Costa Santos
Você sabe, por acaso, onde fica Brejo Santo? Alarico perguntou a um homem, ao chegar em Altamira - Cidade muito bem falada -, que se situa no interior de Pernambuco. Ele disse:
Você sabe, por acaso, onde fica Brejo Santo? Alarico perguntou a um homem, ao chegar em Altamira - Cidade muito bem falada -, que se situa no interior de Pernambuco. Ele disse:
Sei não, mas já vi falar. Dizem que era no agreste, e que acabou-se por causa da ganância de uma famíla de “graúdos”, que era dona de quase
tudo, e queria mais. O sinhô
percure na Bomba de Gasolina,
que eles lhe informa.
Alarico foi até o Posto. Um caboclo,
que estava de cócoras, na sombra de uma gameleira, pitando um cigarro de fumo
de rolo, puxou uma baforada e falou:
Vá dizendo moço.
Alarico fez a mesma pergunta. O
Caboclo, respondeu:
Já passei por lá, mas hoje em dia é
uma tapera. O sinhô queria o que por essas bandas?
Alarico respondeu:
Quero conhecer o Lugar, para poder
contar.
Então o Caboclo se levantou, deu uma
espriguiçadela, botou o chapéu de couro de bode na cabeça, e disse:
Eu lhe levo lá por cinqüenta conto (cinqüenta reais). O sinhô aluga a caminhonete do Vadim, e nóis vamo. Eu conheço um véio de nome Severino que ainda mora lá, e sabe lhe
contar tudo. Tim, tim, por tim, tim.
O Alarico disse:
Eu topo. Vá chamar oVadim.
Em pouco tempo Vadim chegou. Ouviu a
proposta, disse que era longe. Mas acertaram o frete, e partiram.
Ao final da tarde, após percorrer
uma estrada poeirenta, Vadim apontou um pé de serra, e disse: estamos chegando.
Olha lá!
Então chegaram e entraram na Cidade
Fantasma!
Umas crianças barrigudinhas, com os
narizes correndo, se achegaram, estenderam as mãos, e pediram:
A bença,
seu home...
Deus lhes abençoe, respondeu
Alarico. Levou a mão ao bolso, pegou algumas moedas, molhou as mãos estendidas.
Deu uma olhada para o desbotamento e
abandono da Cidade, ficou impressionado. Era mesmo uma tapera!
Vamos, vamos logo pessoal; vamos
falar com seu Severino.
Seu Severino encontrava-se sentado
num banco de madeira, frente á casa modesta onde morava.
Alarico, mais o Caboclo e Vadim, se
dirigiram ao velho, o saudaram:
Tarde, seu Severino. Este respondeu,
acrescentando:
Cheguem prá adiante. Se assentem. O que desejam de
mim?
Dizem que o senhor sabe de tudo o
que se passou aqui em Brejo Santo. Eu venho de longe para conhecer a história
desta Cidade. O senhor pode nos contar, indagou o Visitante.
Prá que? Em todo o caso entrem, foi
a resposta.
Adentraram no casebre, tomaram
assento e aguardaram.
O velho Severino se sentou num
pranchão próximo da janela, coçou a barba, começou a contar, que fora o Juiz de
Paz do Lugar, por muito tempo. Que conheceu muito a família dos Gregorios, os
que deram causa para a derrocada da Cidade. Eles eram muito ambiciosos, donos
de quase tudo. Os mais velhos sempre diziam que eles parassem de querer mexer
com a nascente do Brejo, porque nela morava uma Jia, que era filha da Mãe
D´água. Mas o Coronel Gregório Brauna, não deu ouvido a ninguém. Mandou vir
umas máquinas, e meteram no brejo, procurando petróleo. Foi aí que estorou um jato
d´água nunca visto.
Pois bem, desse tempo em diante,
começou a morrer gente, dos mais velhos às crianças, e nunca parou.
O Governo mandou investigar.
Os técnicos e médicos, depois de
examinar uns que morreram naqueles dias, fizeram um laudo assegurando que todos
morreram envenenados por ARSÊNICO, um veneno fatal, e que vinha da água.
Era a única água que servia a Brejo
Santo.
O Governo mandou que imediatamente
as máquinas aterrassem o brejo, e ficou tudo seco.
Presentemente, os poucos que ficaram
só bebem água da chuva, vivem de aposentadoria, criam umas besteiras de
bichinhos, e o medo não deixa chegar mais ninguém.
Os poucos que moram aqui, tão
cansados de ver o povo que morreu, andando em procissão, á noite, rezando pela
Jia. Eu mesmo já vi muita coisa, mas me apego com São José, sou de Jesus, sei
que vou ir mais cedo ou mais tarde. Por isso, não tenho medo. E agora os
senhores me dêem licença que quero ir dormir.
Muito obrigado, seu Severino. Fique
com Deus, boa-noite.
Autor: Dilemar Costa Santos - Ipirá/BA
Autor: Dilemar Costa Santos - Ipirá/BA
3 comentários:
Excelente texto, parabéns ao autor ou a autora.
Vai bulir com quem tá 'queto' olha só no que dá rsrs... A Jia tava lá no cantinho dela sem amolar ninguém, não era? Então... Cumprimentos ao autor ou autora. Marina Alves.
Eita Jia vingativa!! Boa versão :-)
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