Autora: Marina Alves
De repente, ele pula de
uma moita de capim, às margens do caminho. Susto! Mas daí, vejo que está pra
brincadeira e fica tudo bem. Feioooso! Sujiiinho! Rio dele, ou de mim para mim:
aqueles “trajes” são só seu uniforme de rua. Porque é na rua que mora, vê-se
logo.
Simpatia recíproca!
Destas que não se explicam. Não posso perder o ritmo da caminhada. Mas ele me
acompanha. Faz mil gracinhas à minha volta como se inventasse brincadeiras para
me divertir. E nem quer saber o que penso sobre isso...
O que penso? Só coisa
boa. Adoro cães, e esse novo amigo aí, apesar da falta de banho e dos mil
carrapichos, é uma graça. Orelhas e cauda abanam alegremente. E os olhos me
dizem da alegria de ter me encontrado. Vá lá se saber por quê...
Vamos juntos pelo
caminho que, por sinal, é loooonnnnnngo! Ele corre um pouquinho à frente. Para,
olha pra trás. Certifica-se de que ainda estou por ali. Vê coisas que lhe
chamam a atenção. Para aqui, para ali fazendo breves checagens, igualzinho a
qualquer cachorro... Desfeita a curiosidade volta correndo, se emparelha e
segue comigo.
Chi! Perigo à vista! Um
cachorrão preto sai de uma construção. Instintivamente meu simpático
“Sujismundo” se põe ao meu lado. Em atitude de defesa, rosna e mostra dentes
nada amigáveis como quem late “Vai encarar?”. Mas o pretão não vai encarar de
jeito nenhum! Não é bobo nem nada e some logo da área...
Meu novo amigo parece me
conhecer desde os tempos da caverna. De onde essa intimidade, essa identidade?
Sei lá. Também que diferença faz? Os animais são assim mesmo. Para eles as
coisas são como são: simples. O ser humano, sim, é que tem a triste mania de
complicar tudo...
“Sujismundo” me acompanha até a casa. E agora?
Será que entra? Abro o portão e vejo-o meio indeciso. Seu olhar faz uma
sondagem entre a nova amiga e a rua. Sei que é um cão acostumado à liberdade.
Sei também o que lhe pesaria o mundinho restrito de um canil ou de um pequeno
quintal.
Faço menção de fechar o
portão. Ai, que momento difícil! Mas ele escolhe. Sai correndo pelo caminho em que
veio, vai atrás do próprio faro. Talvez volte exatamente para as imediações de
onde o encontrei, talvez não... Seu mundo não tem limites. Não sei se tornarei a vê-lo. Mas em suas
filosofias caninas, quem sabe ele vá pensando “Ah, ela bem que podia morar na
rua...”.
Autora: Marina Alves - Lagoa da Prata/MG
Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=64920
Publicação autorizada pela autora
Autora: Marina Alves - Lagoa da Prata/MG
Página da autora:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=64920
Publicação autorizada pela autora
5 comentários:
Ótima percepção, amiga. Uma maneira diferente de ver um animal, no entanto realçando o comportamento amigável do animal.
Ai, que delícia de texto!
Alice Gomes
Obrigada, Carlos, por abrigar minhas modestas letras por aqui. Obrigada aos leitores. Marina Alves.
Parabéns Marina, delicioso seu texto...Temos que aplaudir!
Parabéns Marina. Uma bela história. Chega a emocionar.
Abraços fraternos.
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